Premiado documentário, A Última Floresta aborda um assunto que precisa ser mostrado, com uma narrativa interessante. A obra retrata o cotidiano de um grupo Yanomami isolado, que vive em um território ao norte do Brasil e ao sul da Venezuela há mais de mil anos. O xamã Davi Kopenawa Yanomami, que participa do roteiro desse documentário, busca proteger as tradições de sua comunidade e contá-las para o homem branco que, segundo ele, nunca os viu, nem os ouviu.
Kopenawa tenta manter vivos os espíritos da floresta, ao mesmo tempo em que ele e os demais indígenas lutam para que a lei seja cumprida e os invasores do garimpo retirados do território legalmente demarcado. Mais de 10 mil garimpeiros ilegais, que invadiram o local em 2020, derrubam a floresta, envenenam os rios e espalham Covid e outras doenças entre os indígenas.

Enquanto mostra a vida cotidiana do grupo, relatando sua cultura e a maneira como mantem as tradições em tempos atuais, A Última Floresta também acompanha a luta contra os garimpeiros, que ameaçam destruir os rios e florestas locais, através dos olhos de Kopenawa. A narrativa usa de um sistema muito interessante, mostrando as antigas lendas com encenações dos próprios integrantes do grupos, dando uma interessante visão sobre as histórias contadas.
Dirigido e roteirizado por Luiz Bolognesi, a obra conquistou dois novos prêmios – Melhor Documentário no Festival Zeichen der Natcht, em Berlim, e o Prêmio Artístico de Melhor Obra no Festival dos Povos Originários, de Montreal. E não é para menos, com a crítica gritante à falta de respeito com nossas florestas e a cultura indigena, o filme merece muito destaque.
A construção desse complicado documentário é fascinante. Bolognesi fez um trabalho imersivo,passando dez dias com a tribo. O próprio Kopenawa participou do processo de criação, escolhendo como seu povo seria representado na tela e quais histórias iria colocar na produção, para garantir que a mensagem passada fosse a correta.
Kopenawa, que já escreveu o importante livro A Queda do Céu, está fazendo um trabalho ativo com o “povo da cidade”, como ele mesmo chama, para tentar salvar essa parte da floresta e seu povo, tentando conscientar a população sobre a importância dos recursos naturais. É uma batalha que precisa ser acompanhada, ouvida e algo precisa ser feito contra esses crimes ambientais.
A Última Floresta estreia nos cinemas dia 9 de setembro.