Já parou para refletir que muito do entretenimento que consumimos nem sempre fazemos uma escolha que envolva alguma produção brasileira? Alguns gêneros como a comédia brasileira tem um histórico de amor e ódio. Amor por parte dos espectadores e ódio por parte de alguns especialistas que nem sempre valorizam algo nacional. Mas algumas produções quando bem desenvolvidas e que entregam o que prometem… são capazes de fazer sucesso até com quem não curte pegar um cineminha.
No entanto, o longa Galeria Futuro é uma comédia que entrega uma boa produção e o fato de criar uma rápida conexão com o público é algo marcante e muito interessante. Os diretores da trama, Fernando Sanches e Afonso Poyart souberam como entregar uma obra com personagens que podemos encontrar semelhanças ainda mais no atual contexto do nosso país e o mais legal é que não desdenham do espectador.
O longa Galeria Futuro narra a história de um grupo de amigos formados por Valentim (Marcelo Serrado), Kodak (Otávio Müller) e Eddie (Aílton Graça). Os três amigos cresceram nesse prédio com diversas lojas, situado em Copacabana, no Rio de Janeiro. Porém, com o passar do tempo, a tecnologia foi evoluindo, o que antes era cheio de clientes e lojas, hoje deu lugar a um local vazio e estabelecimentos fechando devido ao acúmulo de dívidas e, por isso, o espaço precisa ser vendido. Na tentativa de impedir a venda, o trio se junta a Paula (Luciana Paes), uma ex-participante de reality show que acaba de abrir um salão na galeria, e eles começam uma empreitada um pouco arriscada: começam a vender uma nova droga que foi encontrada pelo grupo no estúdio de fotografia de Kodak. Agora o problema que antes se restringia apenas a venda do prédio se torna maior, pois o chefe do crime local não gostou do sucesso que a substância vendida por eles começou a fazer e vai atrás deles.

Algo muito interessante é que mesmo sendo uma comédia brasileira, os diretores do longa, Fernando Sanches e Afonso Poyart, inseriram muitas referências à cultura pop e a grandes obras do cinema como os clássicos “O Poderoso Chefão”, “Matrix”, “Esqueceram de Mim” e “Kill Bill” são homenageados e servem de inspiração para o filme. Além disso, em tela podemos ver recursos como ver mostrar mensagens, reprodução de lives e até imaginar viagens alucinógenas provocadas pelo uso de drogas. O uso desses recursos ficou bem atrativo e interessante mostrando que a direção soube como fazer o “arroz e feijão” bem feito e inovou a fórmula do gênero.
Embora seja uma narrativa muito legal, com atores incríveis, boas atuações e uma direção preocupada em entregar um produto, uma obra de qualidade… vemos um erro que comumente se repete com o roteiro, pois o mesmo não tem um desenvolvimento coeso e quando checamos a ficha técnica da produção, identificamos que o longa foi escrito por mais pessoas além do diretor (outros roteiristas Fernando Sanches, Matheus de Souza, Pablo Padilla, Cristiano Gualda e Bia Crespo também assinam a história). Sentimos que na harmonia de cada ato e fica uma ponta solta, falta uma transição carinhosa e equilibrada.
Para exemplificar essa falta de coesão é a inclusão do vilão com mais de uma hora de filme apresentado e a partir daí, o longa corre como se estivesse numa maratona. E a proposta é realmente essa, ser um longa ágil e vemos isso pelos recursos usados na edição, mas percebemos que isso “esconde” um roteiro falho, mal desenvolvido e pouco trabalhado.

Um dos pontos positivos são as atuações. Os atores conseguem trabalhar de modo assertivo com o que lhes fora proposto e cada personagem tem um peculiaridade, todos são engraçados, carismáticos e a química entre eles é real, transmite veracidade e gera empatia por quem assiste. Algo interessante é a amizade genuína que sentimos entre Marcelo Serrado, Otávio Müller e Aílton Graça parece muito genuína e verdadeira. Os personagens deles se recusam a aceitar a modernidade que vem com a tecnologia e parecem presos no passado. Luciana Paes, também faz uma personagem hilária, com bons momentos e traz um frescor que eles precisavam. Está aqui um vilão que faz jus ao papel! Milhem Cortaz soube ser sarcástico, caricato, divertido e malvado na medida certa com seu Mesbla. Algumas das melhores cenas do longa são dele e teria sido mais assertivo se a direção tivesse dado mais tempo de tela para ele.
Por fim, Galeria Futuro é um longa que fala sobre essa vontade de permanecer no passado, porém mudar e evoluir é bom e os personagens não percebem isso até o fim do filme. Porém, o longa não soube como acertar a ideia de aceitar as mudanças que vieram com o tempo. Apesar de alguns pontos fracos, o longa consegue conversar com qualquer faixa etária que se permita conectar com o filme. É entretenimento certo para qualquer amante de cinema e comédia.