Crítica: A Colina Escarlate

Não se aproxime

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Guillermo del Toro é um nome muito querido pelos fãs de cultura pop. Toda vez que seu nome é relacionado a algum projeto, de pequena ou grande escala (vide o Hobbit antes de seu lançamento), cria-se um furor em torno. A questão é: porquê?

Blade 2 e os dois Hellboy lhe deram trânsito dentro de Hollywood, mesmo com os dois primeiros tendo qualidade apenas razoável. Círculo de Fogo, embora seja um bom filme, é para um público muito específico. Tanto que rendeu pouco e preocupou aquele que investiram no diretor. Isso porque ele já havia tratado de estabelecer boas credenciais autorais com o Labirinto do Fauno. Mas o fato é que Del Toro alterna boas produções e produções questionáveis. A Colina Escarlate, infelizmente, se enquadra na segunda categoria.

Algumas considerações: Del Toro tem uma boa equipe de arte, com fotografia de Dan Laustsen e trilha sonora de Fernando Velázquez. Trabalhando com eles, Del Toro criou uma obra que é visualmente e sonoramente belíssima. A estética que permeia o filme enche os olhos e ouvidos, desde os momentos menos intensos do primeiro ato do filme até a chegada à mansão onde ocorre o segundo ato, que é uma ode à todas as obras clássicas de terror envolvendo mansões mal-assombradas. É sim uma homenagem a esse gênero, mas Del Toro mantém no filme seu estilo, que é absolutamente distinto e reconhecível, o que, nestes tempos de tantas obras pasteurizadas, é algo a se louvar.

Mas, quando se vai para além das questões estéticas, Colina Escarlate é uma obra problemática, por vários motivos. O primeiro: indecisão. O filme não sabe o que é: terror, romance, um drama histórico… Fica por conta do espectador decidir o que gosta mais na trama. Ou, no caso, o que estranha menos. O filme se passa no início do século XX, com a filha (Mia Wasikowska) de um rico empresário americano (Jim Beaver), que representam a pujança americana que começava nesse período, flertando com um cativante, porém desesperado, nobre inglês (Tom Hiddleston) que é inseparável de sua misteriosa e soturna irmã (Jessica Chastain), representando a decadência da classe nobre inglesa ao final de sua era vitoriana. Após uma série de estranhos eventos e motivações, o nobre inglês se casa com a rica americana, levando-a para a sua lúgubre mansão, onde bizarros acontecimentos desafiarão a sanidade da jovem ianque.

A Colina Escarlate
A Colina Escarlate | Imagem: Universal Pictures

A premissa, parece incrível, mas sua realização decepciona. O filme não tem ritmo, e, para uma obra que se pretende ser, ao menos parcialmente, de terror/suspense, isso é fatal. Embora, em termos de tempo, ele seja igualmente dividido entre primeiro e segundo ato, a primeira parte parece muito maior, porque o filme se arrasta em uma tentativa de aprofundar a personalidade da protagonista enquanto tenta trabalhar os mistérios que se desenrolam na trama. Mas o problema maior ainda estaria por vir: a dita Colina Escarlate. Após um primeiro ato mais permeado por romance e drama, subentendia-se no filme que o terror e o suspense começariam ali. Del Toro bem que tenta. Mas falha.

Como dito anteriormente, a obra é visualmente bela e os cenários da mansão são obviamente feitos com esmero. Mas a história que se desenvolve ali não sustenta a intensidade desse visual. Como tenta justificar a protagonista no início do filme, ao se referir ao seu livro, é “não é uma história de fantasmas, é uma história com fantasmas”. Porém, conforme o filme vai se estendendo, mas não se desenvolvendo, isso começa a parecer mais uma desculpa e menos uma auto-referência metalinguística. Porque tudo começa a parecer sem sentido e frívolo, principalmente conforme os tais fantasmas começam a se apresentar com mais frequência. De fato, os próprios fantasmas, que deveriam se encarregar da parte dos sustos, acabam prejudicando: sua movimentação e expressão, que ficam a encargo do sempre ótimo parceiro de Del Toro, Doug Jones, são assustadoras, mas os efeitos especiais são demasiadamente plásticos, tirando qualquer aura de medo que eles pudessem projetar. E os atores, que poderiam segurar essa bagunça para Del Toro, não dão conta.

Tom Hiddleston, intérprete de Sir Sharpe, está apenas regular. Seu tipo inglês pós-vitoriano é convincente de início, até encantador, mas esse efeito vai se perdendo conforme o filme se envereda pelo sobrenatural. Muito pouco para quem desfila toda sua capacidade na maravilhosa adaptação de Henrique V da BBC. Já Mia Wasikowska simplesmente não convence. Não tem como distinguir sua Edith Cushing de sua Alice, e sua Alice já era qualquer coisa. Até que se prove o contrário, ela é, de fato, apenas um rostinho bonito. A grande decepção fica por conta de Jessica Chastain. Para alguém cujo Oscar começa a esquentar, sua atuação em Colina é um sério ponto contra. Não é apenas que sua personagem é insossa e desnecessária. Conforme o filme se aproxima do fim, ela se torna até mesmo caricata, chegando a prejudicar quase por conta própria todo o desfecho do filme, não fosse a inexpressão da própria Wasikowska.

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A Colina Escarlate | Imagem: Universal Pictures

Colina Escarlate é um filme dispensável. Se durasse 15 minutos a mais, poderia até mesmo se tornar ridículo. Del Toro já mostrou ao mundo que pode ser um bom diretor, principalmente com o Labirinto, mas sua insistência em atirar para todos os lados, tanto em termos de indústria quanto de estilo, podem acabar lhe custando seu crédito. Talvez fosse melhor para ele sentar e pensar bem no seu próximo projeto, para nos entregar algo digno de um grande diretor.

Mais Labirintos, menos Colinas.

Veja a ficha técnica e elenco completo de Colina Escarlate

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