Crítica | Amigas para Sempre 2ª T – Parte 1

A segunda parte de Amigas Para Sempre (Firefly Lane) retorna para fechar a sua 2ª e última temporada. Mas antes de sua estreia no dia 27 de abril, vamos falar um pouco sobre a primeira parte, que apresenta novos momentos dos 30 anos de amizade das protagonistas, enquanto esclarece o mistério para o afastamento entre Kate e Tully e dá uma ideia de como será o futuro das personagens. De modo geral, a primeira parte da segunda temporada tem bons momentos, boas atuações e é uma história muito bonita sobre amizade, personagens femininas fortes, coragem de seguir em frente acreditando sempre, é uma produção que contempla alguns erros, mas seu retorno é positivo.

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Amigas Para Sempre é uma adaptação da obra de mesmo nome da autora Kristin Hannah. A 1ª parte da 2ª temporada conta com nove episódios de 50 a 60 minutos de duração e segue a mesma fórmula narrativa apresentada na 1ª temporada.

Linhas gerais

Na temporada atual, acompanhamos quatro linhas temporais na qual vemos as personagens adolescentes na década de 70; suas versões adultas na década de 80; e nos dias atuais, na qual vemos Kate (Sarah Charlke) e Tully (Katherine Heigl) nos anos 2004 e 2005 e, no futuro, em um espaço de tempo de 2 anos após as duas terminarem a amizade de forma misteriosa. Para informar a mudança de tempo, o trabalho de caracterização é bem feito e demarca muito bem as épocas retratadas, além da fotografia e a colorimetria das cenas reforçarem todo o contexto encenado.

A temática aqui não muda, pois a sequência aborda os desdobramentos de algumas situações que foram vistas na sua antecessora como maternidade, abandono, abuso, amizade, família, confiança, cumplicidade, figura paterna entre outros, além de mostrar outras facetas da vida das duas amigas ao longo de 30 anos.

Podemos notar que a série explora mais os obstáculos e as dificuldades que a amizade da Kate e Tully sofreu ao longo da adolescência devido a longa separação pela distância, uma vez que Tully passa a morar com a avó em outra cidade enquanto sua mãe está presa. As brigas e discussões entre as duas passam por motivos típicos da juventude, como o primeiro beijo de Kate e o fato dela ser sempre a 2ª opção de alguém quando Tully está por perto; novas amizades na vida de ambas; a rebeldia e a maturidade, além de ambas precisarem lidar com os conflitos internos, em especial Tully e a forma como ela busca lidar com o estupro que sofreu (visto na temporada anterior); e as tentativas da jovem em ajudar e nutrir uma boa relação maternal, enquanto precisa encarar o vício da mãe.

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Apesar das duas amigas brigarem ou discutirem, elas sempre voltam uma para a outra, pois existe a cumplicidade e o privilégio que poucas pessoas têm de ter um amigo leal e verdadeiro. Um ponto curioso explorado pela série é a relação entre Tully e Sean, irmão de Kate, em que eles decidem ter relações para saber de fato, como cada um se sente sobre si mesmo. Quem assiste entende os motivos de ambos, pois Sean – nós sabemos que ele é gay e ele quer ter certeza disso, mas como se ele não teve nenhuma intimidade com uma mulher? E Tully é por conta do abuso, é difícil se abrir novamente pensando que vai acontecer algo ruim. Mas temos total ciência de que a relação deles não é carnal e, sim, algo mais fraterno, com o intuito de se ajudarem diante das escolhas.

O plot de Tully

Em Amigas Para Sempre um dos assuntos principais é a ausência da figura paterna na vida de Tully e como isso reflete nos seus relacionamentos e na forma como ela não consegue seguir em frente com os seus parceiros. É desconcertante ver a omissão de sua mãe, Cloud, em falar sobre isso. Além de ser frustrante, acompanhar Tully em tentar virar esta página de sua vida com sucesso e não conseguir, de se sentir vazia. 

