Crítica | Chamas da Vingança: Mais Stephen King nas Telas

Longa possui elementos positivos, mas infelizmente não há desenvolvimento o bastante de aspectos relevantes da trama.

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Stephen King é provavelmente o escritor com mais obras adaptadas para o cinema da história. DeCarrie – A Estranha,passando por O Iluminado, It – A Coisa, O Nevoeiro, Doutor Sono,até chegar ao atual Chamas da Vingança, as adaptações de seu trabalho já alcançaram desde sucessos retumbantes a fracassos completos. Firestarter(livro conhecido no Brasil como A Incendiária, que talvez fosse uma tradução mais apropriada para o título) já havia sido adaptado anteriormente para o cinema em 1984, tendo sido estrelado por Drew Barrymore, mas agora recebe uma nova versão Blumhouse, que conta com a presença de Zac Efron e a direção de Keith Thomas.

A trama nos apresenta ao casal Andy MacGee(o já citado Zac Efron) e Victoria MacGee (Sydney Lemmon), bem como a sua filha adolescente, Charlie MacGee (Ryan Kiera Armstrong), que vivem em uma pequena cidade na região do Massachussets. Logo ficamos sabendo que o casal foi vítima de um programa experimental do governo americano na década de 90, que tentou se utilizar de suas capacidades paranormais. Agora a família vive em fuga, uma vez que sua filha também é possuídora de poderes psíquicos (no caso, uma poderosa capacidade pirocinética), os quais tem dificuldades em controlar. Quando os poderes de Charlie acabam se manifestando de forma descontrolada na escola, a família sabe que precisará fugir novamente, pois logo a agência governamental estará novamente à caça deles.

O filme tem um claro apelo oitentista na sua proposta. Poderes paranormais, instações governamentais secretas, protagonista infantil. Em praticamente tudo há um eco que podemos associar a outras obras da década de 80, tais como Scanners, por exemplo. Não por acaso, a época em que a primeira versão foi filmada. É um tipo de referencial que se tornou confortável atualmente, como o sucesso de Stranger Things mostra. Porém, enquanto o seriado da Netflix abraça completamente a ambientação e estética oitentista, Chamas da Vingança busca atualizá-la, transpondo a história para os nossos dias.

A direção e o roteiro (este a cargo de Michael Teems) pouco faz para atenuar os estereótipos oitentistas (mesmo porque este sequer o objetivo do filme). Estão lá as fugas no estilo “roadie movie”, as conspirações governamentais secretas, e até mesmo os típicos vilões bidimensionais: a agente do governo que busca uma arma paranormal (a criança), o cientista arrependido que fez parte do programa original, o caçador clandestino que se arrepende e busca a redenção. Todos eles trazem à mente algo que já foi visto diversas vezes nos últimos 40 anos.

É bem verdade que há, também, um certo lugar comum em grande parte das tramas baseadas nos livros de King. A abordagem de utilizar poderes paranormais para o terror é tema recorrente para o escritor, mas embora suas adaptações tenham adquirido sucessos memoráveis nas mãos de Brian de Palma (com Carrie – A Estranha) e Stanley Kubrick ( com O Iluminado), é verdade também que não são todos os diretores que acertam com sua obra. No caso de Chamas da Vingança, é até possível perceber uma influência de Carrie – A Estranha no trabalho, o que aumenta as comparações com uma adaptação que se tornou um clássico do terror.

Sobre o elenco, não há tanto o que dizer. Zac Efron não falha em transmirir carinho paternal como o pai da protagonista, bem como em passar alguma ameaça com seu poder paranormal de controlar mentes, mas há alguns momentos em que seria esperado mais envolvimento emocional de sua parte, como após a morte da esposa (algo cuja culpa está mais na direção do que no ator). Por outro lado, a jovem Ryan Kiera Armstrong acaba por ser uma grata surpresa, conseguindo mostrar uma Charlie convincente ao espectador, alternando entre o drama, o medo e a raiva. O elenco de apoio tem pouco o que mostrar, a não ser Rainbird (Michael Greyeyes, um caçador indígena estereotipado, sem motivações claras), e a Capitã Hollister (Gloria Reuben, que apesar de passar uma imagem de poder e deboche, também carece de uma motivação convincente).

A direção de Keith Thomas é bastante regular, sem momentos especialmente memoráveis, mas que consegue criar um clima de suspense apropriado. Infelizmente, não há desenvolvimento o bastante de aspectos relevantes da trama (como as reações à morte da mãe de Charlie). Além disso, há elementos que são adicionados à história, cumprem o papel de iniciar um interlúdio dramático, mas que são deixados para trás sem consequência ou peso nenhum após. A trilha sonora de John Carpenter consegue méritos extras para o filme, ainda que colabore bastante para a impressão de resgate de atmosfera oitentista, com seus sintetizadores típicos da época.

Obviamente, o filme tem seus méritos. A tentativa de atualizar a atmosfera de filmes oitentistas é um investimento que tem bom potencial de sucesso hoje em dia, e adaptar uma obra de Stephen King sempre traz um peso extra à produção. E de fato, há elementos instigantes na narrativa, que talvez tivessem sido muito melhor aproveitados se não ecoassem tão alto produções (também baseadas em livros do mesmo autor) do passado.

Por: Wallace William

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