Crítica | A 200 metros

Um filme necessário para entender a delicada situação que divide palestinos e israelenses

O longa retrata a dura jornada de Mustafa, papel de Ali Suliman, um dos atores palestinos mais reconhecidos da atualidade, que interpreta um pai que mora a 200 metros de distância de sua família por conta de um muro que divide a Cisjordânia e Israel. Ele precisa de uma licença para transitar de um lugar para o outro, porém, por uma infelicidade ele acaba precisando renovar um documento sem o qual não pode permanecer em território israelense. Algo inesperado acontece com seu filho e ele precisa atravessar a fronteira e Mustafa tenta de todas as maneiras possíveis reencontrar a sua família. É um longa sensível e que transmite o terrível conflito entre Israel e Palestina. É uma trama super necessária e nos mostra o quanto ainda somos perversos com o próximo.

Para entender… Qual é a origem do conflito Israel x Palestina?

Crítica | A 200 metros 1
Mustafa e sua complicada jornada de atravessar para o outro lado / Reprodução

De acordo com uma matéria publicada pela BBC em 17 de maio deste ano, o conflito entre israelenses e palestinos já vem de um longo tempo e remete aos anos 40 e a questão ganho mais folego quando a comunidade internacional deu ao Reino Unido o dever de estabelecer um “lar nacional” na Palestina para o povo judeu após o fim da 2ª Guerra Mundial – como todos sabem, foi um momento negro da história mundial para todas as nações e durante esse período, ocorreu o HOLOCAUSTO que dizimou milhões de judeus, homossexuais, ciganos, Testemunhas de Jeová e outras minorias, a partir de um programa de extermínio sistemático implementado pelo partido nazista de Adolf Hitler. Com o Reino Unido controlando a área da Palestina após o Império turco Otomano que saiu derrotado da 1ª Guerra Mundial e desmembrado. Sendo assim, os palestinos deixaram de ser controlados pelos turco otomanos e passaram a ser controlados pelos britânicos. A região começou a ver o índice de habitantes judeus aumentar, pois muitos estavam fugindo da crescente perseguição na Europa e buscando por uma nova pátria após o Holocausto e isso foi incentivado pelo movimento nacionalista judaico que surgiu no século XIX, o sionismo, que tinha como objetivo um “Estado” para os judeus. Com isso, seria um retorno a terra prometida, território que comporta a maior parte da história judaica até o início da diáspora, ainda na antiguidade. Com o desenrolar da emigração judaica para a Palestina, a violência entre palestinos, judeus e britânicos começou a aumentar e os embates geraram muitas mortes. Com os horrores acontecidos durante o Holocausto e temendo que a violência aumentasse, a ONU decidiu que a Palestina fosse dividida em Estado Judeu e Estado Árabe, em 1947, com a Jerusalém como cidade internacional. Mas nem todo mundo saiu contente da história, a parte judaica aceitou o acordo, mas os árabes não. Muitos conflitos aconteceram e continuam acontecendo, pois se trata de uma questão que envolve domínio territorial, militar e – querendo ou não, envolve a questão da religião, pois ambos querem o domínio de Jerusalém que hoje é pleiteado por Israel. 

No longa, vemos que Mustafa vive a distância de sua família e uma forma de se comunicarem antes de dormir, é brincarem com a luz da área externa da casa. De um lado, na Cisjordânia, Mustafa pisca a luz para os filhos que estão do outro lado do muro, em Israel. Em 2002, o governo de Israel, sob o comando de Ariel Sharon (1928-2014) iniciou a construção de um muro na Cisjordânia que foi edificada sob a justificativa de proteger Israel dos ataques palestinos, separando assim as comunidades locais das áreas agricultáveis. Essa decisão foi duramente criticada pela comunidade internacional, mas mesmo assim, foi mantida e essa questão prejudica a todos os cidadãos que precisam ter acesso a trabalho, saúde… vida. Algo que vemos na fala de um dos personagens que se arrisca ao atravessar a fronteira de forma ilegal – escalado o muro ou sendo transportado no fundo de um porta-malas. E isso acontece muito e muitas vezes o resultado não é o que a pessoa espera.

