Crítica |O Olho e a Faca

Longa produzido pela HBO chega em março

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A trama tem como plano de fundo uma plataforma de petróleo onde trabalha Roberto que criou fortes vínculos de amizade. Uma inesperada promoção, no entanto, abala a estabilidade de suas relações profissionais em um momento em que ele também vive uma grave crise familiar.

O Olho e a Faca é um filme de Paulo Sacramento, que tenta dar um tom dramático, mas que se perde no desenrolar do longa. O elenco é bom e a trama tem pontos que podiam ter sido abordados de uma forma melhor. Rodrigo Lombardi interpreta Roberto que é um profissional dedicado e que vem se destacando. Vemos logo no inicio uma amizade fiel e autentica entre Roberto e Wagner, vivido por Roberto Birindelli, que se entendem e já tem uma longa amizade. A interação com os demais colegas se faz presente e como um todo, são grandes amigos, uma família. Porém, tudo muda quando Roberto se vê diante de uma promoção. Aquele que na visão dos colegas se mostraria um bom Gerente Operacional se tornou parte da engrenagem da máquina chamada “poder”. 

Roberto passa a cometer erros crassos e aquela pessoa que seus colegas admiravam, parece ter se perdido. Nas grandes empresas, isso acontece com freqüência. Quantas vezes um colega mais próximo e engajado que demonstra certa empatia muda ao ser promovido. Isso mostra o quanto se faz necessária a gestão de profissionais para que estes se tornem encarregados e façam parte de uma liderança justa e comprometida com seus liderados. Vemos que parte da rejeição por parte dos companheiros vem do despreparo da companhia em treiná-lo, em oferecer suporte para que ele seja um bom Gerente. Devido a esse tipo de comportamento, empresas perdem muitos funcionários que trabalham bem, por não saberem fazer gestão de pessoas. E o que vemos no filme é exatamente isso, cada um vai se retirando da forma que pode. 

O Olho e a Faca
Wagner amigo mais próximo de Roberto / HBO

Assim como sua nova jornada no trabalho está difícil, sua vida pessoal está um caos. Sua mulher está quase sempre insatisfeita. Sua esposa, interpretada por Maria Luisa Mendonça está limitada a sua personagem. Inexpressiva e constantemente incomodada com a falta de algo, a personagem não tem uma presença cativante. O filho mais velho é rebelde e demonstra uma revolta muito grande. Falta a presença do pai. Eles não conversam, não tem uma relação. Já com o filho caçula é diferente. Eles tem uma relação de pai e filho. Se entendem, se completam. É atenção demais para um e distanciamento demais para com o outro. Outra relação conturbada é com seu pai. Roberto não tem uma boa relação com o pai que logo depois é hospitalizado e o motivo disso não é explicado de forma explicita. Essa situação parece que foi jogada. Para arrematar a história, Roberto tem um caso com a personagem interpretada por Débora Nascimento que poderia muito bem ter sido retratada de outra forma. O que podemos entender a partir da cena de sexo entre eles e a cena em que ela está conversando e Roberto não presta atenção no que ela diz, é que ela não passa de uma diversão. 

Embora o filme seja repleto de problemas sociais que acontece em muitos núcleos familiares, o roteiro e a direção tratam de forma superficial. A todo momento, de forma aleatória, vemos a placa de acidentes da plataforma junto com flashbacks de um acidente que marcou a equipe de petroleiros. Mas, falta explicar isso ao telespectador. De certa forma, a produção tenta mostrar o fracasso de Roberto e no decorrer vemos ele em situações em que ele se encontra fora de si, pensando em outras coisas, como se estivesse enlouquecendo, paranoico. O corvo é colocado para representar uma metáfora, os tempos ruins. Mas, isso também não faz sentido para quem assiste. Novamente, alguns artifícios tem a ideia boa, no entanto, a execução é incerta e gera desconforto em quem espera se deleitar sobre uma proposta que parece ser inovadora no início e se mostra perdida no decorrer. 

Por fim, com um roteiro “capenga” O Olho e a Faca mesmo com pontos negativos e superficiais em certos momentos, é uma produção que merece ser assistida porque aborda o descaso, a fantasia e o sonho, as amizades, as relações entre líder e liderado, a rotina de trabalho e tudo isso culmina num surto psicótico onde vemos alguém que busca equilíbrio mental e emocional, mas está atormentado demais para seguir.

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