Fiquei surpresa ao receber o convite para assistir o documentário sobre Sidney Magal. Embora o cantor, dançarino, ator e dublador brasileiro se mostra 100% disposto a falar sobre sua vida e carreira, a obra peca em seu desenvolvimento. É visível as derrapadas da produção assinada por Joana Mariani.
Já no começo Magal, abreviatura de Magalhães, revela que sempre teve o desejo de ser famoso, conhecido e adorado. Esbanjando simpatia e carisma, a personalidade forte do cantor é a personificação do ritmo latino. O início de sua trajetória profissional foi acompanhado de perto por sua mãe e foi um desafio e tanto. Para provar que poderia ser um sucesso sem a influência dominante de sua progenitora, Magal passou um período na Europa.
Conforme os minutos vão avançando, o documentário vai revelando mais detalhes da carreira do artista: começou como dançarino, depois veio o sucesso como cantor, mostrou que tinha talento para a sétima arte interpretando em novelas, filmes e musicais. Um artista multi tarefas resultado da dedicação de Magal em estar sempre em primeiro plano com o seu personagem de maior sucesso, Sidney Magal, o cantor latino com certa ascendência cigana que enlouquecia mulheres (e homens) por onde performava.
Para que a carreira pudesse sobreviver, Magal se viu obrigado a fazer escolhas como manter a sua vida amorosa longe dos holofotes para não perder o carinho dos fãs. Apesar da produção tentar ilustrar o sucesso da carreira do artista abordando várias fases da sua vida, perde-se muito em relação a real importância da narrativa. Somos apresentados a diversas versões de Magal. No entanto, Me chama que eu vou pouco representa a figura que se quer glorificar. O título poderia ganhar um significado novo se o roteiro buscasse discutir temas importantes como o preconceito que existia – e ainda existe – na indústria musical e que estava ligado ao preconceito de classes, a questões de gênero e etc.
Não sejamos injustos, há uma abordagem interessante sobre o que é brega e o que é popular. Vemos um resgate da tensão quando a obra deixa claro que Magal não foi um produto fabricado por nenhum produtor ou gravadora. Nesse sentido, Joana consegue avançar mostrando o artista único e original que Magal sempre foi. Vemos provocações como a crítica feita por Rita Lee ao cantor, o rótulo de brega como uma forma de diminuí-lo e o resgate elitista ocorrido no finalzinho dos anos 90 para os anos 2000 que o tornou cult, mas, infelizmente, não a obra não consegue contemplar tanto.

Ainda assim, houve espaço para muita superficialidade. Tudo foi tratado de forma tão rápida que discussões interessantes ficaram de fora como as suspeitas sobre a orientação sexual de Magal, como se um homem heterossexual não pudesse dançar e se vestir daquela maneira tão extravagante e única. Contudo, saber e se aprofundar com os detalhes mais íntimos da vida de Sidney de Magalhães, acaba sendo o ponto alto do documentário. É linda a sua história de amor com Magali, a relação com os filhos, a rotina tranquila na Bahia e tudo isso contrasta com a agitação do personagem que o fez famoso no imaginário dos fãs brasileiros.
Produzido dentro de um formato clássico Me chama que eu vou cheio de fotos, matérias de jornal e programas de TV para ilustrar o sucesso da carreira do artista, a produção conta com depoimentos do cantor, da esposa, Magali, e do filho, Rodrigo. Entretanto, mesmo com seu tom leve, o documentário agrega pouco ao tema da música popular ou mesmo à história de Magal, que felizmente é interessante e se sustenta sozinha. A verdade é que a obra anseia por mais ousadia.