Aspecto do Muro da Cisjordânia construído por Israel, em 2014
Muro que divide israelenses e palestinos / Reprodução Toda Matéria

Por ter uma temática complicada e triste, pois enfrentar essa realidade todos os dias não é fácil para ninguém. O longa tem uma fotografia meio azulada em momentos de desespero, mas por ser uma região bem solar, a luz natural equilibra o fardo de quem está enfrentando esse conflito de camarote. E mesmo nessa realidade perversa, eles encontram motivos para sorrir. É visível a força com que eles tentam atravessar essa questão, muita coisa é posta de lado como o orgulho, o medo… É um filme que põe o dedo na ferida e em certo ponto, Mustafa se desespera, desequilibra, pois o fato de cruzar a fronteira já é algo meio que normalizado e se você está uma emergência ou não, é indiferente, estão todos na merda. Nosso questionamento é? O mundo já passou por tanta coisa, tantos acontecimentos perversos, guerras e conflitos que dizimaram milhões e por qual razão esses povos ainda permanecem nesse conflito? Por que não apaziguar? Por que não permitir que todos vivam de forma decente, sem que precisem arriscar suas vidas num porta-mala de um carro ou escalar um muro? Por que obrigar milhares a cruzar uma fronteira dessa forma? Vivem em condições precárias e subumanas? Será que é isso que está escrito nos mandamentos sagrados que eles seguem? 

Filme 'A 200 Metros': onde assistir nos streamings - Ultraverso
Mustafa mora a 200 metros de distância de sua família separados por um muro / Reprodução

A trilha sonora trabalha de acordo com a fotografia e com as situações encaradas pelos personagens. Embora não tenha violência explícita, sangue e nada do gênero, o filme retrata uma violência, uma agressão à vida, ao direito de ir e vir, de pertencimento, ele te obriga a procurar meios – licença -, para poder ir e vir. A trilha sonora se encaixa perfeitamente nos momentos em que se faz presente e por ser regional, faz parte da personalidade da obra que tem um enredo amarrado e bem coeso. O elenco é interessante, expressivo, entregaram o que lhes foi proposto e conseguiram  transmitir a veracidade da situação. O personagem Mustafa, consegue encantar e emocionar com seu jeito durão e cabeça dura. Não entendemos muito bem o motivo dele não “facilitar” a solicitação de licença – a mulher dele é israelense e seria mais fácil para ele conseguir e ficar de vez com sua família, mas ele não o faz… certamente, muitas questões estão envolvidas, as quais não foram evidenciadas no longa. A personagem Anne é um ponto fora da curva muito interessante e a atriz que a interpreta tem um timing perfeito. Ela também vive sua dualidade e suas crenças não afetam seu julgamento em relação à situação, na verdade, ela está bem à frente de muita gente. O personagem Remy, é um garoto que quer o que muitos querem viver de forma DIGNA. Inicialmente, se mostra corajoso, mas no fundo ele admite estar apavorado e não é para menos. 

A 200 Metros é dirigido e roteirizado por Ameen Nayfeh que se inspira em momentos da própria vida para dar luz ao longa. Assim como o personagem central da trama, ela passou por uma separação, já que sua mãe pertencia a uma aldeia palestina.

“A 200 Metros é a minha história e a de milhares de palestinos. Posso dizer que talvez 99% dos palestinos tenham de passar por uma jornada semelhante à do filme para superar os obstáculos diários. A ideia do filme e a distância de 200 metros surgiram como um acúmulo de experiências pessoais e coletivas”.

O drama “A 200 Metros” (“200 meters”), indicado pela Jordânia para concorrer a uma vaga na categoria de Melhor Filme Internacional do Oscar 2021, chega às plataformas digitais em 17 de setembro. Com distribuição da Synapse Distribution, o filme estará disponível para compra e aluguel na Claro Now, Vivo Play, Sky Play, iTunes/Apple Tv, Google Play e YouTube Filmes.

Nota do Thunder Wave
É um longa delicado, forte, sensível e que transmite a luta diária de quem precisa atravessar a fronteira, um muro, que divide os palestinos e israelenses. Um longa que toca na ferida e mostra o quanto o conflito entre Israel e Palestina ainda afeta muitas pessoas. Uma questão que perduram até os dias atuais. É um longa necessário e mesmo se tratando de um assunto complicado, é belo e nos lembra do resquício de humanidade que ainda possuímos.

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