Crítica | A Baleia

Longa estreia no dia 23 de fevereiro

A Baleia (The Whale) dirigido por Darren Aronofsky e escrito por Samuel D. Hunter, baseado em sua peça de mesmo nome, conta a história de um professor universitário que sofre de obesidade mórbida e tenta se reconectar com a filha que abandonou anos atrás antes de morrer. Esse é um daqueles filmes que nos fazem refletir sobre a vida. A produção da A24 coloca os holofotes em Brendan Fraser (A Múmia), que está impecavel em tela. É sem dúvidas o comeback que esperávamos.

Eu estava muito ansiosa para ver com meus próprios olhos e entender o motivo de todos estarem falando super bem da atuação não só de Fraser, mas de Sadie Sink (Stranger Things) e Hong Chau (The Menu), ambas estavam esplêndidas em suas atuações também. Estava com altas expectativas e sai contente da sessão dedicada à imprensa.

É um drama psicológico americano que não se prende à *obesidade mórbida de seu personagem principal. Brendan Fraser dá vida ao professor universitário Charlie que após perder o namorado de forma trágica, encontra na comida algum tipo de conforto para mascarar a dor ou descontar a raiva e as frustrações da vida.

*Nota:  De acordo com o site Tua Saúde, a obesidade mórbida é uma forma de acúmulo excessivo de gordura no corpo, caracterizada pelo IMC maior ou igual a 40 kg/m². Esta forma de obesidade é também classificada como grau 3, que é a mais grave, pois, neste nível, o excesso de peso coloca em risco a saúde e tende a diminuir o tempo de vida. Existe tratamento e maneiras de garantir uma vida saudável. Procure ajuda.
Crítica | A Baleia 1
O filme é uma adaptação de uma peça teatral de mesmo nome / Reprodução

A Baleia é um longa honesto que mostra como é viver num corpo morbidamente gordo, com sobrepeso. Em uma das cenas em que confronta Thomas, papel de Ty Simpkins, Charlie cita as feridas na pele, os tornozelos inchados, as úlceras inflamadas e etc. Além disso, durante o longa, vemos como é difícil andar, não poder agachar para pegar uma chave ou simplesmente esticar o braço para apagar a luz do quarto. 

Contudo, não tem nada pior do que o olhar julgador de outro ser humano ou o desdém. Além do sobrepeso que afeta a vida de Charlie de forma física, essa também é uma questão que influencia como ele se relaciona com as outras pessoas. Ele leciona de forma online e sempre com a câmera desligada. Logo nos minutos iniciais do longa, o vemos falando com sua turma, porém a imagem está preta. Um dos alunos comenta que a câmera do docente ainda está quebrada, mas é uma maneira de Charlie se proteger e de não mostrar como é. Ele sente vergonha dos olhares acusadores. As pessoas demonstram um certo tipo de repulsa, de medo ou espanto devido ao tamanho que ele aparenta. A cena em que Dan, o entregador de pizza, espera Charlie sair para pegar as caixas, demonstra bem esse olhar de perplexidade de ver alguém com sobrepeso.

Além do sobrepeso, outro assunto aqui é a questão da parentalidade. Quando Ellie, papel de Sadie Sink, tinha oito anos, Charlie abandonou a filha e a esposa para viver sua história de amor com Alan. É confuso vê-lo oferecendo conselhos de forma remota ao mesmo tempo que tenta desesperadamente fazer as pazes com a filha. É compreensível a raiva, o ódio, a tristeza e o rancor que ela guarda pelo abandono do pai. Pelo que sabemos, era dele que ela mais gostava. Infelizmente, a situação é complicada, pois ele passa a fazer o dever de casa dela e até mesmo chantageando-a para visitas relutantes com promessas de dinheiro de herança. Porém, a garota se mostra um ser cruel e isso é um “detalhe” difícil demais para contornar. No entanto, ambos exploraram os limites da confiança mútua que resultaram nas cenas mais engraçadas e comoventes da trama.

