Crítica | His Dark Materials – 2ª Temporada

Na mesma pegada da temporada anterior, a segunda segue reforçando assuntos sérios como o poder, religião, feminismo e muitas outras críticas sociais

A sequência de His Dark Materials, produção da HBO, continua a jornada de Lyra (Dafne Keen) atrás de informações sobre o Pó. Porém, desta vez a personagem não está sozinha e divide a tela com Will (Amir Wilson), visto anteriormente na primeira temporada de forma breve. Aqui falta um pouco da ação vista na produção de 2019, porém, as atuações em nenhum momento deixam a desejar, assim como outros aspectos como fotografia e efeitos especiais que foram mantidos com a qualidade.

Leia também Crítica | His Dark Materials – 1ª Temporada

Um ponto que “torci” um pouco o nariz foi a decisão de inserir de forma paralela e breve o personagem Will. No entanto, assistindo a segunda temporada, percebe-se o quão positiva foi a introdução de Will já na temporada anterior, pois já estamos familiarizados com o personagem e o roteiro não gasta tempo para introduzi-lo. As tramas de Lyra e Will se juntam logo no início da série que estreou no final de 2020 e a partir daí, a produção caminha de vez em seu universo.

His Dark Materials fans spot major easter egg from original books that  hints at the show's ending | The Independent
Em meio a indiferença, surge uma relação de amizade, proteção e amizade entre Lyra e Will / Reprodução

Continuando a partir dos acontecimentos da temporada anterior, a série acompanha Lyra, que após ter atravessado pelo portal criado por seu pai, Lord Asriel, encontra-se em um mundo totalmente diferente. Junto a isso, temos Will, que também tinha encontrado uma das janelas entre os mundos, e está fugindo da polícia e tentando descobrir mais sobre seu pai.

Na continuação de His Dark Materials, conhecemos um mundo diferente do de Lyra. Na verdade, a maior parte da história é ambientada em um mundo até então desconhecido, tanto para a garota quanto para o espectador, que é onde está localizada a cidadela de Cittàgazze. O mundo de Lyra e o de Will também aparecem, mas a cidade é o palco para os acontecimentos mais importantes desta sequência. Esse é um ponto que faz toda diferença na relação construída entre os protagonistas, pois em um ambiente que é desconhecido por eles, ambos precisam confiar um no outro para que consigam alcançar suas metas e logo percebemos que esse é o real intuito da produção: estabelecer a amizade entre os a garota e o garoto.

As explicações sobre os mundos paralelos e o Pó são feitas no decorrer da segunda temporada conforme Lyra e Will encontram personagens importantes para esta compreensão. Um ponto positivo é que não são explicações didáticas e maçantes, é tão natural que até quem assiste entende com rapidez a mensagem transmitida. No entanto, ficaram pendentes algumas respostas e algumas dúvidas ainda se fazem presentes para serem explicadas na terceira temporada que poderá chegar no final de 2022.

No geral, a série possui um elenco de ouro. A produção é muito astuta em construir personagens multilaterais, pois cada personagem tem o seu desenvolvimento tão bem feito que fica difícil prever suas ações e atitudes no decorrer dos episódios. Uma personagem que está mais visível nesse detalhe é Marisa Coulter, sendo a figura mais dividida de His Dark Materials. E podemos ver sua luta interna através da conturbada relação que tem com seu daemon e também com sua filha, Lyra.

His Dark Materials: Fronteiras do Universo – 2×05: The Scholar - SMUC
Ruth Wilson segue entregando uma personagem dúbia brilhando em tela com sua atuação espetacular / Reprodução

Algo que a obra faz é não mostrar tudo, o telespectador, assim como Lyra, não sabe muita coisa sobre os planos de personagens poderosos, ou mesmo a verdade por trás do Pó, ou Dust e assim, seguimos nesse mistério, absorvendo o que foi apresentado, porém nos fazendo deduzir sobre possíveis acontecimentos. Na verdade, a série nos deixa muito curioso e, por isso, cada episódio vai dando uma dica aqui, uma ali até o momento que juntando as peças para concluir algo, o enredo nos recompensa, revelando e confirmando, ou não, nossas teorias.

