Essa vibe nostálgica tem conquistado cada vez mais os últimos tempos. Desde o retorno de tendências do mundo da moda ao retorno do punk rock de Avril Lavigne, no universo cinematográfico não seria diferente. Pegando carona no retorno do passado, a Netflix lançou recentemente em seu catálogo a série “De Volta aos 15“, a mais nova comédia romântica nacional baseada no livro de Bruna Vieira que leva o mesmo nome. Surpresa ou não, a obra tem chamado atenção por seu elenco carismático, sua trilha sonora envolvente e por simplesmente a produção ter acertado na adaptação.
Anita, personagem de Camila Queiroz, tem trinta anos e ainda não se resolveu na vida. Com a vida financeira conturbada e roupas espalhadas pela casa, ela acredita que está tudo bem pelo fato de ter conseguido sair de Imperatriz e ir morar em São Paulo. Porém, quando precisa voltar à sua cidade natal para o casamento de sua irmã, Luiza, interpretada por Mariana Rios, ela tem um choque com o passado ao acessar seu antigo blog de fotos e, repentinamente, volta aos seus quinze anos. Já no passado, Anita, papel de Maisa Silva, terá a oportunidade de consertar certos erros que repercutem no seu presente e ela precisará reviver a sua adolescência novamente, convivendo com seus melhores amigos, Henrique (Caio Cabral) e César (Pedro Vinícius), e sua prima Carol (Klara Castanho), e, consequentemente, bagunçar a vida deles também.
A trama é bem curta e conta com seis episódios que variam entre trinta e quarenta minutos. Do começo ao fim, a produção consegue envolver e fisgar o telespectador porque gera identificação, pois quem não passou por essa fase bizarra cheia de hormônios, paixonites, melhores amigos, bullying, questões sobre aceitação, medo de nada dar certo, inseguranças, lidar com cobranças dos pais, da família, da sociedade, enfim… é difícil ser um adolescente que precisa atravessar esse ciclo de tanta dubiedade. Contudo, a adaptação se mostrou muito bem produzida, em parte, pois a produção se empenhou em entregar um bom produto para os fãs não só da escritora, mas pelo fato de nos fazer refletir sobre a nossa própria adolescência. Não posso esquecer de dar os méritos para a Bruna Vieira, autora do livro homônimo que inspirou a série e que também exerceu consultoria do roteiro.

Em De Volta aos 15, os episódios são bem costurados e apresentam um roteiro bem amarrado. Algo notável é o trabalho da equipe formada pelos nomes de Janaina Cabello, Thiago Villas Boas, Flávia Villela, Rita Faustini, Neca Lucena, Fernanda Tanaka, Janaína Tokitaka, Renata Kochen, Bryan Ruffo, Vivi Jundi e Dainara Toffoli que atuaram muito bem na elaboração do roteiro, fotografia, enredo, trilha sonora, direção, pós produção… mostraram que trabalhar em grupo não é bagunçado e acertaram nas composições, na organização, na montagem e a série transmite muito desse comprometimento da equipe em tela. É muito comum vermos erros quando a equipe não está 100% focada em fazer algo que tenha concisão.
O elenco de ponta se mostra competente e no melhor momento de suas respectivas carreiras, isso porque falamos de um cast juvenil que ainda tem tanta coisa para viver e se mostraram mais que aptos para seus papéis. Vemos uma Maisa totalmente a vontade com sua Anita de 2006, o mesmo podemos dizer da talentosa Camila que estreou na TV com sua modelo Angel que deu o que falar nos últimos tempos. Outros que não podemos deixar de citar são os atores Caio Cabral e Pedro Vinícius que nem parecem estar atuando de tão naturais que interpretam. Podemos perceber que a jovem Klara Castanho amadureceu muito sua técnica e, mesmo com menos tempo de tela, se mostra bem em todas as cenas. Os olhos brilham com os lindinhos Gabriel Stauffer e Bruno Montaleone, que entram para fazer o público suspirar, e o jovem João Guilherme, muito mais seguro e mais competente aqui do que em todos os seus trabalhos anteriores. Porém, o destaque vai para a Alice Marcone que interpreta a doce Camila.
A série consegue trazer o sentimento nostálgico e de comédia romântica que De Repente 30 e Quero Ser Grande entregaram, a série brasileira aposta com naturalidade e sem neuras cortes de cabelo, músicas que foram hits daqueles anos – Admirável Chip Novo da Pitty, toca umas duas vezes -, peças de roupa – como xadrez e até uma versão a la Complicated de Avril Lavigne aparece na obra -, e até mesmo sites do momento. Não ficam de fora o celular tijolão, a internet discada e o computador de tudo, além de outras antiguidades que faziam sucesso na época. Talvez seja por toda essa atmosfera recriada que a série da Netflix acaba trazendo a sensação de pertencimento e retorno para um tempo aconchegante e que marcou a vida de quem hoje está com seus 20 e poucos anos — ou até mesmo 30, como a personagem de Camila Queiroz.
A obra passeia entre passado e presente, tem altos e baixos como qualquer outra produção, tem algumas derrapadas como deixar algumas pontas soltas no último episódio que podemos ver muita coisa consolidada nele e, talvez, seria mais inteligente ter um sétimo para equilibrar melhor, mas é algo que estamos acostumados a ver. Por fim, é a representação da juventude que viveu antes do advento da internet e que tiveram uma experiência diferente de muitos que já nasceram com um Iphone na mão. No meio desse caminho há, ainda, a geração intermediária: pessoas cujas juventudes foram afetadas pela transição do mundo entre analógico e o digital. A mais nova sensação da Netflix, oferece entretenimento de qualidade.