Crítica | Hanna – 3ª temporada (2021)

Esse é o terceiro ato que encerra a jornada da sofrida máquina de matar chamada Hanna

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Mais uma história chega ao fim e por mais dolorido que possa ser para alguns, a série terminou bem. Podemos dizer que tudo ou quase tudo que esperávamos ver na terceira temporada foi entregue. O roteirista David Farr e a diretora Anca Miruna Lazarescu fizeram um bom trabalho, cujo resultado podemos ver através da atuação delicada e madura da jovem britânica de 21 anos, Esmé Creed-Miles. Nos momentos finais de Hanna, é no silêncio e na observação de sua protagonista que vemos o alívio de uma dura e difícil jornada que a ajudou a amadurecer, mas que deixou muitas cicatrizes e arrependimentos adquiridos ao longo do caminho. A terceira e última temporada de seis episódios no Amazon Prime Video que chegou no último dia 24 de novembro, encerrou-se com chave de ouro.

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Antes de tecer os elogios a toda pós-produção e atuação, devo ressaltar os pontos negativos que poderiam ter sido evitados neste desfecho eletrizante. Desde o início, sabíamos que Hanna, série que adapta o longa-metragem homônimo de 2011, não tinha muito para ser inventiva em termos de narrativa e, talvez, por isso, seja uma ótima ideia o encerramento agora nesta terceira temporada. Inicialmente, causou espanto saber que a sequência teria apenas 06 episódios diferente das anteriores que contemplam 08 cada uma. Devido aos erros que se arrastaram desde a primeira temporada e que não foram sanados e sim amenizados, esta última e terceira temporada finaliza uma produção com qualidade já que mais continuações poderiam perder o foco e fazer com que o “todo” fosse comprometido.

Agora, de forma mais profunda, Farr se mostra mais conciso na narrativa que mergulha um pouco mais no “mistério Utrax”, porém com a introdução do talentoso e assustador Ray Liotta como Gordon Evan/ Diretor – o poderoso chefão da organização Utrax e o pai abusivo de Marissa Wiegler, interpretada pela Mireille Enos, o que cria uma dinâmica estranhamente interessante na trama e de forma contrária é uma boa subtrama paralela ao drama vivido por Hanna, com Esme Creed-Miles tendo sua melhor performance de toda a saga. Algo que podemos dizer que se tornou clichê durante toda a saga, são as reviravoltas “preguiçosas”, pois saber que o líder secreto da Utrax, o Diretor, é o pai de Marissa não é uma das mais interessantes e inteligentes ideias que o roteiro desenvolve, mas funciona como parte da engrenagem dando gás para que a história termine de forma satisfatória.

Prime Video: Hanna - Season 3
Chega ao fim a jornada da máquina de matar chamada Hanna / Reprodução Amazon Prime Vídeo

A meta da temporada final é a volta de  Hanna, com a ajuda duvidosa de John Carmichael, à Utrax, com o objetivo de destruir a organização por dentro, atrapalhando os assassinatos dos possíveis jovens subversivos que estão numa lista gerada a partir de dados expostos e capturados na internet por analistas da organização. Sem tempo para perder, as cadetes são mandadas para suas missões homicidas em vários países onde deverão executar suas missões e Hanna junto com Marissa tentam impedir as mortes. Aqui a ajuda de John Carmichael é algo que vemos muito em cima do muro, ele é jogado de um lado para o outro de forma que fica nítido que ele não é bom e age por próprio instinto de sobrevivência, mas o roteiro poderia ter aproveitado melhor esse personagem que tem um background que poderia ter sido usado de forma mais astuta. Porém, o destaque vai para a performance da personagem Terri Miller (Cherrelle Skeete), que acorda no momento certo e também tenta ajudar nessa empreitada ambiciosa que Hanna e Marissa tentam obter sucesso.

A cagada maior começa quando o roteiro decide que Hanna precisa se apaixonar por seu alvo – aconteceu de forma instantânea, como se fosse pastel-, Abbas Nazir (Adam Bessa) ao ponto de não só salvá-lo, como também visitá-lo estupidamente em seu esconderijo, dando chance para que a Utrax voltasse sua atenção para a garota que dava sinais de ser um problema. Essas facilidades do roteiro em parte criam níveis de complexidade às operações da organização, mas não desenvolve, não dá forma e percebemos que o roteiro só joga e deixa no superficial. Outra coisa que não deveria ser clichê são os momentos de tensão. Se prestarmos atenção desde o início da saga, todos os momentos de aflição e perigo envolvendo Hanna são resolvidos com objetos simplórios como um garfo de plástico ou um prendedor de cabelo. Isso faz com que o roteiro fique preguiçoso, pois toda vez que uma complicação surge, ele resolve dá um jeitinho e como mágica está tudo resolvido.