No quesito ritmo, deixou a desejar, pois as cenas de ação são poucas. Apesar disso, são bem elaboradas e coreografadas. E quando necessário, o uso do CGI é harmonioso e preciso, algo que continua impecável em todos os momentos, assim como vinha sendo na primeira temporada.

Outro aspecto de His Dark Materials que nos faz ficar maravilhados é o equilíbrio da mescla entre magia e ciência. A sequência que estreou no final de 2020, entrou de vez no conceito, principalmente devido à introdução de uma nova personagem: a doutora Mary Malone. Logo, essa relação é a transição entre os mundos e realidades paralelas e é a partir daí que enxergamos críticas sociais mais fortes. Ao longo da primeira temporada e da segunda percebemos alguns temas que são focos de debate pela série e um em especial é a retratação da mulher na sociedade na qual está inserida. 

A exemplo disso temos questões feministas, ao compararmos o atrasado mundo de Lyra com nossa realidade – que já não é lá essas coisas -, e o choque de Marisa Coulter ao descobrir que mulheres podem ser acadêmicas em nosso mundo, é marcante e tenebrosamente entristecedor, pois ela precisou desistir de muitas coisas devido ao tratamento que as mulheres recebem em seu mundo.

His Dark Materials (TV Series 2019–2022) - IMDb
Instituição religiosa, o Magisterium é o delimitador do conhecimento e livre arbítrio / Reprodução

Outra discussão que toma conta da série é o poder e o que pessoas que detêm o poder são capazes de fazer para permanecer nessa condição. Logo, por meio do Magisterium, ao usar a religião e a fé para controlar e dominar as pessoas, percebemos que o ponto principal da série é a guerra a favor do livre arbítrio, da liberdade de escolha e nesse universo, a religião prefere que sua sociedade seja privado do conhecimento, pois conhecimento é poder.

A segunda temporada também traz rapidamente alguns personagens queridos e dá mais espaço para outros secundários. Infelizmente, o adeus é obrigatório para alguns personagens e aqui vai um outro ponto negativo, faltou aproveitar melhor o ator James McAvoy (Lorde Asriel) e notamos que as bruxas não tiveram uma participação muito interessante e mal aproveitadas – elas ficam o tempo todo falando da profecia, que precisam proteger a criança e tal, muita repetição -. O ator Lin-Manuel Miranda faz um excelente Lee Scoresby e vai deixar saudades com sua interpretação esplêndida e Ariyon Bakare parece que foi feito para o papel de Carlo Boreal – ele sim, é um vilão com bagagem, com desenvolvimento bem feito e a interpretação dele é de deixar qualquer um com medo -. Outros que não foram bem aproveitados, mas que deram um show em tela são Andrew Scott, Terence Stamp e Bella Ramsey.

Concluindo, His Dark Materials entrega uma temporada curta com sete episódios que duram entre 45 min e 50 min. Um elenco que não desaponta e a união das subtramas sendo costurada aqui serve de ponto para a terceira temporada que já está confirmada para o final de 2022. Só nos resta ficar ansiosos pela próxima, e última, temporada, que já está em produção.

Nota do Thunder Wave
A segunda temporada segue reforçando as críticas sociais vistas na primeira temporada e embora tenha tido alguns deslizes como a falta de cenas de ação, o melhor aproveitamento de atores como James McAvoy, a série soube equilibrar muito bem os diferentes mundos retratados na obra de Philip Pullman. O elenco segue brilhante e a interação entre Dafne Knee e Amir Wilson é impecável em tela. Sinceramente? É possível fazer uma boa adaptação e instigar o espectador a ler a obra original como fez His Dark Materials.

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