Entre o Top 10 das séries e filmes mais populares da Netflix por duas semanas consecutivas, Não Provoque, ou Dare Me, é uma série que conta a história de duas melhores amigas que são o perfeito clichê americano. Populares, festeiras e líderes de torcida!
Beth (Marlo Kelly) e Addy (Herizen Guardiola) são melhores amigas com perspectivas de futuro bem diferentes. Beth só quer aproveitar as festas regadas a álcool e drogas dadas pelos recrutadores da marinha que ficam como urubus rondando as garotas do colegial e Addy quer usar suas habilidades para conseguir uma bolsa em uma boa faculdade. Essa possibilidade só se torna realidade quando Colette French (Willa Fitzgerald), uma famosa técnica, chega para ser a nova treinadora das líderes de torcida do Sutton Grove High School, trazendo consigo a chance das meninas se classificarem para as competições regionais nacionais e terem uma possibilidade de serem vistas pelos olheiros. Mas tudo é deixado de lado uma vez que a treinadora, sem grandes explicações, começa a se aproximar de Addy, abalando a amizade das melhores amigas, e trazendo consigo uma série de acontecimentos que promete afetar a cidade inteira.
Colette é uma mulher com uma família perfeita e o emprego de seus sonhos, mas ao retorno para cidade de Midwestern, personagens de um passado marcante voltam para sua vida e começam a provocar um certo tipo de descontrole na sua vida. Essa personagem tinha tudo para ser bem construída, mas o primeiro furo de roteiro ocorre quando não explicam porquê a técnica ficou quase dez anos afastada da cidade e tendo como único rastro as equipes que levou para os campeonatos nacionais. Sem um background para servir como medidor, ela é mostrada como uma mulher obsessiva, descontrolada, fria e irresponsável quando deveria ser exatamente ao contrário. As cenas em que acaba fazendo body chaming com as garotas e oferecendo sua casa para uma festa regada com bebidas alcoólicas- para menores de idade-, só mostram o quanto ela é conflituosa e inconsistente. O que nos leva a falar sobre o quão manipuladora ela foi com a Addy ao seduzi-la criando uma tensão sexual que não leva a lugar nenhum. Quer dizer, mais ou menos!

Addy é uma garota em fase de descobrimento. A lealdade a Beth por vezes é confundida por uma tensão sexual criada entre as duas quando uma ajuda a outra na recuperação depois de treinos muito puxados e competições muito acirradas. Mas Colette é sua nova técnica e, com a desculpa de melhorar a performance da sua atleta, oferece para a garota treinos particulares que acabam confundindo sua cabeça, mesmo quando ela é claramente a terceira pessoa, que fica sobrando, claro, no relacionamento escondido entre Colette e o sargento Will (Zac Roerig). A trama entre as duas demora bastante para ser desenrolada, o que não acontece por completo, e acaba mostrando só o ponto de vista da Addy. E a garota acredita de pés juntos que a técnica é sua solução milagrosa para garantir uma bolsa na faculdade.
Mesmo percebendo que está caindo num abismo onde sua melhor amiga fará questão de não lhe salvar, Addy segue sua técnica como operários atrás da abelha-rainha. Sem muito desenvolvimento e levando em conta que sua amizade com Beth poda suas “asas” a todo o momento, esta personagem passa quase que a temporada inteira com cara de boba apaixonada toda vez que Colette resolve trata-la minimamente bem. E aqui acaba acontecendo outro furo de roteiro porque a personagem que deveria guiar a série inteira, acaba sendo a mais chata e sem sal a ponto perder o protagonismo para Beth!
Beth é provavelmente a personagem mais bem desenvolvida da obra. Com duas subtramas, que só acrescentam mais camadas à fachada arrogante, controladora e confiante, elas servem para afirmar totalmente o contrato. Com uma família instável, um pai ausente e uma mãe egoísta, Beth tem toda sua base prejudicada uma vez que ela só quer que estes conflitos acabem.
E toda as suas frustrações com a família ela desconta na sua melhor amiga, quando esta não corresponde suas expectativas, na bebida, que acaba lhe rendendo o episódio mais triste e revoltante da história e na sua meia-irmã, que não é nada mais que uma mimada. Mas além disso, Beth consegue enxergar Colette além da névoa que a técnica parece jogar em suas atletas.

A fotografia atuou em conjunto com a narrativa apenas em momentos chave da história de forma que intensificava o sentimento de euforia, deixando o ambiente avermelhado, ou ressaltava a ideia de solidão, mostrando um ambiente fechado, escuro e enevoado.
Apesar do fraco desenvolvimento das personagens, a história até consegue prender o espectador pela expectativa de ter um final coeso e fechado. Mas as diversas pontas soltas podem levar a uma segunda temporada, que não deve demorar para ser confirmada.
Entre altos e baixos, a primeira temporada de Dare Me consegue agradar, mas com ressalvas aos buracos na trama.