No entanto, nem tudo é negativo. Apesar dos erros que foram repetidos ao longo das três temporadas, essa última sequência é dinâmica o suficiente para que possamos nos desvencilhar dos tropeços e focar nas cenas de ação que estão bem coreografadas e bem feitas. Algo que ajuda é o fato de ter apenas 06 episódios de duração padrão, além claro, de o objetivo de Hanna e Marissa não ser mais a investigação e, sim, acabar com toda a organização secreta que tem uma base em Berlim. Agora, a trama lida de forma honesta com o espectador fazendo com que desperte a vontade de assistir até o final – menos quando os dramas dramáticos caem de paraquedas como a forçada paixonite entre Hanna e Abbas e a conturbada e bizarra relação de pai e filha, Marissa e Gordon, aparecem para atormentar o telespectador. Contudo, algo que anuncia o fim de verdade é a volta de Hanna ao seu habitat “inicial”, ou seja, numa floresta na Alemanha que nos lembra aos episódios iniciais da primeira temporada, onde foi criada por Erik e de onde era esperado não ter saído. 

Hanna review: Season 3 can't break free of action-thriller tropes
Uma relação de ódio e amor entre Hanna e Marissa / Reprodução Amazon Prime Vídeo

Pelas entrelinhas, identificamos o carinho de Farr por Hanna, a personagem e a série, é óbvio e compreensível. Foi ele quem criou esse universo ficcional há mais de uma década, quando escreveu a primeira versão do que viria a se tornar o longa-metragem Hanna em 2011, dirigido por Joe Wright como uma mistura de conto de fadas com muita ação. Ao renascer num produto para TV, Far conseguiu contar a história que Hanna tinha que ter: uma agente badass muito estilosa no seu exterior, mas com um íntimo inundado por sofrimento e cheio de dúvidas sobre como é ser humana no século XXI. Apesar da pouca idade, Hanna amadureceu e mostrou para o que veio.

Aqui o suspense morno é posto de lado e a brutalidade eficiente das cenas eletrizantes de ação reina com destaque e proeza. Na Europa, a paisagem e os locais turísticos dão lugar a uma Europa pouco popular. Tudo aqui é deserto ou frio demais, como se esse ambiente fosse inóspito para a vivência de seres humanos. Aqui a trinca de diretoras, Anca Lazarescu, Sacha Polak e Weronika Tofilska, imagina e recriam o universo de Hanna de uma forma diferente, dando espaço para algo mais intrínseco e característico da personagem como a sensibilidade observadora, quase poética, mesmo em meio à violência que por vezes explode na tela. Aqui percebemos que a meta é retratar Hanna como uma pessoa que sofre os efeitos de uma existência pautada pela violência em um sistema de poder e de afeto artificiais e como cada personagem interage e reflete esse impacto na narrativa.

Ponto positivo para a trilha sonora que soube não ser previsível e muito interessante. Os efeitos especiais estão de acordo com o que foi oferecido em tela desde o começo. As atuações de Esmé e Mireille são incríveis, elas conseguiram transformar a relação de ódio do início em algo mais profundo e até verdadeiro nesta terceira e última temporada. Ray Liotta fez um excelente trabalho – ele consegue ser super assustador-, com um timing perfeito. E, felizmente, com dois episódios a menos do que o padrão, David Farr faz exatamente o que se propôs, encerrando uma narrativa de forma satisfatória. A trama pode ter demorado para nascer, mas seu final surpreendente não chegou nem um minuto atrasado.

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Resumo
Nota do Thunder Wave
critica-hanna-3a-temporada-2021Essa terceira temporada é o capítulo final da vida de Hanna, é quase como o ingresso dela na fase adulta. Para alguém que foi ensinada a lutar e resistir, vemos que por trás de toda essa brutalidade e selvageria, desperta uma mulher mais forte, decidida, madura e que fará de tudo pelo tão esperado recomeço. Aqui, Farr se despede de seu universo, de sua criação, de um projeto que demorou mais de uma década para finalmente nascer, crescer e encerrar brilhantemente. Se seguir a onda dos “revivals”... pode ter certeza que verei com carinho. Afinal, uma produção com mulheres no melhor estilo badass é um entretenimento imperdível.

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