Crítica | Meu Sangue é Vermelho

Longa acompanha o rapper Kunumi MC e debate a realidade dos indígenas no Brasil

0
4760

É uma realidade cruel e por ser uma pauta mais que relevante nos dias atuais, o longa documentário “Meu Sangue é Vermelho” produzido a partir da parceria entre a produtora britânica Needs Must Film com o rapper Owerá, da tribo brasileira Guarani M’bya, é importante, pois mostra ao mundo a realidade de indígenas brasileiros que estão vivendo um genocídio desenfreado em terras brasileiras. O longa chegará no próximo dia 24, sexta-feira, no VIMEO. Além disso, o filme ganhou 17 prêmios em festivais de cinema em todo o mundo em 2020, inclusive como melhor filme.

A violência contra povos indígenas tem crescido muito nos últimos anos. Com a postura do atual governo, a situação que já era preocupante ficou mais grave. De acordo com uma matéria publicada pela Revista Fórum Online, a retórica do governo propaga o ódio e é um dos motivos por expor os povos indígenas às situações de violência e violações de seus direitos. No ano de 2019, foram registradas as mortes de sete lideranças indígenas no país, o maior número em 11 anos. Outro levantamento divulgado no site G1 em 2019, evidencia que o número de indígenas assassinados cresceu 20% em relação ao ano anterior e para piorar, a pandemia de Covid-19, com taxa de mortalidade 16 vezes maior para esses povos.

Owerá e Criolo desenvolvem uma linda relação durante o longa / Reprodução

O longa acompanha Owerá (conhecido artisticamente como Kunumi MC Wera) visitando comunidades indígenas dos estados de Mato do Grosso do Sul e Maranhão e logo podemos perceber que a produção se preocupa em dar vozes aos líderes indígenas para que eles expressem suas dores e seus questionamentos, as injustiças sociais que sofrem e dessa forma, mostrar uma faceta desconhecida do Brasil. Apesar dessa peregrinação do jovem índio, vemos também que a obra mescla toda essa situação com a jornada dele como músico, destacando sua história de vida e como ele através disso se inspira para fazer o rap em busca de conscientização e proteção para o seu povo.

Uma grande surpresa do longa é ver o músico Criolo que assim como o jovem índio Owerá, canta a sua realidade. Percebemos que o encontro entre os dois é algo muito bonito, pois ambos falam de lutas enfrentadas, de dores e de desejos de uma melhora e além disso, vemos o aprofundamento a partir dos relatos de personalidades que estão por dentro da questão como o antropólogo, indigenista e franco-brasileiro Vincent Carelli, idealizador do projeto Vídeo nas Aldeias, a Sonia Guajajara e o Inaldo Gamela que são líderes indígenas que aconselham, orientam e informam Owerá e a partir dessa construção de informação é possível entender um pouco mais dessa realidade cruel.

O longa nos mostra que a luta é por um espaço. A reivindicação deles é a demarcação de terras indígenas que é um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, que estabelece aos indígenas o chamado “direito originário” sobre as suas terras ancestrais. Isso quer dizer que eles são considerados por lei os primeiros e naturais donos desse território, sendo obrigação da União demarcar todas as terras ocupadas originariamente por esses povos, segundo o site do G1.

Veja cenas documentário 'Meu Sangue é Vermelho' (2019) - 28/09/2020 - Guia  - Fotografia - Folha de S.Paulo
Momento em que os índios vão ao Congresso Nacional reivindicar seus direitos/ Reprodução

Uma cena emblemática é o ato durante o acampamento Terra Livre no Congresso Nacional (DF), com cerca de 200 caixões simbolizando as mortes indígenas. É bom salientar que essa manifestação foi duramente repreendida pela polícia e com isso, podemos ter certeza de que a política democrática é esquecida em muitos casos. O longa é sobre o massacre dos povos indígenas e o jovem índio se posiciona com sua música, com seu grito de guerra, com sua postura e atitude de defesa em prol de seu povo injustiçado antes e agora.

Porém, essa questão parece estar longe de ser resolvida. O documentário “Meu Sangue É Vermelho” mostra os diversos problemas pelos quais os povos indígenas sempre sofreram e que vem piorando na atual gestão brasileira. A violência e desmedida e brutal, essas pessoas são o alvo da desapropriação de terras e as consequências disso é que muitos deles acabam indo viver nas beiras das estradas ou ficam se mudando de um canto para outro e nisso perdem suas identidades e sucumbem à depressão, a tristeza de ver que não pode permanecer conectado com a natureza, com seus ancestrais, com suas raízes.

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por Favor insira seu nome aqui