Crítica | Adoráveis Mulheres

O roteiro cospe diante dos motivos pelos quais se vale lutar quando se é uma mulher

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Mais uma vez somos surpreendidos pelo olhar único de Greta Gerwig que nos impressiona com cada projeto bem executado. Enquanto Lady Bird explora a maturidade de uma mulher, o seu mais novo longa Adoráveis Mulheres retoma o assunto, porém, com uma visão ampla do que é ser mulher.

Baseado na obra de Louisa May Alcott – tem outras quatro adaptações cinematográficas desde 1917 -, pareceu um bom momento para uma nova adaptação, lembrando que Hollywood passa por mudanças muito importantes em relação a representatividade das mulheres. Mas será que podemos encaixar essa nova versão dentro desse momento que não apenas Hollywood, mas o restante do mundo, está vivendo?

Acreditemos que sim. A trama acompanha o crescimento de quatro irmãs que são interpretadas por Saoirse Ronan, Emma Watson, Eliza Scanlen e Florence Pugh (Jo, Meg, Beth e Amy) que se entretém com teatro, dança, música, arte e literatura durante a Guerra Fria. O longa é ambientado em meados de 1860 e contou com uma especialista em filmes de época, Jacqueline Durran. Além disso, vestuário e cenário foram peças chave para que o telespectador se sentisse mais próximo a obra.

O ano de 2020 é de total protagonismo feminino e não poderia faltar esse grande filme, uma vez que, são enfatizadas questões muito pertinentes não só aquela época, mas que hoje discutimos o tempo todo como o feminismo, machismo, as dificuldades que as mulheres enfrentavam na época. Se você pensa que hoje é difícil conseguir salários equivalentes entre homens e mulheres, pensa naquela época em que em relação a mulher tudo se resumia num casamento com um marido rico. Isso é muito bem colocado na fala de Jo e Amy, onde dissem que elas próprias tinha consciência de que no final era tudo um acordo econômico, pois as mulheres não tinham seu próprio dinheiro. Mas vai muito além disso. Será mesmo que um marido rico é a solução? Se você não o ama. Até que ponto vale a pena ser rica e viver uma vida amargurada como a personagem de Meryl Streep

Cada uma com uma personalidade diferente e única, são complementares umas às outras. Cultivam uma amizade verdade que se torna o fio condutor da trama e o que faz com que o longa seja belo. Não se assuste quando estiver assistindo, o filme é apresentado de forma não linear, a história mescla acontecimentos passados com o do presente. O trabalho visual é muito bem executado. Temos cores quentes que ilustram o passado, é vivo, quase que fresco. Já o presente é azulado, frio, meio triste e opaco. Isso ajuda a sentir cada emoção expressa por cada interpretação bem feita dos atores num geral.  Percebe-se o gosto pela câmera lenta em certos momentos. Não apenas isso, mas a fotografia, o roteiro, a trilha sonora são todos amarrados por uma boa direção.

Crítica | Adoráveis Mulheres 1

O romance desajeitado lembra Orgulho e Preconceito, que ironizava a o luxo e a exploração da pobreza. E que também deixa claro a sociedade machista que oprimia as mulheres. Porém, devemos nos atentar que por mais que seja uma obra que fala das lutas das mulheres, há pouca diversidade racial – podemos ver que em outras produções de Greta, não tem essa preocupação -, mas que se esforça ao ver as protagonistas em suas batalhas próprias. Infelizmente, uma das irmãs não chega a idade adulta, mas ao mesmo tempo é ela quem une as outras. O elenco é impecável e traduz a cada fala um sentimento de pertencimento aquela época. Outro ponto forte é a dedicada Marmee, interpretada por Laura Dern, mãe das meninas que usa sua sabedoria para confortar e ensinar suas filhas. 

Adoráveis Mulheres é um bom filme para assistir e se emocionar, lembrando que está indicado ao Oscar 2020. O elenco carismático te convida a permanecer de olhos grudados nas telonas do cinema. A direção de Greta Gerwig prova o quanto ela amadureceu a sua visão de mundo e o quanto ela se sofisticou. Sem dúvida alguma, é uma trajetória intrínseca pelo íntimo de personagens emocionantes.

 

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