O Grande Mauricinho (‘The Amazing Maurice’) é uma boa opção para curtir com a criançada antes das férias acabarem. O longa é uma adaptação do livro ‘The Amazing Maurice and his educated rodents’, do escritor inglês de fantasia Terry Pratchett, que reimagina a história do *Flautista de Hamelin.
O filme tem como protagonista um gato falante e malandro que viaja de cidade em cidade oferecendo seus serviços como exterminador de ratos. Porém, na verdade, tudo não passa de um grande golpe. Com direção de Toby Genkel, o longa chega aos cinemas brasileiros com Marcelo Adnet fazendo a voz do gato Mauricinho, que, no original, foi feito pelo ator Hugh Laurie (o Dr. House).
*A história do Flautista de Hamelin é um conto folclórico que conta que um músico que hipnotizava os rainhos com o som de sua flauta, após ser contrariado e não receber o pagamento depois de acabar com uma infestação de roedores na cidade de Hamelin, o flautista resolve se vingar encantando todas as crianças do lugar e trancando-as para sempre em uma caverna.
O escritor Pratchett reimagina de uma forma mais lúdica a terrível história do Flautista de Hamelin. O livro ganha uma roupagem mais infantil com uma pitada de fantasia e comédia. O filme, cujo roteiro é assinado por Terry Rossio (Aladdin e Shrek), contempla personagens cativantes e apesar de ser uma trama simples, a narrativa está cheia de situações divertidas, reflexivas e reviravoltas.

No entanto, alguns pontos não funcionam bem como a forma que a história do Sr. Coelhito é intercalada com a história de Maurice e dos roedores. Além disso, temos a coprotagonista Marina Grima (voz de Emilia Clarke) que também é a narradora da história e não para de explicar todos os elementos narrativos – é legal e particularmente, sou fã da atriz. Mas poderia ser menos explicativa, o longa funcionaria melhor se ele andasse sozinho.
Contudo, o longa traz aquele artifício de interação com o público, a quebra da quarta parede. Alguns personagens e em especial Marina, são narradores da própria história, mas aproveitam para conversar com o público de forma direta durante todo o filme, o que traz um ar descontraído em cenas mais tensas como de ação e diálogos relevantes.
Em O Grande Mauricinho, a cidadezinha em que se passa a história, Panqueca Estragada conta com alguns outros golpistas – mais desonestos do que Maurice, Keith e seu clã de ratinhos fofinhos. Um detalhe incrível é que a narrativa desconstrói o estereótipo dos gatos que vemos comumente em outras produções e dos ratinhos que ganham personalidades variadas.

O grupinho de roedores letrados podemos dar destaque para a doce Peaches (Gemma Arterton), Bronzeado, o dançante Sardinha e o Perigoso Feijão. As cenas são uma mistura de ação, passagens reflexivas e momentos engraçados. É na dinâmica que vemos ser desenvolvida entre eles que temas como a amizade, a importância da comunidade, a relevância da diversidade, a questão da fé serem discutidos – de forma sutil, mas que se fazem presentes ali.
A animação mescla técnicas clássicas de animação e elementos em 3D e desenhos feitos a mão. Podemos perceber a linguagem cinematográfica em movimentos de câmera e escolha de planos, com passagens em primeira pessoa, rotações, inversões e cortes rápidos. A trilha sonora não sai muito do proposto para o que a obra quer entregar.
Por fim, O Grande Mauricinho é um filme que entre não só os pequenos, mas os grandões também. Aqui o filme animado ganha dublagem de Sophia Valverde e Marcelo Adnet. Com personagens marcantes, muita ação, aventura e posições claras sobre certas situações, diverte e deixa a sua mensagem reflexiva.
Uma cena que gostei: “Você não é bonito para ser o par romântico, não é engraçado para ser o alívio cômico, vai ver você é o amigo simpático que serve para ajudar a resolver os meus problemas éticos”.