Sempre que um livro ganha uma adaptação cinematográfica algumas mudanças ocorrem, principalmente cortes. Em uma produção adaptada de uma obra de Dan Brown, que é muito detalhista em suas tramas, é de se esperar que muita coisa mude, porém Inferno mudou mais do que deveria, tirando a verdadeira graça da trama original.

-> Veja a crítica do filme e a resenha do livro 

Veja abaixo as principais mudanças do filme Inferno em relação ao livro.

*** Atenção! Contem spoilers do filme e do livro.***

1. A Sienna Simplificada

Sienna é um personagem misterioso e muito explorado na obra de Dan Brown, mas no filme acaba sendo bem simplificada. Além das poucas menções a sua inteligência, que aparecem apenas no recorte de jornal e nos inúmeros comentários sobre a idade em que leu ou pesquisou algo, Sienna, que no livro é constantemente descrita com “cabelos louros presos em um rabo de cavalo” acaba tendo cabelos castanhos, franja e sempre soltos na versão de Felicity Jones. Parece um detalhe irrelevante, porém o problema é que Sienna nunca mudava o penteado porque usava peruca para esconder o crânio raspando. Ela sofria de Eflúvio Telógeno, uma doença que causa queda de cabelo devido ao Estresse. Sua origem, longa e complicada, também foi muito simplificada no longa, sem mencionar seus problemas do passado.

E já que estamos falando de mudanças em personagens, vale mencionar que Elizabeth, descrita por Brown como “a mulher de cabelos prateados”, não tem nem mesmo um fio de cabelos grisalhos no filme.

2. O amor está no ar… mas não deveria!

Robert Langdon e Elizabeth Sinkey viveram uma história de amor no passado e deixam claro no filme que ainda estão apaixonados. Bom, na realidade os dois se viram pela primeira vez apenas quando a diretora contrata o professor na obra original, esse longo passado nunca existiu para Dan Brown. Parece que os produtores acharam estranha a vida de solteirão de Langdon e resolveram explorar um pouco seu lado amoroso nesse longa.

3. 2 em 1

Jonathan Ferris é quem no livro surge no batistério de San Giovanni alegando ser um representante da OMS. Ele diz estar ali para ajudar e banca a viagem de Langdon e Sienna, porém os dois desconfiam ao ver sintomas da doença nele, e depois de longas cenas com ele, é revelado que Jonathan na realidade faz parte de organização secreta chamada Consórcio e é abandonado pela dupla.

No filme, Ferris não existe, quem apresenta sintomas da doença é o próprio Langdon e quem assume seu papel na viagem é Christoph Bouchard, que também faz o papel do chefe da equipe da OMS, representado no livro por Christoph Brüder. Na obra original, Brüder era um agressivo agente que prestava serviço à Organização Mundial da Saúde e sua missão era capturar Langdon. Porém, no final acaba se aliando a ele e os dois trabalham junto para impedir a liberação do vírus.

Bouchard acumula funções e faz o papel dos dois, economizando atores no longa.

4. Ignazio se dá bem

Ignazio Busoni, o diretor da Basílica de Santa Maria del Fiore, também é conhecido como o Duomo na obra de Dan Brown, e acaba morrendo ao tentar proteger um artefato. No filme, ele apenas aparece no vídeo de segurança e aparentemente está bem e vivo em algum lugar por aí. Além disso, no livro ele também aparece nas visões do Langdon, passando uma mensagem ao professor.

5. Pistas mastigadas

Os livros de Dan Brown são marcados por investigações através de pistas, das quais são sempre bem detalhadas e demoradas. No filme, eles não desvendam quase nada, todas as pistas são jogadas rapidamente na tela, perdendo aquela graça da investigação. Isso inclui as charadas do vilão, que desde sua morte deixa várias pistas enigmáticas através de vídeos, bilhetes e notícias, no longa apenas o vídeo foi mostrado, sem as charadas.

Os caminhos que Langdon e Sienna passam também foram muito cortados, os poucos lugares que são mostrados no filme passam rapidamente, sendo que no livro sempre há um longo esforço e trabalho em equipe para passar por eles.

6. FS2080

Um detalhe que é completamente ignorado no filme, mas muito interessante no livro, é o codinome FS2080. Um personagem usa esse codinome e após algum tempo de pesquisa a dupla protagonista descobre ter relação com FM-2030. Essa é uma busca bem realista, que o leitor pode inclusive tentar fazer. Pode ir pesquisar e depois retomar esse texto.

Descobriu? FM-2030 é como é conhecido Fereidoun M. Esfandiary, esse numero vem das iniciais (F.M) e o ano em que a pessoa iria fazer 100 anos (Fereidoun nasceu em 1930). Ele mudou seu nome legalmente para FM-2030, para enfatizar sua causa transumanista. Ele acreditava que os nomes tradicionais remetiam à mentalidade coletivista humana, por indicarem fatores como etnia, nacionalidade e religião, oriundos do passado tribalista da humanidade, e que levariam à criação de esteriótipos e discriminação.

Sua causa tem muita ligação com o assunto do livro, por isso o personagem usa sua técnica para fazer seu codinome e a partir daí, Langdon e Sienna conseguem descobrir a identidade da pessoa.

7. O fim de conto de fadas

A grande e mais gritante mudança do roteiro é o desfecho, completamente diferente do livro. Após uma luta típica de Hollywood, o time evita que Sienna e uns colegas liberem o vírus e ela acaba morrendo.

No livro nada acontece assim. Sienna acaba voltando para ajudar Langdon a tentar evitar a liberação do vírus, mas os dois descobrem que o vírus já tinha sido liberado há dias. E é aí que entra a parte mais interessante: a explicação do vírus.
Bertrand Zobrist defende a teoria de que a superpopulação irá destruir a Terra. Com isso em mente, todos os personagens acreditam que o vilão queria dizimar a população, porém o que ele liberou foi muito diferente, o vírus na realidade causa uma mutação nos genes, que tornaria um terço da população estéril. Faz sentido, afinal, ao dizimar a população Zobrist iria contra seu discurso de salvar o mundo, dessa maneira, o futuro estaria garantido.

Além disso, Sienna e Elizabeth acabam se juntando nos últimos parágrafos do livro para tentar achar uma cura, já que Sienna conhecia a fundo a mente do vilão.

Na minha opinião, o fim de Inferno, de Dan Brown é genial e grande diferencial da obra, ao tirar isso, o roteiro deixou o longa cair nas mesmice e se tornar bem cansativo e comum.


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