Crítica | Drácula: A Última Viagem do Deméter

Vampiros de Volta ao Terror?

O mito do vampiro sempre teve um forte apelo em Hollywood. Inicialmente restrito ao mundo do terror, ele gradualmente começou a ganhar novas nuances (não apenas no cinema, mas também na literatura), gerando tramas que poderiam abranger do drama à intriga, da ação ao romance, da comédia às questões existenciais, muitas vezes retratando os lendários sanguessugas noturnos mais como super-heróis sombrios do que como os monstros assustadores de outrora. Histórias sobre vampiros não são mais exclusividade do gênero terror, portanto. E a proposta de Drácula: A Última Viagem do Demeter, dirigido pelo norueguês André Øvredal, parece ser justamente resgatar essa antiga abordagem.

Um misterioso navio é encontrado encalhado na costa da Inglaterra. No seu interior devastado é encontrado o diário do capitão, que relata como o Demeter foi contratado para transportar uma misteriosa carga da Romênia para Londres. Entre os membros de sua tripulação está Clemens (Corey Hawkins), um médico negro que busca retornar à sua Inglaterra natal. A viagem se inicia normalmente, apesar de algumas demonstrações de superstição por parte dos marinheiros locais, que se recusam a levar caixotes com a “marca do dragão”. Tudo muda quando uma mulher de aparência adoecida (Aisling Franciosi) é encontrada nos porões do navio. Porém, nenhum dos membros da tripulação está preparo para o horror que está oculto dentro dos caixotes que estão transportando pelo mar.

Drácula: A Última Viagem do Demeter adapta o capítulo O Diário de Bordo do Capitão, do livro Drácula, do autor irlandês Bram Stoker. 31 anos nos separam do lançamento da ambiciosa adaptação de Francis Ford Coppola do mesmo livro. Filmes (e livros) sobre vampiros já existiam antes, mas foi após de Drácula de Bram Stoker que vimos a figura do vampiro se diversificar nos cinemas. Entrevista com o Vampiro (o filme, o livro de Anne Rice é de 1976), Anjos da Noite, Crepúsculo, Van Helsing, Drácula: A História Nunca Contada, What We Do in the Shadows, Renfield, True Blood todos surgiram após o clássico de 1992 ajudar a cristalizar nos cinemas a imagem do vampiro como mais do que um monstro bebedor de sangue. Por isso não deixa de ser interessante que a mais recente adaptação direta da obra original retorne ao terror dos filmes mais antigos.

Crítica | Drácula: A Última Viagem do Deméter 1
Drácula: A Última Viagem do Deméter / Imagem: Universal

Por isso não espere aqui vampiros belos e sedutores. Aqui estamos falando de um filme de terror clássico, onde uma criatura monstruosa é uma ameaça constante para uma tripulação presa em um ambiente supostamente inescapável (o navio Deméter). Ou seja, a figura do vampiro na sua forma mais visceral. É fácil ver mais referências ao Nosferatu (1922) de F.W. Murnau do que ao Drácula de Coppola.

Com esse clima de que o perigo pode estar em qualquer lugar, é até uma surpresa que a direção não tenha priorizado os famigerados jump-scares (até há algumas aparições repentinas, mas nada tão enfático como foi o padrão do terror dos anos 2000), preferindo trabalhar uma atmosfera de tensão crescente acrescida de uma dose de violência selvagem, o que vai criando um clima de desesperança inescapável. O próprio Drácula raramente é visto na sua totalidade, apenas em rápidos vislumbres ou envolto em sombras. Quando ele é finalmente visto, está mais próximo de uma imagem monstruosa do que da elegância de Gary Oldman. Uma abordagem muito interessante de se retomar, mesmo que sua execução pudesse ser melhor.

Veja também: Crítica | Besouro Azul: Diversão e Latinidade no Gênero dos Super-Heróis

O filme não é isento de alguns pontos discutíveis. O desenvolvimento dos personagens principais funciona bem, mas os secundários recebem pouca atenção. É claro que não é esperado que coadjuvantes recebam a mesma atenção que os protagonistas, mas isso diminui bastante o impacto do massacre que ocorre a bordo do Deméter. Por estarmos falando de uma tripulação pequena confinada em um espaço fechado, talvez mais momentos interação entre ela (tanto amigável quanto hostil) ajudassem a criar uma identificação maior com os personagens.

O roteiro também tem suas derrapadas ao escolher certas soluções fáceis e coincidências milagrosas (como o fato de Anna, a mulher do interior da Romênia encontrada no navio, falar inglês perfeitamente; e este é apenas um de vários pontos obscuros que exigiriam mais explicações). Talvez uma parte do público não se incomode com essas “pequenas” conveniências adotadas no roteiro, mas que podem também uma considerável dose de boa vontade para não atrapalhar a experiência.

Veja também: Crítica | Fale Comigo

O elenco não decepciona. Corey Hawkins está convincente como o médico negro Clemens, e o mesmo pode ser dito de Aisling Franciosi como Anna. Porém, o maior destaque é, de longe, Liam Cunningham (o sor Davos de Game of Thrones) como o Capitão Elliot. O restante do elenco, como citado antes, tem pouca oportunidade de aparecer, mas ainda é possível fazer elogios ao jovem Woody Norman (Toby) e ao ator sérvio Stefan Kapičić (Olgaren), que conseguem algum destaque com pouco tempo de tela.

Drácula: A Última Viagem do Deméter oferece um retorno aos filmes de terror sobre vampiros de antes dos anos 90. Essa abordagem clássica nitidamente ainda tem muito a oferecer ao cinema, mesmo que o filme conte com algumas inconsistências. Merece ser conferido nos cinemas, nem que seja para relembrar a velha atmosfera onde o vampiro é um ser monstruoso a ser temido.

Nota do Thunder Wave
Drácula: A Última Viagem do Deméter oferece um retorno aos filmes de terror sobre vampiros de antes dos anos 90
Escrito PorWallace William

Artigos Relacionados

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por Favor insira seu nome aqui

Instagram

Bombando

Mais vistos da semana

Siga Nossas Redes

Tem conteúdo exclusivo por lá
6,825FãsCurtir
2,986SeguidoresSeguir
4,049SeguidoresSeguir

Receba as novidades

Fique por dentro de todas as novidades do site em primeira mão!

Recentes

Conteúdo fresquinho

Thunder Stage

Tudo sobre roteiro
Drácula: A Última Viagem do Deméter oferece um retorno aos filmes de terror sobre vampiros de antes dos anos 90Crítica | Drácula: A Última Viagem do Deméter
pt_BRPT_BR
Thunder Wave-Filmes, Séries, Quadrinhos, Livros e Games Thunder Wave