Crítica | Com carinho, Kitty – 1ª Temporada

Com dez episódios que duram entre 28 e 35 minutos, a série mistura comédias românticas ocidentais com K-drama

Recentemente chegou um spin-off pelo qual muitos fãs de Jenny Han e de sua trilogia de sucesso Para Todos Os Garotos Que Já Amei estavam ansiosos. A história de Lara Jean rendeu três filmes pela Netflix e após a sua conclusão, de forma surpreendente Katherine Song Covey, ‘Kitty’ para seus amigos, ganhou uma série para chamar de sua. Com um enredo embebedado em k-drama, a produção erra ao misturar subtramas demais, às vezes até forçado. Mas apesar dos deslizes, o drama que se passa na Coreia consegue agradar.

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No terceiro longa de Lara Jean, ela e as irmãs passam uma temporada na Coreia com o pai e Trina, antes de retornar quando estão na ponte dos cadeados, Kitty conhece e se apaixona por Dae, um intercambista sul-coreano. Logo eles mantêm contato que é o ponto de partida da série sobre Kitty. Já estando no ensino médio, a garota se inscreve para estudar na escola pela qual sua mãe passou e coincidência (forçada, até), ver o seu amor. Ao ingressar na KISS (Korean Independent School of Seoul), a escola de Dae e onde sua mãe estudou na adolescência, Kitty se vê numa grande confusão porque ao encontrar seu suposto namorado, na verdade, ele já é namorado de outra garota, Yuri.

A produção, que estreou no catálogo da Netflix no dia 18 de maio, é uma colaboração entre a escritora Jenny Han e Sascha Rothchild, contando com a direção compartilhada por Jennifer Arnold, Jeff Chan, Pamela Romanowsky e Katina Medina. Aqui vemos uma mescla entre os clichês americanos, a essência ocidental das dramédias românticas que fizeram tanto sucesso em 1990 com os dramas coreanos, os famosos K-dramas. É bem legal perceber essa mistura, pois a experiência de assistir à série é intensificada pelas cenas em slow motion, pelos efeitos sonoros de coração batendo forte, os sininhos de amor, além-claro da estética bem colorida e divertida que a série carrega em seus 10 episódios.

O elenco é encabeçado por Anna Cathcart como Kitty, Choi Min-young (Dae), Anthony Keyvan (Q), Gia Kim (Yuri), Sang Heon Lee (Min Ho), Peter Thurnwald (Alex), Regan Aliya (Juliana) e Yunjin Kim (Diretora Jina Lim). Inclusive, uma curiosidade é que Sang Heon Lee e Gia Kim (Min-Ho e Yuri) são irmãos na realidade. Em quesito atuação, o elenco é competente e entrega desempenhos convincentes e entendemos o motivo de a Netflix ter apostado na trama de Katty que é carismática e tão catastrófica quanto LJ. Outro personagem importante e escolha assertiva é o Q que desempenha papel relevante na busca pela verdade de Kitty, tanto da história dela quanto a de sua mãe.

Crítica | Com carinho, Kitty - 1ª Temporada 1
É uma cena bonita e simbólica / Cortesia Netflix

Embora a produção tenha um bom elenco principal e de apoio, a quantidade de subtramas influenciou negativamente em algumas histórias. A apresentação dos personagens aconteceu de forma natural e conseguimos saber um pouco do núcleo de cada sujeito, porém detalhes importantes sobre a família de Dae ficaram escondidos e poderia ter recebido um detalhamento maior e melhor. Acredito que eles não irão ter um desenvolvimento mais completo/retomado na próxima temporada.

Outro ponto de atenção é sobre a cultura sul-coreana. A Netflix fez de Kitty, sua “Emily”, pois a garota vai para o país sem conhecer o idioma e sem demonstrar o mínimo interesse em aprender a língua, ignorando pontos importantes da cultura do país como servir o seu famoso purê de batatas em uma data importante sem saber que a maioria dos coreanos é intolerante à lactose. Se ela tivesse pesquisado e se informado antes, o imbróglio não teria acontecido. 

O erro mais gritante e absurdo – na realidade nunca aconteceria -, é que Kitty acaba dividindo o quarto com Dae, Q e Min Ho, porque ela não entendeu como funciona a dinâmica dos dormitórios. É difícil comprar a ideia de que uma escola supostamente conservadora iria direcionar uma aluna recém chegada e intercambista num dormitório masculino por descuido e que ninguém perceberia uma garota andando pelos corredores da ala masculina. Mas o mais incômodo é ver o núcleo se comunicando em inglês, em vez de coreano. Seria mais coerente vermos falas em coreano, mas até durante a rotina acadêmica, os professores e funcionários se comunicam em inglês. O erro que vemos em Emily In Paris, se repete aqui.

Crítica | Com carinho, Kitty - 1ª Temporada 2
Kitty tem a sua sexualidade conflitada ao chegar na Coreia / Cortesia Netflix

Dentre os diversos temas abordados pela narrativa, o principal deles é a discussão da maternidade e os núcleos familiares como Kitty indo atrás da história da mãe que não conheceu, Yuri, filha da diretora da escola e amiga “secreta” da mãe de Kitty, que possui um namoro fake com Dae, filho do motorista do pai de Yuri que perdeu a mãe há pouco tempo. Além disso, há o núcleo dos estudantes, com personagens como Q, Min-Ho, Madison e Florian, além de Juliana, namorada de Yuri e que desencadeia todo o enredo do namoro fake. Outro núcleo que se fez bem presente é o dos professores, com Alex e o Professor Lee compartilhando um segredo e uma história complexa em comum.

Fora do tema família, temos as primeiras descobertas da adolescência, os amores e os corações partidos, as dúvidas e a diversidade inter-racial e sexual. Além de coreanos, temos americanos, temos uma personagem negra e o fato de introduzirem dois casais homossexuais, dois gays e duas lésbicas, faz com que a trama converse com a atual geração, pois enquanto um deles é assumido (Q), temos uma personagem que esconde dos pais que gosta de meninas como Yuri. E o momento em que ela faz essa revelação é tão libertador que é triste imaginar que muitas pessoas ainda vivem presas dentro de si por conta do preconceito e da represália da sociedade.

Dois pontos interessantes são a fotografia e a trilha sonora. A fotografia impressiona pela qualidade das imagens, dos enquadramentos que não foge do tradicional, mas foi bem feito. Pello o que se pode perceber, a maioria das locações da produção foram feitas na Coreia do Sul, principalmente em Seul e nas cidades próximas. Já a seleção do soundtrack é repleta de músicas populares de K-Pop, trazendo desde BLACKPINK, BTS, TWICE e Park Hye Jin. A grande homenagem, entretanto, fica com um clássico dos anos 80, Tears For Fears cantando Everybody Wants To Rule The World, pois é a música preferida de quatro personagens.

Nota do Thunder Wave
A série possui traços clássicos das comédias ocidentais e dos doramas que têm ganhado fama nos últimos meses. O catálogo da Netflix está cheio de K-dramas para amantes da cultura. Ao apostar na diversidade sexual e inter-racial, a obra acerta. Mas erra ao tratar muitas tramas dando importância para algumas em detrimento de outras como a narrativa de Dae que deveria ser um personagem importante e ficou a deriva e no de Kitty não ter se preparado culturalmente para chegar num país diferente. Mas apesar dos altos e baixos, é uma série que cativa pelo elenco, pela montagem e pelos temas abordados como as configurações familiares, a lealdade entre amigos, os relacionamentos amorosos, as descobertas da adolescência e a reflexão sobre suas próprias experiências e identidades, ou seja, é sobre encontrar o seu lugar no mundo.

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