Crítica | Eleita 1ª temporada

De modo geral, todos os atores trabalharam bem e deu para entender bem os bastidores do cenário político brasileiro

Não teria melhor momento do que o atual para o lançamento da nova série Original da Amazon Prime, “Eleita” que chega hoje, dia 7 de outubro, criada por Clarice Falcão e Célio Porto, com Carolina Jabor na direção, contando com sete episódios de aproximadamente trinta minutos.

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A série tem como tema principal a política que tem estado cada vez mais sucateada no Brasil e no mundo. Na obra, somos apresentados a um Rio de Janeiro que está devastado. O governo fluminense não tem um tostão furado, e o resto do país não está muito melhor: não existem mais livros, professores, editoras ou imprensa profissional. Para piorar, a política virou um circo tão esquisito que dá saudade da época em que o Macaco Tião quase foi eleito como prefeito do Rio. Imitando a realidade ou não, a influenciadora Fefê gravou um vídeo falando que vai se candidatar a governadora, mas era tudo apenas uma brincadeira.

Esta brincadeira gerou tanto engajamento nas redes sociais que ela foi convidada a se candidatar e assumiu o cargo de Governadora. Aliás, ela nem sabia diferenciar o que faz um prefeito de um governador. Afinal, não é a mesma coisa?! Em meio a bagunça, a protagonista assume a responsabilidade de cuidar da cidade – ou melhor, tentar -, afinal, a influencer acabou de sair da virada do ano, com muita ressaca e precisa participar da cerimônia para governadora. Ninguém disse que seria fácil abandonar a vida de bebedeira, curtição, festas e muito carnaval. 

“Netinho convidou ela para ser governadora, o meme tomou vida e o resto virou stories.”

“Eleita” é uma série de comédia que faz críticas pontuais ao modo como fazemos política, ao modo como atuamos nas redes sociais e os perigos existentes dentro desse universo, mas sobretudo, ao ser humano que se corrompe com o poder.Uma produção nacional que com muita comédia e leveza nos apresenta ao mundo político por um outro primas. Podemos ver como funciona questões como aprovação de leis, verba pública, o que é aprovado ou não, como eles montam a rede de apoio, entre outros aspectos como a corrupção, por exemplo. 

Quando assistimos aos sete episódios, tivemos a leve impressão de que se tratava de um recorte do atual governo, pois, na série a governadora eleita interpretada pela talentosa Clarice Falcão, usa e abusa das redes sociais e não apenas ela, mas até o personagem que representa o presidente está all time nos stories. Nos lembra alguém que não para de fazer lives para debochar, disseminar fake news e destilar ódio nas redes sociais. São meras coincidências da realidade? Talvez não.

Crítica | Eleita 1ª temporada 1
Clarice Falcão é Fefê Pessoa em Eleita / Reprodução Amazon Prime Vídeo

Curiosamente, por mais semelhante que seja com o atual cenário político brasileiro, Eleita, foi escrita entre 2018 e 2019, quando tivemos o Impeachment de Dilma Rousseff e o governo de  Michel Temer, onde a perspectiva era complicada, mas longe da atual situação que vemos hoje. Se Fefê vai conseguir construir um governo melhor ou pior, não sabemos, mas o que vimos é que ela causou muito. Durante a primeira temporada, a governadora passou por absolutamente todos os estados do luto. Isso mesmo. Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação. Agora o foco dela é construir um governo para o Rio de Janeiro sair do poço. Ela se mostrou empenhada, muitas vezes falhando, mas acertando também.

“você ultrapassou o limite do humor.”

Uma proeza da série é o seu elenco. A trama soube como construir cada personagem como a Fefê interpretada por Clarice Falcão. A influenciadora não é o tipo de papel que estamos acostumados a ver em produções do gênero. Ela é uma mulher podre. é festeira, não tem responsabilidade, vive a vida ligada no modo “foda-se” e é isso. Quando ela acorda para a realidade, renunciar não é mais uma opção, pois as pessoas estão contando com ela. Vemos o quanto a personagem cresceu do primeiro ao último episódio e torcemos por ela.

