Besouro Azul (2023) chega em um momento de indefinição para a DC nos cinemas. Após atingir bilheterias decepcionantes com Adão Negro (2022), Shazam: Fúria dos Deuses (2023) e The Flash (2023), a decisão de encerrar o DCEU (sigla para DC Extended Universe, ou Universo Estendido DC, a franquia que trabalhou os personagens da DC Comics nos cinemas nos últimos anos) e reiniciar o seu universo do zero parece cada vez mais acertada. Contudo essa medida foi tomada em meio à produção de vários filmes, alguns até mesmo em vias de finalização.
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O que seria feito com esses trabalhos? Dificilmente seriam simplesmente jogados fora (pelo menos a maioria deles, uma vez que foi exatamente o que ocorreu com filme da Batgirl, que estava previsto para estrear em 2022). Assim, enquanto a nova administração se organiza (dessa vez sob a batuta de James Gunn e Peter Safran), ainda teremos pelo menos mais dois filmes programados para o antigo DCEU. Besouro Azul é o primeiro deles, protagnizado por um personagem menos conhecido do que seus grandes medalhões. Mas será que essa aposta foi acertada?
No longa conhecemos Jaime Reyes (Xolo Maridueña, o Miguel de Cobra Kai), um jovem de origem hispânica da cidade de Palmera City (parece meio estereotípico latino?), que retorna da sua graduação para encontrar sua família passando por diversas dificuldades. Após perder o seu emprego na mansão da família Kord, ele recebe uma nova proposta de trabalho de Jenny (a brasileira Bruna Marquezine), herdeira da poderosa família.
Mas a herdeira enfrenta suas próprias dificuldades em uma tentativa de evitar que sua inescrupulosa tia, Victoria Kord (Susan Sarandon), se utilize de uma arma simbiótica alienígena com a intenção de criar um super exército particular. Essa arma, o Escaravelho, acaba caindo nas mãos de Jaime, escolhendo-o como hospedeiro e transformando-o em um relutante herói, enquanto é caçado pelos soldados de Victoria.
A trama é tão simples quanto parece. E mesmo que careça de originalidade, é preciso dizer que Besouro Azul tem méritos. Jaime é o jovem herói escolhido por forças além da sua compreensão e que tem dificuldades em aceitar seu destino, mas que conta com o amor de sua família para apoiá-lo. Jenny é a jovem de uma família rica que o guia e se torna seu interesse amoroso.
Victoria é a empresaria ambiciosa que está usurpando a posição de uma legítima herdeira e que se volta a propósitos belicistas e de poder. Tudo seguindo uma cartilha que todos já vimos muitas vezes, mas com uma execução competente o bastante para desfrutar do filme sem problemas.
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Muito se falou sobre a representação latina em Besouro Azul, e ela realmente está lá, oscilando entre o estereótipo (embora não necessariamente depreciativo) e a homenagem, com referências que vão de Maria do Bairro ao Chapolin Colorado. É claro, não faltam os lugares-comuns do imaginário americano sobre as culturas latinas (como a família grande, passional, caótica e passando por dificuldades), mas todo o núcleo da família de Jaime é extremamente carismático e capaz de tirar boas risadas do espectador.
E por falar em carisma, acho difícil alguém esperar algo diferente de Xolo Mariduena, que já havia mostrado sua desenvoltura como ator na série Cobra Kai e que está extremamente à vontade no papel de Jaime Reyes.

Bruna Marquezine também está ótima no papel de Jennifer Kord, conseguindo equilibrar momentos dramáticos com o ritmo frenético da trama (também merece elogios o seu domínio do inglês demonstrado no filme).
Susan Sarandon está bastante vilanesca como Victoria Kord, embora por vezes um tanto caricata, algo que não chega a ser um problema em um filme que não foge de abordar a galhofa e a diversão.
O restante do elenco de apoio (basicamente, a família de Jaime e o capanga de Victoria, Carapax) cumpre o seu papel, mas ainda é possível citar como destaques os momentos dramáticos de Damián Alcázar (como Alberto Reyes, pai de Jaime) e os risos que George Lopez arranca como Rudy Reyes (tio de Jaime e autor da polêmica piada sobre o Batman que deixou o público em polvorosa após a divulgação do primeiro trailer).
Em aspectos técnicos, Besouro Azul não difere muito dos atuais filmes da DC. O traje é certamente um dos mais bonitos que vimos aparecer recentemente em filmes de super-heróis. O CGI não decepciona, com momentos visualmente impressionantes.
A direção abraça as piadas e a leveza do filme, sem tentar transformá-lo em O Homem de Aço. O roteiro não é tão corrido quanto costuma ocorrer em filmes do gênero (ponto positivo), mas escolhe muitas soluções fáceis e coincidências milagrosas (ponto negativo). Mas não é algo incomum em filmes de super-heróis, então o saldo final é positivo.
Besouro Azul não é um filme que irá salvar o DCEU, e nem tenta ser isso. Ele é apenas um entretenimento descompromissado, como os filmes de super-heróis costumavam ser. Talvez após Liga de Justiça de Zack Snyder ou Vingadores: Ultimato, o público tenha esquecido o que é isso.
Hoje se fala até mesmo em um esgotamento de filmes desse gênero (e isso pode não estar longe da verdade). Mas, se mantivermos nossas expectativas realistas, ainda é possível se divertir muito com eles. E espero sinceramente que Jaime Reyes encontre seu caminho para o novo DCU de James Gunn.