Crítica | Never Have I Ever – 4ª Temporada

Uma jornada de amadurecimento, erros e acertos

Por mais triste que seja, encerramos com a quarta e última temporada a nossa jornada de autoconhecimento com a jovem Devi (Maitreyi Ramakrishnan), acompanhada de sua família e amigos. Uma das produções mais redondas e bem produzidas da Netflix, Never Have I Ever ou Eu Nunca… como foi traduzido no Brasil, chegou ao catálogo no mês de junho e encerrou de uma forma leve, divertida e com muita reflexão.

Assim como nas três temporadas anteriores, a quarta não começou diferente: já de forma divertida e com muitas emoções. Tudo pela perspectiva de Devi é muito intenso, ela nem sempre para para racionalizar um pouco e talvez seja por isso que as consequências de suas ações sejam desastrosas na maioria das vezes.

No final da terceira temporada, vimos que ela e Ben (Jaren Lewilson) tiveram sua primeira vez – ambos. É um momento complexo, pois ambos são próximos e precisam lidar com seus próprios sentimentos e um do outro. Mas é aí que não deu muito certo. Percebemos que os dois sentiram um misto de vergonha e um conflito interno avassalador pelo momento, o ato em si, não ter sido bom como esperavam. Infelizmente, eles acabam se distanciando e retornam para o último ano do colégio com ressentimento e mágoas que não souberam e não sabem como tratar um com o outro. Algo interessante de se perceber é que o foco das três primeiras temporadas era a virgindade de Devi, agora que ela já não é mais virgem, o seu foco é outro: entrar em Princeton.

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Já vimos em muitos filmes norte-americanos a corrida insana que é para entrar numa universidade de grande relevância e o caminho para conseguir a tão sonhada vaga na instituição dos sonhos não é nada fácil: as notas precisam ser altas e boas, além de muitos outros requisitos que precisam ser atendidos para que o estudante tenha a sua vaga conquistada. Mas algo que a série até dá uma explorada singela é: Ok, o estudante que ir para Princeton e se esforça em ser o melhor. Mas e depois? Ninguém nunca se pergunta sobre isso. Sobre o depois, pois o foco está tão ligado em entrar, em ser aceito que muitos não sabem o que fazer com a oportunidade que conquistaram por esforço e mérito. E o pior, se não forem aceitos? Ninguém fala sobre isso também, sobre como encarar e lidar com as frustrações da vida. Vivemos numa sociedade onde tudo precisa ser 100%, onde temos o sucesso como meta e quando não alcançamos o êxito em determinada coisa, não sabemos o que fazer com o sentimento de fracasso e frustração. Se tratando de uma obra coming of age, é importante falar sobre isso.

Em Never Have I Ever não vemos só o foco nos estudos. Devi busca incessantemente se realizar pessoalmente como fortalecer os laços de amizade com suas amigas Eleanor (Ramona Young) e Fabíola (Lee Rodriguez), entender como resolver sua relação com Ben, ver sua mãe bem e feliz e ter uma carreira de sucesso, embora ela seja motivada em honrar a memória de seu pai Mohan (Sendhil Hamamurthy) que morreu na primeira temporada e atingir as expectativas de sua mãe Nalini (Poorna Jagannathan) que tem seu arco mais desenvolvido e tem um desfecho bacana.

Crítica | Never Have I Ever – 4ª Temporada 1
Um personagem desnecessário / Créditos: Netflix

Com o desenvolvimento das temporadas, podemos perceber que o foco é vender uma realidade mais próxima da qual vivemos e não um produto fake que vende um sonho inalcançável. É claro que a vida que Devi vive, não se compara com a nossa, mas pelos obstáculos que vemos na série, a obra traz altos e baixos e nos dá muitos elementos que geram identificação como o bad boy pelo qual Devi tem uma paixonite. Quem não sabe o que é sentir tesão por uma pessoa  “errada”? Aqui Michael Cimino é Ethan que foi vendido como um personagem de grande relevância, mas a sua participação não foi como se imaginava. Mas de certo modo, ele deu uma movimentada na vida da nossa protagonista exagerada. 

