O Oficial e O Espião (J’accuse) de Roman Polanski (O Pianista, 2002) chega aos cinemas brasileiros após sua grande Première mundial no Festival Internacional de Cinema de Veneza, tendo levado o Grande Prêmio do Júri, concedido ao segundo filme de maior destaque do evento.
Com base na história real de Alfred Dreyfus, a trama apresenta o Capitão e Oficial de Artilharia do exército francês, de origem judaica, que foi acusado e condenado em 1894 como traidor, sendo então degradado do exército e exilado na Ilha do Diabo. Polanski refaz a trajetória do Tenente-coronel Georges Picquart, do dia da execução da condenação de Dreyfus até o ano de 1899, quando Dreyfus é anistiado e deixa a prisão, mesmo sendo ainda considerado culpado.

Baseado no livro An Officer and a Spy (O Oficial e o Espião, sem tradução para o português), do jornalista britânico Robert Harris, que assina o roteiro junto de Polanski e do artigo de Émile Zola J’accuse (Eu acuso), o longa ambientado durante a Terceira República Francesa retrata o caso Dreyfus de maneira singular.
Com um clima social instável, Dreyfus (Louis Garrel) é condenado por alta traição e Georges Picquart (Jean Dujardin) assume o departamento do serviço de inteligência, que precisa ser organizado após seu antecessor tê-lo negligenciado por estar doente. Durante seus dias de trabalho nota que os vazamentos de informação não pararam desde a condenação de Dreyfus e decide investigar a fundo.
Louis Garrel e Jean Dujardin são excepcionais e com uma similaridade que impressiona, a caracterização dá a impressão de estar vendo os personagens recém saídos de uma fotografia. Com mais de duas horas de duração, o roteiro em seu ritmo constante não deixa que o longa se torne cansativo, mas provoca ansiedade no espectador para saber quando as farsas serão reveladas, deixando até mesmo um gosto amargo no final. O retrato de como o antissemitismo, também presente e crescente após a condenação de Dreyfus, deixa uma marca importante para entender o período histórico do filme.

Roman Polanski
Em novembro de 2019, a uma semana da estreia francesa do longa, uma nova denúncia de estupro surgiu contra Polanski, dessa vez vindo de Monnier, atriz e ex-modelo, que afirma ter sido violentada aos 18 anos em um chalé em Gstaad na Suíça. Polanski se declara inocente dessa acusação.
Porém a estreia foi marcada por protestos e boicote ao diretor, que foi expulso pela Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, responsável pelo Oscar, em 2018. Já condenado nos Estados Unidos pelo abuso sexual de Samantha Geimer, com 13 anos na época, e se encontra impedido de voltar ao país por ter uma ordem de prisão.

No Brasil, o filme chega aos cinemas em 12 de março.