Usando o jornalismo ao seu favor, Tully descobre que seu pai é irmão do governador Benedict Binswanger (Greg Germann) na qual ela acompanhou e fez várias matérias sobre ele, sem ao menos saber que tratava de um parente seu, enquanto o mesmo lhe tratava com desdém e desprezo justamente por saber quem ela é. Um detalhe que pode nos deixar chocados é que na década de 70, Tully chega a encontrar o pai, sem saber que era ele. Nos dias atuais, ela descobre que o mesmo homem que viu anos atrás era, de fato, a pessoa que procurava, mas que infelizmente havia falecido recentemente.

Talvez, fosse algo que o público gostaria de ver, o tão aguardado encontro de pai e filha. Infelizmente, não aconteceu. Mas acredito que foi proposital, pois reflete em como Tully lida com seus relacionamentos e como não consegue dar seguimento em nenhum como acontece com Danny (Ignacio Serricchio). Mesmo parecidos na personalidade e com inúmeras provas de que ambos pertencem um ao outro, obstáculos são colocados a fim de que este amor não avance, seja na carreira que leva cada um para um lugar diferente, os propósitos e pensamentos e, até mesmo, a dificuldade em abrir o coração. No entanto, a trama não desperdiça esse plot, pois Danny retorna nos dias atuais e o reencontro reacende a faísca.

Assim como nos dias atuais, o machismo e o sexismo fazem parte da trama que mostra os problemas enfrentados por Tully, como um processo por ter quebrado o contrato com a emissora ao sair do programa por não concordar com a política e a forma machista de controlá-la. A partir daí, a personagem terá uma reviravolta e veremos a sua introdução no mundo da internet com blog e vídeos como sua mãe está fazendo e o recomeço ao produzir um documentário sobre a busca por seu pai e outra situação que marcará um novo destino da personagem.

O plot de Kate

Já o mundo de Kate dá voltas e reviravoltas também. Em Amigas Para Sempre vemos um pouco mais da personagem, seja sozinha, ao lado da Tully ou com Johnny. Após o divórcio e a ida ao Iraque para cobrir a guerra, Johnny (Ben Lawson) retorna em estado grave após ter sido atingido por uma bomba. O acontecimento faz Kate ter certeza sobre os seus sentimentos com relação ao ex-marido, mas reatar uma relação já desgastada e desfeita requer muito esforço de ambos, além de enfrentar os desafios como o estresse pós-traumático de Johnny após o acidente na guerra, as tentativas de seguir em frente mesmo amando outra pessoa e o retorno de figuras do passado, como a estagiária do jornal, que sempre nutriu sentimentos por Johnny – e o comeback da estagiária mexe com todos.

Pelos flashbacks, vemos um pouco mais do relacionamento dos dois e como cada um enxergava e via o amor com relação ao outro. Percebemos que Kate sempre deixou suas vontades de lado e fez sacrifícios para ver Johnny feliz, mas nunca deixou de lado o desejo de casar e ter filhos. Já Johnny se vê apaixonado pela primeira vez, o que faz ele se importar, pensar e dividir a sua vida com Kate, apesar de ser contrário à ideia de casar e construir uma família devido a infância complicada que teve. Entre idas e vindas, vemos o casal em suas primeiras vezes, seja com declarações afetuosas, as brigas, os términos e a certeza de que um quer dividir a vida com o outro.

Com a inclusão desnecessária da estagiária Charlie tanto no passado quanto nos dias atuais, a trama preenche um vácuo inexistente, já que ela serve apenas para fazer Kate ter ciúmes dela com Johnny. Logo, os desafios enfrentados são superados e Kate e Johnny finalmente reatam a relação, levando a um segundo casamento à vista.

Infelizmente, é com Marah, filha de Kate e afilhada de Tully, que a amizade delas começa a desabar. Essa é uma personagem muito chata e muita ingrata com a mãe. (Tudo é motivo para que essa menina reclame, tudo ela faz birra, é uma peste essa garota – desculpe, mas ela não me desce. Essa, sim, é uma péssima filha.) Na temporada atual é apresentado uma subtrama em relação à sexualidade dela que mostra um certo interesse por garotas. É um tema interessante, pois envolve o árduo caminho de se autodescobrir, mas é inserido num contexto bem aleatório sem um devido preparo. Diferente da sexualidade de Sean que tem uma contextualização melhor, é bem pensada e transmitida em cena.