Crítica | Eleita 1ª temporada 2
Polly Marinho é Teresa em Eleita / Reprodução Amazon Prime Vídeo

Outras personagens legais e fortes são Nanda e Teresa. A primeira é interpretada por Bella Camero, melhor amiga de Fefê e juntas dividem um apartamento com uma porquinha muito fofa. A Nanda, embora, não esteja tão ligada ao cenário político, ela está mais ligada ao afetivo e emocional da governadora e ambas parecem ser o par romântico uma da outra. Já o contraponto de Fefê é a Teresa, interpretada por Polly Marinho, é a pessoa mais centrada no time do governo e a representação dela é muito positiva, pois aborda a participação de mulheres negras na política. Ela é alguém que está lá por mérito, por dedicação e não por privilégio. É de conhecimento de todos que nem em todos os âmbitos sociais, as minorias têm a oportunidade de desfrutarem se não for por muita dedicação, por um esforço filho da p**a. Além disso, temos o deputado Netinho, vivido pelo espetacular Diogo Vilela, que representa o político tradicional e atua como um “conselheiro”, padrinho da influencer para que ela não faça mais besteiras do que o normal. 

“Eleita” soube brincar com os arcos de sua narrativa. A trama inclui outras minorias como pessoas da comunidade LGBT+ no cenário político, como o personagem BAPHO! de Pablo Pêgas que tem uma história bem apresentada e profunda. Ponto positivo!!! A produção não usou a gay e performista como representação fake, o personagem tem conteúdo, em muitos momentos é centrado e tem um dos melhores figurinos da série Inclusive, a obra é tão ousada que ela desconstrói esse papel de primeira dama que conhecemos, O papel  é protagonizado por Rafael Delgado, que é um personagem que não é só um fantoche, ele tem ideias, pensa com a própria cabeça e traz um ar mais humanizado para o papel.

Crítica | Eleita 1ª temporada 3
Luciana Paes e Diogo Vilela em Eleita / Reprodução Amazon Prime Vídeo

Além disso, a atmosfera da série e os diálogos bem desenvolvidos fazem com que o espectador não queira parar de assistir aos episódios devido a facilidade de entender sobre o que a série aborda e pela leveza, o ar cômico, o humor ácido e os personagens cativantes. Contudo, alguns atores foram tão além em seus papéis que causaram um certo incômodo como a personagem de Luciana Paes, que interpreta uma política conservadora cristã com um discurso bem circundado pela religião. Em alguns momentos ela encena aquelas pregações e foi algo chocante, pois, ao mesmo tempo em que a performance dela se aproximou da realidade que vemos, pode soar um pouco como sátira para quem é religioso fanático. E até mesmo a personagem de Ingrid Guimarães que está incrível, mas estereotipada. Merecia mais. De modo geral, todos os atores trabalharam bem e deu para entender bem os bastidores do cenário político brasileiro.

O roteiro é bem amarrado e tem jogadas inteligentes durante as cenas, não deixando nada passar despercebido e passado e presente se misturam com facilidade, pois, as referências são mais que coincidências. No que diz respeito a fotografia e pós produção, o destaque que deram para os cenários no Rio de Janeiro… realmente está impecável. As séries brasileiras costumam ter um cuidado com a estética de suas produções e em “Eleita” vemos boa qualidade em tela. Muitas referências tanto do nosso presente, do passado e até de dentro da ficção. A direção também fez um ótimo trabalho, afinal, falar de política num país que sucateia até o saneamento básico é complicado. Mas Carolina Jabor e companhia fizeram uma “prestação de serviço” para o público. 

Nota do Thunder Wave
Falar de politica não é fácil, mas é necessário. A série "Eleita" aborda o tema com muita leveza, comédia e sarcasmo. Um ótimo elenco, roteiro bem construído e uma direção que soube ousar. Será um ótimo entretenimento para os amantes do tema. Algumas semelhanças são mais que coincidências.

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