Como funciona a distribuição de uma produção audiovisual?

Barbara Sturm, Diretora de Conteúdo e Vendas da Elo Company, explica como funciona a distribuição de obras no Brasil

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Muito se aprende sobre escrever roteiros, formatar um projeto e até mesmo modelos de vendas. Mas pouco se sabe sobre como distribuir seu filme ou série depois de pronto. Barbara Sturm, diretora de conteúdo e vendas da Elo Company, conversou com o Thunder Wave em entrevista exclusiva e conta um pouco de seu trabalho e como funciona o modelo de distribuição de obras audiovisuais no Brasil.

Sobre Barbara Sturm

Barbara Sturm atua no mercado de comercialização de filmes desde 2007, tendo passagem por empresas como a Pandora Filmes. Atualmente é diretora de conteúdo e vendas na Elo Company e descreve seu trabalho como “Faço a parte de encontrar os produtores do mercado e o que eles estão produzindo para trazer esses filmes para a Elo pensar na parte comercial de distribuição, de como gerar receitas com esse produto. Também sou responsável pelo departamento de vendas, que é apresentar esses produtos para os Players do mercado, que são os canais e as plataformas para realizar esses licenciamentos e parcerias.”

Como funciona o licenciamento e produção?

Barbara explica de maneira simples como funciona a questão do licenciamento e distribuição:

“O produto audiovisual, seja ele um curta, longa ou até uma série, tem duas propriedades, tem dois direitos associados a ele. O primeiro é o direito da história, o direito daqueles personagens, daquela narrativa, tudo que forma o roteiro. A ideia narrativa. Esses são os direitos que são do produtor, que é quem faz o filme e que continua com esse direito, até mesmo se for para fazer uma sequência. É a Propriedade Intelectual, como a gente chama. Para fazer um livro do filme, uma camiseta, uma mochila… tudo isso são os direitos de propriedade intelectual daquela obra, devidamente registrada.”

“Também tem um custo para você lançar um filme no cinema. Então quem vai pagar esse custo, quem vai pensar qual é esse custo e fazer toda essa operação de distribuir é o produtor. Ou entender qual o melhor canal para apresentar, se a apresentação deve ser feita antes ou depois de filmar a obra, qual o elenco pode agregar mais valor dentro desse projeto, que são coisas complementares ao projeto em si.”

Ela explica também a diferença entre vender os direitos e o licenciamento: “O direito da propriedade intelectual é do produtor, quando você faz um projeto original, bancado por um Player, você perde essa propriedade intelectual, ele fica com isso com todos os dados do projeto, a bilheteria do cinema, quantas pessoas assistiram. Quando você faz um filme e vende, está licenciando ele pro Player, você continua com a propriedade intelectual. O produtor e o player tem por x tempo, por x valor e por x exibições o direito exclusivo, normalmente, de exibir seu filme, sem poder falar nada sobre ele, nem mesmo o que gosta e o que não gosta nele.”

“E os outros direitos que o produto audiovisual tem são os direitos comerciais dentro do audiovisual, os direitos de comercialização audiovisual, que é você colocar ele dentro de lugares que o público acessa e que geram receitas. O cinema, por exemplo, que gera uma bilheteria”

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O trabalho do distribuidor

O responsável pela distribuição é quem vai pensar nas melhores estratégias para a obra alcançar o público desejado. Sturm explica com uma analogia simples: ” É um licenciamento, como se fosse um supermercado que vende um produto. E como que o produto chega até o supermercado? Ele precisa de um distribuidor.”

Ele também pensa na parte estratégica. “Vão lançar no cinema, vou gastar 100 mil reais ou 10 milhões de reais? A resposta é quanto o meu produto tem capacidade de fazer, cenários, comparações… Não vou lançar no cinema, vou direto para o canal de TV paga, VOD, TVOD, aí também vou fazer uma estratégia, também vou gastar um dinheiro para divulgar. Esse é um pouco o lugar do distribuidor.”

A distribuição da Elo Company

A empresa possui maneira própria de trabalhar: “A Elo tem uma Line-up de 20 filmes prontos ou em pós produção, 14 filmes sendo filmados e uns 10 filmes ainda captando recursos, mas com a maior parte do orçamento já captado. O meu trabalho, uma parte dele, é encontrar os produtores, saber quem está fazendo o quê e fazer essas relações. Então eu procuro e sou procurada por projetos em diferentes estágios. Normalmente a gente entra antes de ser filmado para poder fazer esse acompanhamento, fazemos um trabalho também que chama Doctoring Comercial, onde as equipes de conteúdo de vendas e de marketing leem um roteiro e dão um feedback das consequências comerciais e das escolhas artísticas, de forma sugestiva, pra ter essa noção, de análise de classificação indicativa, do ritmo da performance do mercado internacional, do foco que tem de festivais, esse perfil comercial que o projeto vai criando.”

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“Na Elo a gente trabalha a distribuição de filmes em que a empresa é o braço de produção, que tem a propriedade intelectual, que é todo o responsável por levantar o financiamento. Mas a maioria dos filmes que a gente trabalha são de produtores externos, que a gente tem essa relação de atendê-los e prestar esse serviço de distribuição e planejamento estratégico.”

A proposta da Elo Company

Um diferencial da empresa é investir em valores e diversidade nas suas produções. Segundo a diretora, “A Elo Company sempre trabalha com projetos que tenha algum tipo de diversidade. Ou são filmes produzidos fora do Eixo Rio/ São Paulo, ou é sobre mulheres, com mulheres diretoras ou em funções importantes, negros, racismo, LGBTQIA+, são primeiros filmes… Todos os filmes estão em algumas dessas caixinhas, independente do tamanho e do foco da distribuição.”

Destaques da Elo Company

A Elo Company vem lançando filmes originais que se destacaram nos últimos anos. O sucesso mais recente sendo o famoso Medida Provisória, filme de Lázaro Ramos que é um verdadeiro sucesso de bilheteria.

Mas há outros casos notáveis e Sturm cita “Ano passado a gente teve um filme brasileiro que foi o primeiro longa da Paraíba, Alice dos Anjos, que ganhou seis prêmios no 54º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro na estreia do diretor. O filme que é uma versão de Alice no País das Maravilhas no sertão, musical, com uma protagonista negra que será lançado esse ano nos cinemas.”

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Filme Alice dos Anjos/ Imagem: Elo Company

Modelo de trabalho da Elo Company

Para finalizar, Barbara explica o modelo de negócios da empresa: “O nosso modelo de negócios, a gente trabalha com uma porcentagem da distribuição das receitas que o filme tem em todas as mídias. Normalmente trabalhamos o mundo inteiro, entramos na distribuição antes de ser filmado, lemos o roteiro, o book, fazemos uma proposta de distribuição e temos uma porcentagem do que o filme vai vender lá na frente. Então começamos a trabalhar, a escrever em editais, por exemplo, o doctoring comercial e a gente se remunera dessas receitas.”

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