Crítica | Ficaremos Bem

Juntos há 20 anos, um casal que se desconectou ao longo do tempo recebe uma difícil notícia que impactará toda a família. Enquanto tentam absorver as mudanças, eles acabam reencontrando o amor que sentem um pelo outro.

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É muito difícil falar das nossas emoções, das nossas vulnerabilidades, defeitos, ressentimentos. Mas é por meio dos sentimentos que as narrativas ganham sentido e tem a capacidade de nos emocionar e nos fazer refletir sobre situações da vida. Nas obras cinematográficas é evidente a relevância do sentimento humano, pois não há personagem sem alegria, tristeza, força ou fraqueza. O longa norueguês “Ficaremos Bem”, baseado em fatos reais e indicado para concorrer na categoria de Melhor Filme Internacional no Oscar 2021, entrega uma profunda carga emocional que esmiúça as emoções de cada personagem em torno de algo terrível. Por sua profundidade, o longa é intenso, difícil, complicado, delicado, poético e reflexivo.

Em “Ficaremos Bem”, a trama aborda questões familiares e o centro desse drama é o casal vivido por Anja e Tomas (Stellan Skarsgård), que enfrentam uma crise no casamento que parece durar anos. Infelizmente, dias antes do natal, Anja que é interpretada pela atriz norueguesa Andrea Bræin Hovig, está com um câncer cerebral terminal e isso faz com que algumas questões sobre o seu relacionamento com Tomas sejam questionadas e analisadas. É possível ver que ambos estão desgastados e carregam um pouco de frustrações, mas essa é a oportunidade de fazer com que as coisas melhorem de alguma forma.

Hope | Stellan Skarsgård, Maria Sødahl e Andrea Bræin Hovig falam um pouco  sobre o filme
Stellan Skarsgård, Maria Sødahl e Andrea Bræin Hovig falam um pouco sobre o filme / Reprodução

O longa não é enfeitado, ele é honesto e muito sensível ao retratar cada cena, cada sentimento, cada acontecimento. A personagem consegue transmitir a dor que está sentindo e não apenas a dor física, mas a da alma, a de saber que o seu tempo está contado e de forma poética as cenas passam e a dificuldade dolorosa de contar para a família o recém diagnóstico bem perto do natal é algo que a sensibiliza mais ainda, pois ela tem uma ideia de como ficarão todos após saberem do diagnóstico.  Na maior parte do longa, a obra mostra Anja compartilhando e vivendo cada situação com o marido e eles começam a trocar figurinhas, a conversar sobre coisas que antes nem falavam como a fidelidade. Desde o início, Tomas é o primeiro a saber do diagnóstico e a partir desse momento começa a passar mais tempo com Anja que precisa de ajuda para atravessar essa jornada.

Algo que poderia ter feito falta, mas não fez é a trilha sonora que é quase inexistente. A sensação que temos é de que o filme fica mais intenso e profundo, pois são os sons da cadeira rangendo, do tilintar dos copos, das risadas, dos choros, da porta batendo que dão a sensação de realidade do longa, além dos diálogos que são carregados de emoção e tristeza. Outro ponto bem relevante é a atuação do casal de protagonistas que aparentemente ficaram juntos por conveniência ou até mesmo por obrigação, esquecendo de viverem as melhores coisas da vida que poderiam ter vivido juntos e agora estão tentando recuperar.

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Ficaremos Bem, indicado pela Noruega para concorrer a uma vaga no Oscar 2021 / Reprodução

As conversas aqui não são bonitas e sim sinceras e que em alguns momentos machucam ainda mais vindo de alguém que está extremamente cansada e está em estado terminal. Ou seja, é tudo muito verdadeiro e sem muita enrolação. As ações e as reações se desenrolam de forma rápida e embora esperamos por um resultado, o longa entrega outro. E nos questionamos em relação aos sentimentos de cada um e como eles se sensibilizam com tudo ao redor deles. Será que somos capazes de praticar a empatia e cordialidade em todas as situações pelas quais passamos e presenciamos? O longa nos faz refletir como nos portamos diante dos outros e das histórias que vemos representadas nas telonas e nas telinhas. Algo que é difícil de ver é a protagonista se culpando pela doença e a forma como ela acha que acabará a fragiliza mais, pois parece que não tem mais fé e esperança.  

Diferente de clichês como “A Culpa é das Estrelas” ou “A Cinco Passos de Você”, que envolve esse drama de uma doença terminal, “Ficaremos Bem” retrata o impacto da notícia de que a vida está nas suas cenas finais e que é hora de se despedir do público. A família sofre, o paciente sofre e o câncer é só um detalhe, pois a real proposta do longa é como reagimos e somos impactados, como o amor que passou por todo um tempo de desgaste está oculto nas entrelinhas. Eles se amam, mas de uma forma que inicialmente não entendemos, mas sabemos que existe um sentimento ali e é isso que faz a trama se desenvolver e promover a reflexão.

Dirigido por Maria Sødahl, o longa tem lançamento previsto para amanhã, dia 1º de outubro, e estará disponível para compra ou aluguel nas plataformas digitais Amazon Prime, Claro Now, iTunes/Apple TV, Google Play, Vivo Play e YouTube Filmes. Distribuído pela Synapse Distribution.

Resumo
Nota do Thunder Wave
critica-ficaremos-bemÉ um longa sensível, delicado e emotivo. Conversa conosco de igual para igual. É sincero e honesto acerca da morte. Questiona o impacto das noticias e como a reagimos. É triste, mas ao mesmo tempo é um sopro de vida. Vale o entretenimento reflexivo.

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