Crítica | Frankie 1

Depois de descobrir que tem apenas alguns meses de vida, Frankie, famosa atriz francesa, resolve reunir a família para as últimas férias juntos, em Sintra, Portugal. Já nas primeiras cenas, vemos que Frankie está pronta para dizer adeus e parece não se incomodar com a opinião alheia, pois nada nua na piscina como se não houvesse outras pessoas em casa. Excêntrica, bonita, famosa, milionária em seu próprio paraíso ou uma mulher que gosta de chamar atenção. Frankie tem e não tem essas características. Ela vai além das expectativas de qualquer um. É alguém que partirá em breve e não poderá ser acompanhada. Talvez, por isso, podemos compreender a tristeza e o desanimo do marido, os filhos rebeldes, os amigos que se portam de forma desengonçada. Ela é cercada por muita gente… mas é como se estivesse sozinha. Frankie aparece na maioria das cenas, mas parece ser apenas o seu corpo, pois sua alma, seu espírito já se foram. É a nossa única certeza, no final… todos morremos.

Reunidos numa pequena cidade, Sintra, em Portugal,  a família se reúne pela ultima vez. O filme tem um tom melancólico. Embora, Frankie esteja perto de partir, outras tramas se desenrolam ao seu redor. O filho que está em busca de um rumo e mal sabe se vai para Nova York ou não. A filha que está prestes a se divorciar. Uma amiga próxima que recusou o pedido de casamento e deu adeus a uma possível vida feliz ao lado de alguém que a amava. Um guia turístico que sofre com a cobrança da mulher. O longa, trata na verdade de questões que podemos evitar ao longo da vida. A trama é um deleite para que possamos pensar em nossas atitudes em relação ao próximo.

O elenco multinacional é estupendo. O longa é mais que bilíngue. Temos cenas em que predomina o inglês, o português, francês. Com uma atuação delicada e extremamente bem feita, Isabelle Huppert, entrega uma estrela hollywoodiana amada e adorada por todos. Frankie é encantadora sem intenção. Do seu lado está Brandan Gleeson, um marido doce, gentil, sem explosão, mas que esbraveja sem fazer estardalhaço. A inglesa Vinette Robinson e o francês Jérémie Renier são os filhos conturbados. Existe ainda um ex-marido que se descobriu homossexual e que está sempre por perto, papel de Pascal Greggory. Para completar, temos o casal interpretado por Marisa Tomei e Greg Kinnear, cada um com suas vidas pessoais que cruzam com as de Frankie. Infelizmente, eles não terminam juntos. Fazem parte de um conflito que nem mesmo eles sabiam que existia.

Frankie tenta organizar a vida das pessoas antes de sua partida e isso indica que os demais não estão preparados para nada que venha acontecer. Os dois irmãos adotivos procuram resolver pendências do passado, os casais que não sabem se separam ou não. Um pedido inesperado que acaba frustrando e o mais interessante é a forma como a protagonista caminha por suas vidas, juntando todos e a ela cabe apenas a missão de observadora e no final, ela se retira quando o palco a aplaude de pé.

Com tom melancólico e sereno, a trilha sonora embala e descreve as emoções corporais e os sentimentos de cada personagem que não conseguem se expressar com simples palavras. Com um roteiro bem amarrado e uma direção que conversam muito bem entre si. Com cores vivas e às vezes um tanto frias, o longa entrega uma sensação de “trabalho cumprido” por parte de Frankie. Ela que é a peça central e que aos poucos vai se acostumando a ser esquecida. O que foi feito, foi. O que restará são lembranças e isso trás impacto na vidas de todos ao seu redor, seja de forma direta ou indiretamente. Se trata de aceitar o fim como se fosse uma velha amiga. A conclusão do longa é esplendida. Termina com o motivo pelo qual começou. O encontro de todos que agora encaram com um olhar diferente.

Mas por que devo assistir?

Porque o fio condutor da trama é a morte e como alguém que está prestes a partir tenta deixar a vida das pessoas mais organizadas possível para que o impacto seja menos dolorido. Impossível quando o que mais tememos é perder alguém que amamos. As escolhas bem feitas e a preocupação em cada detalhe desse filme faz com que seja uma boa escolha para ser assistido numa doce e suave tarde de quinta-feira nublada.

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