Crítica | A Volta ao Mundo em 80 Dias – 1ª temporada

Jules Gabriel Verne, conhecido nos países de língua portuguesa como Júlio Verne, é um dos maiores escritores de todos os tempos e praticamente o pai da ficção científica. Suas obras já foram traduzidas para vários países do mundo e também ganharam o universo do cinema, televisão e video games.

A mais nova obra de Júlio Verne a ganhar uma adaptação foi A Volta ao Mundo em 80 Dias pela BBC – disponível no Brasil na Globoplay. A história segue Phileas Fogg, um metódico aristocrata de Londres. Em 1872, após ser confrontado por um cartão postal e por seu rival Nyle Bellamy, ele decide sair de sua zona de conforto e aceita o desafio de atravessar o globo terrestre em apenas 80 dias.

Esta adaptação do livro de mesmo nome, possui algumas diferenças ao original, mas que nada atrapalham aqueles que já o leram, pelo contrário, acaba sendo enriquecedor. E mesmo quem jamais leu uma obra de Júlio Verne, está aí uma ótima oportunidade de conferir esta minissérie e depois conhcer esta e outras aventuras narradas pelo escritor.

Leia também: Resenha | A volta ao mundo em 80 dias

Entre as diferenças está o gritante e nada sutil em trazer um Passepartout negro, em vez de branco ou chinês (filme de 2004 com Jackie Chan). O ator francês Ibrahim Koma mostra uma desenvoltura fora do comum em dar vida ao valete de Fogg, pois deixa de ser apenas um personagem secundário para se tornar muitas vezes o protagonista durante os episódios, principalmente nos que mostram partes de uma ‘revolução’ na França e o racismo nos EUA.

Outra diferença quanto ao livro – sem spoilers – é a personagem da atriz Leonie Benesch, que interpreta Abigail Fix. No livro, Fix é um detetive que persegue Fogg pelo mundo. Já na minissérie, ela é uma jornalista que acompanha a dupla para contar as aventuras de Fogg ao mundo.

Ter uma mulher forte e independente nesta aventura é um bom contraste frente a um mundo ainda mais patriarcal onde as mulheres praticamente não podiam exercer nenhum tipo de profissão, principalmente o de jornalista. Já o papel principal, ficou a cargo de David Tennant. O ator escocês e famoso pela série Doctor Who, Jessica Jones, Ducktales, entre outros, mostra um Phineas Fogg muito diferente.

Se no livro temos um típico inglês aristocrata, mas diferenciado por pensar além das pessoas de sua época, na minissérie Fogg é muito mais reservado e com sérios problemas com o seu passado, além de emocionais. O personagem sofre com bullying e isso traz consequências graves para a sua vida.

Leia também: Crítica | Kino’s Journey: the Beautiful World

Esta nova adaptação acaba por atualizar de forma sensacional – que merecia até mesmo um livro -, a história e seus personagens, ao criticar a maneira como o ocidente vê o oriente, o colocando como uma sociedade muitas vezes ‘burra’ e sem história. E vários momentos, o roteiro demonstra isso como um tapa na cara, ainda mais ao mostrar o que acontece históricamente em cada parte do mundo enquanto Phineas Fogg tenta vencer a sua aposta.

A Volta ao Mundo em 80 Dias é uma das melhoras adaptações já feitas, ao manter a base do livro, mas ao mesmo tempo atualizar a obra para um mundo novo que vivemos atualmente. E também já confirmar uma segunda temporada, que trará os mesmos atores para uma nova adaptação de Julio Verne. O mais interessante, é como isso será feito, já que a produção parece querer “criar” um Universo Compartilhado de Julio Verne, algo até simples, pois suas obras ocorrem com pouca diferença de anos.