A Netflix recentemente disponibilizou a terceira temporada de Never Have I Ever (Eu Nunca…) e podemos afirmar que a produção tem se destacado e é um acerto valioso no catálogo da streaming que já anunciou que a série termina em sua 4ª temporada. Ao longo de 10 episódios acompanhamos o amadurecimento de Devi, interpretada pela talentosa Maitreyi Ramakrishnan que entrega uma personagem forte, alegre e ao mesmo tempo fragilizada pelos percalços da vida.
A terceira temporada já se inicia com Devi e Paxton (Darren Barnet) e a situação está indo bem e conseguimos ver que até o terceiro episódio, a relação do casal é explorada, mas para a não surpresa de todos, a ansiedade da protagonista é mais forte e ela passa a dar mais importância ao que as demais pessoas pensam sobre ela do que seguir sua própria intuição e fazer suas escolhas baseadas naquilo que ela quer. Embora, eles se mostrem apaixonados, não é uma relação que dura por muito tempo, mas não por causa deles, mas sim pelo o que eles absorvem do meio que os cercam.

Algo importante a ser pontuado é que ambos reconhecem que o tempo que passaram juntos foi legal e se entendem de forma amigável, mas que algumas escolhas precisam ser feitas para que haja mudança em suas jornadas. Atravessar a puberdade é difícil e a série mostra que nem sempre é uma caminhada fácil, mas há dias que são melhores que outros.
Além de desenvolver a jornada de Devi, a série também direciona sua atenção para a mãe da garota, Nalini (Poorna Jagannathan), porque as duas precisavam se entender diante das coisas, e quando elas ficam de frente com Rhyah (Sarayu Blue) e seu filho Des (Anirudh Pisharody), elas têm a chance de aprenderem mais, de cuidarem uma da outra de uma forma melhor e de se permitirem a conhecer pessoas novas. O crescimento de Nalini também é um ponto positivo, pois assim como a filha, ela também sente falta do marido que morreu já no início da primeira temporada e tenta se reconstruir e seguir em frente.

Em Never Have I Ever, apesar de Devi ter compreendido sobre aproveitar a sua própria companhia e como focar sua energia em outras coisas, ela nos mostra que não superou todos os seus traumas, principalmente a morte de seu pai que ficou meio de lado no começo, mas após um gatilho, a memória voltou e a desestabilizou o que gerou uma outra situação complicada e difícil. Um dos momentos mais conflitantes e dolorosos foi a reação e a atitude de Rhyah. Mas é nesse momento de fragilidade e dor que Nalini demonstra ser uma mãezona e super protetora.
Outros arcos também tiveram suas chances de brilhar no seriado, como as tramas de Ben (Jaren Lewison), Fabiola (Lee Rodriguez), Eleanor (Ramona Young) e a do próprio Paxton. Nessa temporada, Fabiolo se separou de Eve (Christina Kartchner) que foi morar em outro país e o namoro a distância não foi uma saída assertiva. Nesse meio de campo, ela se envolve com Aneesa (Mega Suri). Contudo, elas entendem que o sentimento que surgiu foi por conta da admiração mútua entre elas e ambas decidem ser apenas amigas. E finalmente, ela conhece Addison com quem tem uma identificação muito mais intensa e forte do que as duas anteriores.

Já o arco de Eleanor é bem bizarro, mas tem um desenvolvimento fofo. Ela cresceu muito, conseguiu um job como atriz e conseguiu desenvolver de forma interessante seu relacionamento com Trevor, e ainda fazê-lo entender que ele precisa agir como uma pessoa da idade dele, sem brincadeiras e bobeiras fora de hora porque suas atitudes infantis lhe custariam a amizade de Paxton.
Após a separação, Paxton ainda teve mais um relacionamento que não foi tão legal assim. Todavia, o seu grande triunfo é vê-lo se preparar para alçar voos maiores como conseguir ir para uma faculdade e o fato de ele ter deixado claro que tudo o que conseguiu foi por conta de Devi lhe sacudir e fazê-lo enxergar melhor as coisas. O arco dele, foi um dos mais surpreendentes porque ele não é só mais um rostinho lindo (e corpo sarado), ele pode ser esperto também e provou que pode ir além.
Por último, mas não menos importante, a trajetória de Ben também foi interessante. Ele sofreu com a separação de Aneesa, e aprendeu muito. Ele passou por momentos tensos com a sobrecarga acadêmica que estava tendo, mas conseguiu se reconstruir focando suas energias em outras coisas como a arte, por exemplo. E um dos melhores momentos de Ben é dividido com Fabiola, que o faz entender que não é legal esfregar na cara dos outros que é melhor ou superior por conta dos estudos.

Em Never Have I Ever, temos também a trama de Kamala (Richa Moorjani) em um momento propício para se opor às escolhas de sua família em relação a vida dela. Isso a faz mais que uma marionete, mostra que ela tem força e coragem. É uma mulher decidida que sabe o que quer e fará de tudo para ter o amor que quer e deseja ao lado do professor Mohini, um indiano, que sua avó passa boa parte da série criticando por ele não saber nada da cultura indiana e parecer renegar sua origem. Os momentos dela com Nalini no apartamento novo sendo confundida com atrizes buscando chances foi engraçado hahahaha.
Um personagem que poderia ter um outro desenvolvimento é o aluno Eric (Jack Seavor McDonald), um rapaz gordo que atua como “Lady Whistleboy”, com um TikTok que ele usa como a personagem de Bridgerton, contando as fofocas do colégio. Mesmo sendo ridicularizado por ser gordo e meio desengonçado, Eleanor, Fabiola e Devi acabam descobrindo que ele não é mais virgem.
Never Have I Ever continua com um processo de desenvolvimento muito bom. O foco na passagem dos dramas e traumas dessa fase complicada é bem trabalhado e faz com que quem assiste se sinta confortado, pois nem tudo que acontece é da forma que queremos, mas sim da maneira que precisamos para que possamos mudar e evoluir.