Crítica | A Torre Negra

Quando a pressa desperdiça o potencial

0
5985

A Torre Nega, saga literária de 8 livros escrita por Stephen King, possui uma trama complexa e minimamente desenvolvida. Talvez por isso, ainda não haviam tentando adaptar essa extensa saga para os cinemas, até agora, quando a Sony finalmente resolveu se aventurar por esse detalhado mundo desenvolvido por King.

E assim, a empresa provou que de fato esse enredo deveria ter ficado apenas nos livros. A Torre Negra (The Black Tower), não chega a ser uma produção ruim, mas deixa um enorme sentimento de que havia muito mais a ser explorado. Em poucas palavras, o longa representa exatamente o que seria se Stephen King voltasse a escrever obras com 200 páginas. Com a difícil missão de apresentar um novo mundo e personagens bem únicos e que necessitam de uma boa explicação, o longa acaba ficando muito raso e por ter uma curta duração, acaba entregando o desfecho no momento em que começa a explorar mais seu universo, terminando tudo às pressas.

O roteiro entrega uma trama que explora outros mundos, onde a Torre Negra fica no centro de todos e caso seja destruída, monstros irão invadir os outros mundo. E esse é o objetivo do Homem de Preto (Matthew McConaughey), o líder dos homens sem rosto e mestre em magia que descobriu que usando crianças consegue quebrar aos poucos a torre. Roland (Idis Elba), o último dos Pistoleiros, é o único que consegue evitar essa ameaça. Quem acaba ajudando é Jake Chambers (Tom Taylor), um garoto do nosso mundo considerado louco por ter sonhos com o Pistoleiro e o Homem de Preto, até o dia que consegue passar pelo portal e decide procurar por Roland para descobrir o motivo dos seus sonhos.

Um dos problemas mais comuns com as adaptações é tentar prolongar mais do que deveria e colocar continuações onde não há necessidade. Ironicamente, A Torre Negra tenta fazer o oposto à regra e adaptar a trama em apenas um filme e é exatamente aí que fica o problema. Por se basear principalmente na introdução da saga, a produção se divide em praticamente em duas partes: a explicação e o desfecho, que resultam em um longo tempo explicando esse novo mundo criado por King e um final apressado, com a obrigação de finalizar o que foi proposto. Com isso, não há tempo para simpatizar com os personagens, se identificar com a história e nem mesmo entender os motivos do vilão, apenas se torna um filme raso que entrega uma premissa diferente, mas sem envolvimento.

Crítica | A Torre Negra 1
A Torre Negra Homem de Preto e Pistoleiro | Imagem: Sony Pictures

Visualmente, a obra funciona. A ambientação é convincente e a caracterização dos personagens foi bem entregue. Há cenas de ação, geralmente em uma sequência que envolve o Pistoleiro, que conseguem entreter o público por toda a sua extensão, porém há algumas que não funcionam tão bem e entre altos e baixos o longa se desenvolve.

O mau desenvolvimento dos personagens não afetas as atuações dos ótimos protagonistas, Elba e McConaughey trabalham muito bem com o que foi proposto, principalmente o segundo que entrega um vilão diferente e não demonstra dificuldades nesse papel que foge do seu comum, porém, por não terem tempo de evoluir em tela, acaba ficando monótonos e fica visível que havia espaço para explorar esses nomes de peso.

Crítica | A Torre Negra 2
Matthew McConaughey como vilão em A Torre Negra | Imagem: Sony Pictures

Falta ousadia no roteiro que se propõe a adaptar um autor conhecido por ousar. Inserir apenas cenas impressionantes em alguns pontos não basta para fazer o filme andar e é gritante o quanto do potencial que foi desperdiçado por isso. Talvez o erro esteja exatamente em tentar adaptar algo tão grande em uma obra tão pequena, que nem ao menos deixa uma brecha para continuação. Criar mundos inteiros apenas para usar por menos de duas horas e jogar dois atores muito bem conceituados no momento em algo que é baseado em um autor renomado, parece absurdo e, nesse caso, investir em trilogias ou séries televisivas provavelmente teria funcionado melhor, visto que daria mais tempo para desenvolver e conectar o público ao novo mundo e personagens.

Mesmo com seus defeitos, a produção tenta agradar aos leitores e não leitores da obra original e é notável o trabalho feito ao tentar explicar o melhor possível a proposta de Stephen King e manter o máximo da ambientação característica das adaptações do autor. Referências são encontradas em vários momentos, com livros do autor em prateleiras, um letreiro antigo escrito “Pennywise”, uma foto do Hotel Overlook (de O Iluminado) e outros momentos realmente consegue brilhar os olhos dos fãs, mas, infelizmente, não bastam para compensar o roteiro despretensioso.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por Favor insira seu nome aqui