Consciência Negra | Queremos mais representatividade negra no audiovisual

A indústria audiovisual tem apostado em mais espaço para o protagonismo negro

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A representatividade é muito importante, pois mostra que dentro desse espaço ocupado por homens brancos, pessoas negras também podem ocupar posições de destaque. O filme Pantera Negra com bons números de bilheteria, chamou atenção para um tema muito atual: a representação negra no cinema. Tanto na telona, com um elenco majoritariamente negro composto por nomes como Boseman, Michael B. Jordan, Lupita Nyong, Danai Gurira, Angela Bassett e Sterling K. Brown, quanto por trás dela: o filme é dirigido por Ryan Coogler e tem designer de produção de Hannah Beachler (que participou do longa Moonlight: Sob a luz do luar e no disco potente e empoderado de Beyoncé, Lemonade), todos negros.

Além de mostrar representatividade na tela, o filme traz outros aspectos interessantes como a cultura africana, a força dos negros e das mulheres e ainda o conceito de afrofuturismo (movimento estético, cultural e político que unem ficção científica e mitologia africana com abuso de tecnologia). Tudo isso corrobora para promover mais inclusão racial e de gênero nas produções audiovisuais.

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T’Challa e Nakia / Reprodução Rachel Morrison – Disney

Na cena brasileira, temos a cineasta, roteirista, atriz e produtora carioca, Sabrina Fidalgo, que comenta sobre a necessidade de termos profissionais não só na frente das câmeras, mas atrás delas também. Para Fidalgo, falta conquistar espaço, principalmente no topo da cadeia evolutiva da criação. Não basta a presença negra na frente das câmeras, pois as decisões, a visão estética e as narrativas estão por detrás das câmeras.

Nessa pegada de representatividade negra no cinema nacional, os filmes produzidos por Sabrina Fidalgo já foram exibidos em mais de 300 festivais nacionais e internacionais com destaque para o curta-metragem ficcional Rainha, com a atriz Ana Flavia Cavalcanti, que interpreta Rita, uma jovem que sonha em ser rainha de bateria da escola de samba da sua comunidade e quando finalmente consegue, passa a enfrentar situações obscuras em sua vida.

Conversamos com a Sabrina sobre a importância dos negros no audiovisual. Confira!

Thunder Wave: Quais os maiores desafios que uma cineasta negra enfrenta no Brasil?

Sabrina Fidalgo: A estigmatização e o apagamento.

TW: Enquanto cineasta, como foi a sua trajetória? Qual foi o projeto que mais te emocionou?

SF: Minha trajetória vem de longe, começa com minha ancestralidade. Minha avó é poeta e contadora de histórias, meus pais foram os fundadores do Teatro Profissional do Negro e eu sou fruto disso tudo. O projeto que mais me emocionou foi o meu primeiro curta,  “Sonar 2006 – Special Report”, por ter sido a minha  primeira obra. Fiquei muito impactada quando vi o filme pronto.

TW: Na sua opinião, quais caminhos para termos um audiovisual mais inclusivo e democrático?

SF: Acho que tem que haver um diálogo aberto e amplo com a sociedade e com as empresas sobre esse assunto. E acho que as pessoas negras desse país devem cada vez mais se posicionar e exigir inclusão nas produções que consomem. Eu só consumo produtos que me representam, por exemplo. Acho que esse é um dos caminhos, mostrar o poder do nosso capital. 

TW: Como foi a experiência de ter sido a presidente do júri do Festival de Cinema de Gramado e qual a importância disso para a sociedade?

SF: Não foi fácil. Mas tive pessoas maravilhosas nessa composição de júri que me ajudaram muito, como por exemplo, o querido amigo e mestre Jeferson De. Acho importantíssimo que a sociedade se acostume cada vez mais com mulheres pretas em posições de poder. Ainda é pouco, mas a tendência é aumentar. 

TW: Você acredita que a presença de profissionais negros (atores, roteiristas, etc) esteja aumentando na indústria mainstream ou ainda falta conquistar mais espaço?

SF: Falta conquistar espaço, principalmente no topo da cadeia evolutiva da criação. Não basta a presença negra na frente das câmeras, pois as decisões, a visão estética e as narrativas estão por trás das câmeras. Infelizmente os profissionais negros ainda não ocupam essas posições de forma proporcional. 

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TW: Atualmente, enfrentamos uma pandemia que deixou mais evidente os problemas que afetam não só o Brasil, mas o mundo. Como o audiovisual pode driblar essa situação e trazer à tona o fato de que precisamos enxergar o próximo? Seja em questões raciais, de gênero, em termos de estrutura social, enfim, identificar as mazelas e mostrar que todo mundo importa.

SF: Não sei como o audiovisual pode driblar essa situação. Mas acredito que a diversidade de olhares e de narrativas pode sim conduzir a produções com histórias mais corajosas, mais autênticas e mais humanas.

TW: Para você, o cinema brasileiro é…?

SF: …ainda o prenúncio de algo incrível que só vai se concretizar de fato quando tiver uma cinematografia realmente democrática. 

TW: Qual o conselho que você daria para uma mulher negra que almeja posição de destaque no audiovisual?

SF: Eu diria a ela para acreditar muito em si e para seguir em frente sem fraquejar nas quedas. A vontade de potência tem que ser muito maior do que todos os desafios que surgirem no caminho.

O audiovisual vem se transformando e mostrando algumas mudanças bem significativas. No entanto, é dever do público dizer o que quer a partir do seu consumo cobrar publicamente, representação honesta de todas as formas. Precisamos ver mais pessoas negras, mais LGBTs, mais minorias – que são maioria – na frente e atrás das telas.

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