Um bom tempo depois de ter sido lançado, será que vale a pena assistir Gavião Arqueiro? O ator Jeremy Renner dá vida ao personagem que mais destoa do universo cinematográfico da Marvel. Embora seja apenas um cara com um arco e uma flecha, meio reservado, introvertido e bom de briga, o que mais ele tem para oferecer? Diferente dos colegas de profissão, ele não tem nenhum super poder ou super força, mas tem suas qualidades e mostraremos aqui o porque vale a pena maratonar a primeira temporada que estreou no catálogo no Natal de 2021.
Ao longo de 10 anos, o personagens viveu diversas aventuras como ter sido hipnotizado, “apadrinhar” uma jovem bruxa, lutar contra robôs, viajar pelo tempo e espaço, ser um matador de aluguel e agora é hora de passar o bastão na série do Disney+, que carrega o próprio nome. Com altos e baixos, a produção contempla seis episódios que variam de 30 a 58 minutos. Com um elenco carismático e dialogos interessantes, é um bom passatempo com vibe natalina.
Muitos críticos e críticas falam de como a série não passa de uma simples diversão, mas o objetivo é retratar o personagem de forma humanizada e tentar entregar uma leveza que não vemos muito na história dele. A série introduz novos rostos, traz de volta velhos conhecidos e proporciona reflexão e momentos emocionantes em alguns momentos, em outros traz um pouco de ação.

Um grande mal que tem acometido não só as produções da Marvel, mas boa parte dos filmes de super heróis e produções do streaming é a falta de sensibilidade em entregar uma história fruto do marketing sem priorizar a narrativa em si. Muitas das adaptações das HQs mais famosas do mundo se perdem e a essência do quadrinho fica nele mesmo e não na telona ou telinha. Por isso, é interessante assistir a despretensiosa série do Gavião Arqueiro, pois ela não prometeu nada e mesmo assim consegue cativar e entreter.
A abordagem mais simples e pé no chão é um aspecto que já tínhamos visto em Falcão e o Soldado Invernal. No entanto, a produção ainda tem uma carga pesada tanto nos assuntos tratados quanto no desenvolvimento e ritmo da trama. Logo, a série liderada por Clint Barton aceita sua simplicidade e consegue se destacar por abraçar uma história mais focada no mundo real e nas consequências de seu ‘trabalho’.

A série também não perde a oportunidade de sacanear o protagonista já que escancara para todos que Barton não é o favorito ou o escolhido da maioria. Esse não favoritismo conversa com o atual momento do personagem que já está cansado de flecha, porrada e bomba. O que ele mais quer é paz e curtir a família. Porém, é impossível.
Bizarro ou não, por ter sido exposto durante muito tempo a explosões e outros barulhos extremamente altos, nos deparamos com um Vingador com problemas auditivos, com dores nas articulações por ter saltado, se pendurado ou se jogado de um lado para o outro como se fosse um homem elástico. A série consegue nos aproximar do herói que sempre foi meio aquém dos demais. O vemos sangrar, chorar, ficar bravo, tenso, surdo, preocupado, enfim, vemos um ser humano sendo ser humano e não o herói que todos esperam que ele seja.
É divertido ver o estranhamento dele quando as pessoas veem um Vingador, a forma como idolatram os super heróis, como se veste em homenagem a eles ou quando se depara com aqueles grupos de RPG e precisa encarar uma dessas partidas para conseguir um traje ou uma simples flecha. Vemos de forma nítida o cansaço que nos é comum quanto seres desprovidos de força, alter ego verde, uma armadura de ferro e etc, mas não é habitual vermos num super herói.

Apesar de Clint Barton ser peça chave de sua série… ela não é tão dele assim. Ele divide os holofotes com a inconsequente e irresponsável Kate Bishop interpretada pela carismática Hailee Steinfeld. A presença da moça é tão forte que ela acaba roubando boa parte da atenção para si. Embora a jovem personagem tenha o hábito estranho de se meter em confusão, bisbilhotar, assumir riscos não calculados, ela tem um bom faro para descobrir coisas e uma vontade avassaladora de provar o seu valor e ser reconhecida por seus feitos. Além disso, ela tem a oportunidade de estar perto de seu ídolo – insistentemente, claro.
Ela é uma novidade e traz um frescor novo, além de um humor diferente. Já que estamos acostumados com a seriedade de um universo que não tem o costume de se importar tanto com suas fortes e relevantes personagens femininas. O seu humor infantil, suas habilidades impressionantes e os bons diálogos que tem com quase todos os personagens fazem a série ter um “up” a mais.

Uma das participações especiais é de Yelena Belova, papel de Florence Pugh. As cenas que ambas dialogam são incríveis, principalmente, a sequência do travelling lateral pelas várias salas do prédio enquanto Kate e Yelena lutam, muito bom. A jovem espiã já tinha sido o grande destaque de Viúva Negra. Apesar de aparecer na reta final, a dinâmica que ela traz é muito boa e dá um gás na narrativa.
Tiveram alguns momentos delicados, mas o mais importante e de destaque é o discurso de Barton em frente ao memorial onde relembramos todo o arco que ele tinha em relação a Natasha (Scarlett Johansson) e é uma homenagem bonita e emocionante. Funciona mais aqui do que em todo o longa Viúva Negra. São apenas palavras, mas toda a carga emocional e todo o peso da culpa e o sentimento da perda conseguem suprir a falta de imagens da heroína. E mais uma vez, o vemos de forma humanizada.
Infelizmente, tem alguns pontos negativos que não podiam ficar de fora deste longo texto. O principal problema – que, pelo visto, não foge das demais produções da Marvel -, é a resolução de seus problemas de forma apressada, o que faz com que a série não tenha um ritmo equilibrado para começar, desenvolver e terminar. É tudo muito atropelado e isso influencia nas subtramas apresentadas que não são poucas para serem devidamente contadas em seis episódios.
A série trabalhou a relação de Clint e Kate com a mãe dela envolvida em negócios sujos, há a jornada de Maya que parece mais um gancho mais mal resolvido do que sobre a evolução da personagem – a participação dela é quase um trailer para uma futura série dela do que uma trama realmente contada -, e o arco mais desconexo é a aparição de Wilson Fisk. Embora tenha sido comemorada pelos fãs, foi tão rápida e sem sentido que mal acrescentou para a história.

Já sabemos que Maya vai ganhar uma série, mas o desenvolvimento dela poderia ter tido mais cuidado. Em seis curtíssimos episódios, tudo foi jogado e só aparecia quando tinha alguma conveniência como a relevância do relógio. Qual o interesse de todo mundo no acessorio que estava sendo leiloado no mercado negro? Aparentemente, nenhuma. Mas, sumiu e apareceu quando foi conveniente.
Na reta final, tudo ficou corrido e sem grande profundidade. Esse tipo de “estratégia” consegue sabotar a produção e faz com que o espectador fique frustrado com o que foi entregue. Há tanto potencial, mas vemos as boas ideias sendo desperdiçadas. Mesmo assim, a trama traz bons momentos e introduz bons personagens. Se Clint nunca teve espaço na sua lista de assistidos, está na hora de ter. A série pode ter pontos negativos, mas rende sequências engraçadas e emocionantes.