Uma amizade entrando em colapso

Em Amigas Para Sempre tomamos conhecimento do mistério do final da 1ª temporada que ficou como gancho para a sequência. A curiosidade era saber sobre de quem se tratava o funeral – se você leu o livro, sabe de quem era-, assim como também o motivo para Kate e Tully terem terminado a amizade. Temos pistas que são lançadas ao público em cada episódio novo até que tudo por completo é apresentado: um acidente de carro envolvendo Tully e Marah. A garota fica sob os cuidados da madrinha enquanto Kate e Johnny passam um final de semana juntos para reafirmar a relação após um desfecho complicado. No entanto, Marah está apaixonada por uma colega e pede incessamente para que Tully a deixe escapar do castigo e sair com seu interesse amoroso ao cinema, mas acaba indo para uma festa em uma universidade, na qual a Marah sofre uma tentativa de assédio – é nessas horas que repensamos o conselho de mãe.

Após a ligação de Marah, Tully parte desesperada ao encontro da afilhada. Com a menina em posse, ambas acabam sofrendo um acidente, um carro desgovernado acabou colidindo com elas. É por conta disso que a Kate se vê no limite e decide terminar a amizade, afinal, ela pode aguentar tudo, até mesmo ser a 2ª opção para tudo e todos, mas jamais aceitaria arriscar a vida da própria filha por qualquer coisa ou pessoa. Apesar das inúmeras tentativas de pedir perdão, Tully compreende que precisa respeitar a decisão de Kate e, assim, se afasta de vez, enquanto tenta se reencontrar na carreira e tomar novos rumos em sua vida.

Já o funeral se tratava do pai de Kate que, infelizmente, morre no Dia de Ação de Graças, deixando a família toda arrasada, mas que consegue seguir em frente com o tempo. Algo que estava ansiosa para ver era o retorno de Kate à faculdade para se concentrar na carreira de escritora, fazendo novas amizades, mas que jamais terá a mesma cumplicidade como ela tem com a Tully. Entre uma carreira promissora, a nova relação com Johnny e a reaproximação com a filha, Kate recebe a notícia devastadora de que está com um raro câncer de mama em estágio III.

Um desfecho triste + teorias de um possível fim

A reta final de Amigas Para Sempre que foi dividida em duas partes trará muitas mudanças e revelações chocantes. Neste final, Tully fica bem próxima de Danny, que retorna em sua vida como amigo, uma vez que ele está comprometido com outra mulher. Mas é notável que o sentimento entre os dois ainda queima, mas a protagonista está decidida a ser mais racional e coerente em suas decisões. Logo, vemos que ela aceita o trabalho de produzir um documentário na Antártida, na qual ela ficará longe por vários meses, uma viagem que vem a calhar, já que ela se sente sozinha e a relação com Kate está cada vez mais longe de ser reatada.

Após o choque inicial, Kate procura por Tully, que já partiu para sua longa viagem, assim encerra-se a primeira parte da segunda temporada.  Quem leu o livro, sabe que, infelizmente, Kate morre no final da história por conta da doença, e pelo trailer divulgado, a adaptação parece seguir o desfecho da obra original, algo bem  triste de ver. Então prepare os lencinhos novamente.

Em Amigas Para Sempre vemos uma cena pós-crédito que mostra os personagens 10 anos depois, em que vemos Johnny no altar, enquanto Tully está vestida de branco se preparando para entrar. Surpresa ou não, Tully pode estar se preparando para casar com Danny e Johnny seria meio que o responsável por oficializar a união entre os pombinhos. Kate pode ter morrido ou vivido por mais dez anos para ver sua amiga ter um final feliz. E uma teoria de muito mau gosto pode ser o casamento entre Tully e Johnny, já que eles tiveram algo lá no passado. Aí seria péssimo, pois não seria honesto com Kate. 

Enfim, precisamos esperar a segunda parte da 2ª temporada de Amigas Para Sempre que chega no dia 27 de abril na Netflix. Não há como ter mais uma temporada, já que não existe uma história de Kate e Tully sem uma estar presente ou apenas em memórias trazidas em cena.