À medida que os episódios se desenrolam, vemos que a produção direciona a sua atenção nas decepções em não alcançar um sonho de infância; ou até mesmo aprender que nem sempre somos o centro das atenções e que outras pessoas também têm seus objetivos e farão o possível para conquistá-los, além disso mostra a importância da família e da honestidade e verdade.

Never Have I Ever traz grandes jornadas de autoconhecimento que são importantes para o amadurecimento e evolução da série como um todo. A personagem Eleanor tem o sonho de ser uma grande atriz, mas se depara com a realidade de sua mãe que passou a vida toda em função da atuação e permanece no limbo com papéis sem tanta relevância. Incomodada e com receio de ter um futuro igual ao presente de sua mãe, ela segue um conselho valioso de seu namorado Trent (Benjamin Norris) que a encoraja a criar suas próprias oportunidades. Daí ela encerra o colégio mais cedo e cria sua produtora. Algo que tem sido comum atualmente. Muitas atrizes estão criando suas produtoras e se tornando diretoras para desempenharem papéis mais profundos ao invés de permanecerem no esquecimento ou serem escadas para personagens masculinos brilharem.

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Já Fabiola mostra sua vontade de mudar as coisas ao seu redor, como a falta de mais mulheres no seu clube de robótica. O maior conflito que ela enfrenta é a questão envolvendo a vaga em Princeton que ela conseguiu e que era cobiçada por Devi.

Embora Ben precise se resolver com Devi, ele também enfrenta as mudanças provocadas por sua ida para a Columbia. Após ter se deparado com as incertezas, ele conversa com o conselheiro da universidade que o dá mais uma perspectiva de que ser você mesmo é o caminho certo. Apesar de ter passado por altos e baixos, foi legal ver sua evolução.

O desenvolvimento mais legal foi de Paxton (Darren Barnet) que mostra que dar um seguimento, ser contínuo na vida é importante e que viver preso às experiências passadas e não querer mudar é um erro que se comete agora e que as consequências duram pra vida inteira. 

Crítica | Never Have I Ever – 4ª Temporada 2
Um dos momentos mais fofos da série / Créditos: Netflix

Em Never Have I Ever, vimos a relação da protagonista com sua mãe e sua prima. Vimos muitas situações conflituosas, mas que se desenvolveram e se tornaram laços verdadeiros de muito amor e companheirismo. Devi está prestes a ir para faculdade e se preocupa com a solidão de sua mãe. Logo a jovem dá um empurrão para que Nalini fique com o pai de sua inimiga, Margot. Embora mãe e filha se desentendam, vemos que a relação delas cresceu muito. Já Kamala (Richa Moorjani) com medo de enfrentar o futuro ainda passa por problemas e foca na vida de sua avó, para fugir de decisões que ela precisa tomar. Bem legal ver sua evolução foi bem importante.

No geral, é um elenco de peso que manteve a qualidade desde sua estreia em 2020. O roteiro foi inteligente em dar espaço para os personagens sem perder a mão e tornando a experiência de se assistir a série o mais prazerosa possível. Não poderia esquecer da Dra. Ryan (Niecy Nash) surge não só como uma terapeuta, mas uma confidente e mentora de Devi. 

Para concluir, a série finaliza sua jornada com saldo mais positivo do que negativo. Mesmo com algumas “barrigas” e conexões mais descartáveis que outras e alguns excessos, a produção consegue mostrar que na vida as relações que construímos sempre nos seguirão. O caminho que percorremos vai ser árduo, mas vale a pena se tivermos dedicação e foco, de nada vale o esforço se o objetivo não estiver bem delimitado. Enquanto há vida, há mudança. Foi um encerramento bonito.

Nota do Thunder Wave
A série é cercada de altos e baixos, uns episódios com momentos um pouco arrastados e até repetitivos, mas outros divertidos e reflexivos. No geral, foi um bom encerramento e vai deixar saudades. Vale o entretenimento.

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