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Sadie Sink desempenha muito bem o seu papel de adolescente rebelde e raivosa / Reprodução A24

Outra questão que cerca o núcleo de Charlie é a religião. Uma das críticas de Ellie é que as pessoas que eram pecadoras e se convertem, se acham melhores que as demais que não se converteram. É aí que entra Thomas, um jovem missionário visitante de um culto religioso genérico chamado New Life. Mas Charlie – e eu – não está comprando essa história. Parece que New Life foi a causa – indiretamente – da morte de seu falecido namorado. Particularmente, tenho ressalvas a questões religiosas abordadas em filmes porque sempre soa meio caricato como na novela “Vai na fé”, mas enfim… é um assunto para outro texto.

Dentro desse minúsculo elenco de A Baleia, apenas uma pessoa trata o personagem de Brendan com gentileza e afeto. É Liz, irmã de Alan, falecido namorado de Charlie, enfermeira fulltime. A personagem Liz é interpretada de forma notável pela talentosa atriz Hong Chau. Aqui vemos um tipo de amor genuíno, mas duro. Em muitas cenas se mostra brutal, mas é honesto e sincero. É isso que ele ama nela. Vemos que ela o alertou diversas vezes sobre sua condição médica, mas Charlie se mantém destinado a negras qualquer ajuda médica e isso mexe diretamente com Liz que odeia ver o rápido declínio de seu paciente, sentindo-se impotente ao cuidar dele. Infelizmente, Liz já passou por esse caminho antes com alguém muito próximo a ela e a Charlie e vai passar novamente.

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Hong Chau interpretou com muita verdade sua personagem Liz / Reprodução A24

De modo geral, o elenco está impecável. Atuações de primeira. Avaliando o caráter técnico, é um filme que evidencia toda a situação de Charlie. É agoniante e triste, pois chove frequentemente no decorrer do longa e nas poucas cenas em que a câmera sai do apartamento decadente de Charlie, não está chovendo, mas está nublado. A paleta de cores caminha entre tons cinza, azul escuro, preto e quando Sadie está em cena, vemos tons de vermelho puxado para o ferrugem. Tudo isso reforça a condição de sofrimento e dor de Charlie e a maldade de Ellie.

A câmera é um artifício bem usado pela direção que quer ir a fundo no personagem central, é um super foco e é compreensível devido a aparência e ao arco profundo de Charlie. A proporção prende o espectador e o mantém lá fazendo com que o público ouça, veja e sinta tudo o que se passa por ali. É uma sensação claustrofóbica. Na cena inicial, que ele se masturba ao assistir pornô gay – ele é um gay recluso -, ele quase morre devido a uma parada cardíaca e sentimos essa sensação de dor no peito, de falta de ar, quase que por osmose. Outra cena que mostra como a proporção, o enquadramento gera um aperto, uma sensação de proximidade exagerada num ambiente extremamente pequeno e é quando ele está sufocando com um lanche e quase morre. Foram duas cenas que me incomodaram bastante… é evidente a iminência da morte.

Mas por que “A Baleia”? A cena em que Charlie está se masturbando e logo começa a ter um ataque cardíaco, Thomas chega e o salva lendo um ensaio que está próximo do personagem de Fraser. Mas não só próximo de forma literal, distância, mas de seu coração, figurativamente.  O texto,  cujo autor é desconhecido até o final do filme, discute o romance de Herman Melville, Moby Dick. Sua passagem mais marcante menciona como Melville dá tantas descrições da baleia, teorizando que “O autor está apenas tentando nos salvar de sua própria história triste, apenas por um tempo”. Daí entendemos o porquê de “The Whale”, vemos em Charlie que vive de forma reclusa tudo aquilo que ele e nós tentamos esconder. Em vários momentos é possível vê-lo com uma expressão vazia e sem esperança diante das situações. 

No entanto, é inegável a performance verdadeiramente marcante de um ator que falou abertamente sobre suas lutas na vida real e, com The Whale , teve a chance de deixar tudo na tela.

Nota do Thunder Wave
The Whale não tem as metáforas que podemos ver em outros trabalhos de Darren Aronofsky. É um longa mais honesto, mais profundo. Apesar de ser emocionante, é igualmente chocante. Com um elenco de peso, o longa consegue transmitir a dor e a busca pela redenção. É o retorno triunfal de Brendan Fraser que sabe muito bem o preço da reclusão. Prepare os lencinhos, você vai precisar.

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