A comédia é, indiscutivelmente, um dos gêneros mais aproveitados pelo cinema nacional. Ainda que longas de várias outras vertentes venham se destacando e adquirindo relevância nos últimos anos (como o policial, o suspense e até mesmo o terror), o humor ainda responde por grande fatia da produção cinematográfica brasileira. Não sem motivos, uma vez que não nos faltam humoristas de qualidade no país. Mas dentre os vários subgêneros que a comédia nos oferece, a comédia romântica (tão popular a nível mundial) acaba sendo menos aproveitada do que poderia ser. É justamente nessa categoria que O Palestrante, dirigido por Marcelo Antunez e estrelado por Fábio Porchat e Dani Calabresa, se encaixa.
No filme, conhecemos Guilherme, um contador que passa por um momento bastante desanimador em sua vida, tanto afetiva quanto profissionalmente. Mas como sua maré de azar parece estar longe do fim, ele acaba sendo demitido e abandonado pela namorada, mostrando que o seu fundo do poço ainda não havia sido atingido. Em uma reviravoltada inesperada, contudo, ele tem a oportunidade dar novos um novo rumo à própria vida ao assumir a identidade de um famoso palestrante motivacional, contratado por Denise para melhorar a sua relação com os funcionários de sua empresa.
O filme aposta nessa nova subversão de O Princípe e o Plebeu, com Guilherme se envolvendo em um imbróglio cada vez maior enquanto tenta esconder sua falta de experiência como palestrante motivacional (os popularmente conhecidos coaches), além, é claro, de sua própria identidade. Como comédia romântica que é, há também elementos bastante óbvios do gênero, como o protagonista que mente para uma mulher pela qual invariavelmente se apaixona, estando cada vez mais preso às consequências de sua mentira. É um clichê, mas é difícil dizer que não é exatamente o que se espera deste tipo de filme. É uma fórmula comum, até mesmo esperada pelo público, e aqui foi bem trabalhada.
Tudo isso regado a muito humor. Há piadas a todo instante, praticamente em todas as cenas, e a maioria delas realmente funciona bem, sendo capazes de tirar risos da plateia. Claro que há muitas brincadeiras sobre o mundo dos coaches e seus métodos, mas não são explicitamente ofensivas, um cuidado que o filme teve. Algumas outras, contudo, podem gerar alguma controvérsia, mas provavelmente nenhum risco de “cancelamento”, uma vez que há um esforço em tornar o longa divertido e leve. Isso também é visível na mensagem sobre a necessidade de viver a vida como se quer, além da honestidade para com quem se ama, algo que também é esperado do gênero.
O elenco conta com comediantes experientes, a começar pelos próprios Porchat (que também assina o roteiro, junto a Cláudia Jouvin) e Dani Calabresa, além de Maria Clara Gueiros, Miá Mello, Paulo Vieira, Otávio Muller e Antonio Tabet, todos muito confortáveis sob a direção de Marcelo Antunez. Apesar de ter sido filmado em 2018, ele só chegou aos cinemas brasileiros agora, principalmente graças à pandemia.
O Palestrante segue um pouco a escola do humor do Porta dos Fundos (do qual Porchat foi um dos fundadores), que tanto tem ajudado a moldar a comédia brasileira contemporânea na última década. Ele diverte com seu diálogo entre clichês bem conhecidos e temas atuais, mas com uma abordagem simples, que pode ser aproveitada por todos. O filme conquista na sua simplicidade e sinceridade de não tentar ser o que não é. Talvez esta seja justamente a sua maior força.
Por: Wallace William