A mais nova comédia romântica com um plus de ficção da HBO Max chegou recentemente ao catálogo da streaming sem pretensão de ser “O” filme, mas entre erros e acertos, a trama consegue prender a bunda do telespectador do começo ao fim. Em Nossos Sonhos de Marte acompanhamos dois jovens que decidem embarcar em uma nave espacial para Marte, para se unire aos seus interesses amorosos. Com personalidades totalmente distintas, Wal e Sophie precisam se ajudar para atingir seus objetivos, embora, o desfecho seja diferente do que o imaginado.
Algo interessante que a trama consegue fazer é dar um final diferente para os protagonistas – é claro que já sabíamos que os personagens de Lana Condor (Sophie) e Cole Sprouse (Walt) ficariam juntos, mas a condução deles é diferente do convencional. Cada um vive em seu próprio mundo, Walt trabalha como assistente de barista e se sente infeliz na terra e quer viver uma aventura e por isso sonha constantemente em ir para Marte. Já Sophie é uma estudante brilhante, que quer ir para Marte ver seu namorado.
Em Nossos Sonhos em Marte, percebemos que a narrativa é bem simples e segue o roteiro base de uma comédia romântica. O longa possui elementos de ficção científica e isso torna o visual muito interessante. Por mais bizarro e que seja de costume das comédias românticas estadunidenses, o longa não foca em desistir de quem você é para ficar com o amor da sua vida. Aqui vemos mais camadas, embora seja uma história superficial.

A trama se passa no futuro de 2049, onde a humanidade já colonizou Marte e envia regularmente pessoas para ajudar no processo. Trazendo para a atualidade, o longa conversa com nosso presente, pois é possível fazer uma referência com a atual corrida espacial, que tem o protagonismo de Elon Musk, na busca por desbravar o espaço. Ponto positivo pelo insight. Outro detalhe interessante é saber que Walt é um assistente do robô, ele é um humano que trabalha para uma máquina – na China, já temos atendentes robôs. E nessa vibe, o longa encaixa um sarcasmo, um humor ácido que até combina com a trama que é equilibrada com momentos de descontração, tristeza e romance.
O longa tem bons momentos e isso se dá pela forma como os personagens de Lana e Cole se relacionam gradativamente no decorrer da trama. Não é uma relação que acontece da noite para o dia e nem acontece de forma forçada, é natural. Enquanto Sophie é mais resiliente, o personagem Walt é mais descontraído e sempre tem uma piada, às vezes não funcionam. Algo que incomoda é que ele poderia ter tido um papel que lhe desse mais oportunidade de ser menos bobo já que é um papel que ele tem na maioria de seus trabalhos. Tirando esse defeito, a química entre Lana e Cole é boa, seus personagens são carismáticos o suficiente para prender a atenção dos amantes de romance.
Um ponto negativo vai para o tratamento que os personagens inteligentes tem. O longa passa a sua maior parte dentro de uma nave que por sinal está cheia de cientistas e que usam suas habilidades intelectuais para se mostrarem superiores, inclusive, esse é um defeito gritante na protagonista de Lana que no início se mostra um tanto chatinha deixando uma sensação de afastamento para o telespectador, mas depois vai ficando mais legal.

Outro ponto negativo é o enredo que se mostra falho como o uso exagerado de termos como “espaço” como prefixo para qualquer outra palavra. Além disso, algumas ligações entre situações dramáticas não dão certo, pois o filme se vale de algumas facilidades do roteiro e isso faz com que a trama fique pobre no quesito de coesão e no fato de estabelecer uma narrativa sólida. A mensagem de Nossos Sonhos em Marte é “ser alguém” com motivações e desejos próprios, com um lugar no mundo onde se possa ser quem é sem medo de julgamentos externos, mas o longa caga essa teoria quando decide por Walt para reencontrar uma ex-colega de classe por quem se apaixonou nas últimas 24 horas. Essa subtrama do interesse amoroso de Walt, se mostra desnecessária, já que o SONHO dele era ir para Marte – ele se inscreveu 37 vezes… é vontade mais que suficiente para ser o norte desse personagem na trama e não um flerte.
A trilha sonora não é tão ousada quanto poderia ser, mas gostei de curtir AJR e ver como usaram de forma coerente o CGI em suas ambientações fictícias. A direção de Christopher Winterbauer é preguiçosa, mas soube como conduzir os momentos cômicos. Além disso, os cenários bem elaborados, com bons cortes e uma fotografia interessante. Visualmente o filme é agradável e tem bons efeitos especiais, dentro das possibilidades que lhe foi permitido.
Em Nossos Sonhos em Marte, por mais superficial que possa ser, o longa aborda a jornada de dois jovens que precisam encontrar as rédeas das próprias vidas. Enquanto Sophie precisa trilhar sua própria caminhada, Walt é o mais perto possível da conexão que o público possa ter, ele é um cara que sonha em conquistar o que não encontra em si, algo maravilhoso e estritamente especial. E entre questionamentos e certezas, o longa acerta ao adotar esse propósito.