Crítica | A Última Carta de Amor

Longa baseado em livro de mesmo título, não surpreende e desaponta

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Há muito tempo atrás, as cartas de amor eram atitudes importantíssimas na arte da conquista de sua grande paixão. Fato é, que elas sempre retornam seja em O Diário de Uma Paixão ou na trilogia Para Todos Os Garotos que Já Amei. Hoje em dia, precisamos apenas de um whats para nos comunicarmos com o mozão, crush ou @. No entanto, para a trama A Última Carta de Amor, novo romance da Netflix, inspirado num livro de Jojo Moyes, as cartas são essenciais para o desenvolvimento da narrativa que acabou de estrear no catálogo. A trama é um romance clássico que aborda temas como casamento, traição e como o amor pode sobreviver décadas e não morrer. Embora tenha cenas emocionantes, o longa é mal construído, o desnível é gritante, a fotografia tem certos problemas… as expectativas eram altas e infelizmente a produção decepciona.

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Adaptar obras nem sempre é um processo fácil. Sabemos que manter 100% dos acontecimentos é quase impossível. Mas as diferenças entre a obra original e a adaptação não precisam ser mais evidentes do que o que foi mantido. O longa mantém a dinâmica do passado e presente, onde o passado retrata a década de 1960 e o presente, os tempos atuais. No passado, vemos a trama narrar os passos de Jennifer, interpretada por Shailene Woodley, que sofre um acidente e perde a memória. Ela é uma esposa troféu de um empresário famoso que a trata como se não existisse ou fosse insignificante. Nos tempos atuais, vemos a personagem Ellie, interpretada por Felicity Jones que encarna uma jornalista atrapalhada parecida com a Andy de O Diabo Veste Prada (2009), concepção que foge um pouco da personagem original.

Em A Última Carta de Amor (2021), além dos reencontros por acaso entre amantes do passado, vemos cartas de amor escondidas dentro de livros ou em caixas de sapato, um vilão capaz de qualquer coisa para afastar o casal apaixonado, uma infelicidade do destino acaba por afastar os amantes que pretendiam fugir de suas realidades cruéis. São aspectos presentes em ambas obras. O longa consegue passar esse romantismo por meio de cenas de beijos sob a chuva ou em momentos de cumplicidade entre os personagens. 

Crítica | A Última Carta de Amor 1
Shailene Woodley e Callum Turner são Jennifer e Anthony/Boot / Reprodução

Se o objetivo era chamar atenção, o longa até certo ponto obteve sucesso. A produção da Netflix consegue deslumbrar o espectador com as belas paisagens, com os figurinos, os penteados e percebemos que o escapismo, a fuga da realidade se dá pelo poder aquisitivo que permeia o ambiente vivido por Jennifer e Anthony que embarcam num romance extraconjugal. A trilha sonora não é ruim, mas nada de muito esplêndido.

Na narrativa que se passa no presente, vemos a jornalista Ellie, uma mulher de ações imprevisíveis que por acaso descobre as cartas românticas de Jennifer e “Boot”. Aqui vemos um ambiente com ar banal e a conexão entre ambas as personagens é a ideia de que o amor dura para sempre e é o único caminho para ser feliz verdadeiramente. A história entre Jennifer e Anthony/Boot é um romance fatal, com promessas de amor eterno e cheio de palavras enfeitadas. Já a história vivida por Ellie é mais descontraída e ela até ganha um pretendente para chamar de seu e mostrar para o telespectador que o amor é o caminho que mesmo sendo imprevisível, ela acredita na força desse sentimento. Porém, sabemos que não dá para viver só de amor e aqui na produção tem de sobra.

⁠Eu nunca quis tanto beijar alguém, mas quando você olhou para mim, algo mudou. Naquele momento, temi que nossos desejos nos destruíssem. – Anthony O’Hare

A direção de fotografia não trabalhou direito a estética. No passado, vimos a construção fotográfica com tons de azul e as bordas mais escuras que o centro da cena. Vemos uma fotografia pesada e dá a impressão de que tem muito filtro. Sabe aquela foto postada no instagram cheia de edições? Chega próximo. Acredito que não era o propósito distrair o espectador, mas a baixa nitidez de alguns ambientes, alguns pontos de luz borrados fazem com que o espectador deixe de prestar atenção no personagem e no que está acontecendo para focar no ambiente. Faltou pesquisar e analisar de forma assertiva a estética fotográfica que poderia ter sido usada no longa. 

Já no presente, as imagens são satisfatórias, mas continuam escuras. Na redação, o ambiente por mais que seja neutro, é claro, tem uma boa luz e filtros condizentes com a realidade. Porém, quando entram no pequeno apartamento de Rory (Nabhaan Rizwan) ou de Jennifer (Diana Kent), a câmera entra numa caverna de tão escuro que está. Será que a equipe responsável sabe diferenciar um filme de terror/suspense de um romance clássico? Vemos que as escolhas na composição fotográfica são ruins e não compatíveis com os segmentos temporais.

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Felicity Jones e Nabhaan Rizwan são Ellie e Rory / Reprodução

Quando li o título, tive a impressão de que o romance bebesse da obra de O Diário de Uma Paixão de Nicholas Sparks. A atriz Rachel McAdams demonstra uma mocinha tão apaixonada por seu garoto Ryan Gosling e cheguei a acreditar que a Jennifer do longa seria o equivalente, mas Shailene Woodley foi uma péssima escolha para a personagem Jennifer, além de não ter as características físicas da personagem do livro, ela se demonstra insossa, pouco expressiva, desconfortável nas roupas da personagem e ela não consegue demonstrar o mínimo de afeto pela filha que é a razão de suas decisões e até mesmo com o seu amante, ela se mostra confusa. Já Felicity Jones encanta e emociona com sucesso a personagem mais engraçada da trama. Ela apresenta um timing incrível, ela encara a personagem com muita realidade e por ser uma personagem teoricamente simples, ela soube exatamente como ser provocativa com sua jornalista imprevisível. 

Também sentimos uma falta de equilíbrio com os atores masculinos. O talentoso Callum Turner se mostra desenvoltura no papel e encanta por seu jornalista galante e apaixonado. Deveríamos ficar felizes pela presença do ator britânico de origem indiana, Nabhaan Rizwan, devido a diversidade, mas ele tem um personagem muito raso e sem vida própria que não se parece em nada com o personagem original que é sarcástico e determinado e não um mala inexpressivo. Ele se envolve com Ellie, a ajuda, mas nada mais. O ator Joel Alwyn interpretou bem o marido de Jennifer, Lawrence Stirling, que reprime e ignora a esposa. Os personagens secundários foram mal aproveitados…

⁠Passei minha vida evitando complicações, especialmente do tipo romântico. Tendo conhecido você, entendo agora que eu não estava vivendo. É difícil ouvir “Amo você”, mas preciso dizer as palavras. Elas estão na minha cabeça durante o dia todo, e se não posso dizê-las, vou escrevê-las repetidamente. – Anthony O’Hare

A adaptação em si está fraca, desconstruiu muito a essência do livro, o grande enredo é a paixão entre Jennifer e Anthony e eles não funcionam bem em tela. Sabe quando você precisa passar numa matéria e faz um trabalho meia boca e tira o equivalente para ficar na média? É isso. O longa apresenta mais do mesmo, porém não é bom. Poucas coisas salvam nessa produção e não é a direção, roteiro, fotografia ou enredo. Se você espera algo grandioso, esqueça.

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