A Netflix promete um ano intenso com muitas produções e tentando acertar no bom gosto, o recém The Adam Project ou O Projeto Adam é um exemplo dessa tentativa do streaming. A nova produção dirigida por Shawn Levy e protagonizada por ninguém menos que Ryan Reynolds, traz uma trama que mistura ficção científica, aventura, drama e uma pitada de humor que prende do começo ao fim, além de ter um elenco talentosíssimo.
Caso ainda não tenha percebido, o longa brinca com a questão de ir e voltar no tempo e a sensação que temos é de estarmos assistindo a um típico filme da Sessão da Tarde. O Projeto Adam acompanha Adam Reed interpretado por Ryan Reynolds, um piloto do ano 2050 que rouba uma aeronave capaz de viajar no tempo. Por um engano, Adam viaja para o ano de 2022, quando tinha 12 anos de idade e enfrentava problemas com asma, brigas na escola e estava passando pela fase do luto após a morte de seu pai. Se vendo obrigado a recrutar seu eu adolescente interpretado pelo fofo Walker Scobell, para o cumprimento de uma missão pessoal, Reed se vê na mira da implacável Maya Sorian papel de Catherine Keener, uma mulher ambiciosa que é ex-sócia de seu pai, Louis, personagem de Mark Ruffalo — físico que acidentalmente tornou-se patrono da tecnologia que viabilizou a viagem temporal.

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Coincidências ou não, O Projeto Adam é dirigido pelo mesmo diretor de Free Guy – Assumindo o Controle, Shawn Levy que repete a parceria com Reynolds e juntos entregam um longa interessante que aposta na nostalgia, no pós modernismo e no humor. A direção de Levy não é algo espetacular, mas tem potencial e embora não tenha entregado o que poderia ser o início de uma nova era para a ficção científica, The Project Adam, se mostra inovador com sua roupagem oitentista e aquece os corações de quem gosta de uma boa aventura.
O objetivo de Adam é ir até 2018 para evitar que algo de ruim aconteça, porém no meio do caminho precisa resolver outros assuntos que até então não tinha intenção de fazer. Apostar no sentimentalismo faz com que o longa se perca um pouquinho, isso porque o roteiro poderia ter estruturado melhor as subtramas dando uma profundidade mais adequada para a produção. Logo, a mescla entre drama, humor ácido, ação e ficção não caminham de forma harmoniosa, pois o foco fica dividido demais e esse gap no roteiro evidencia a falta de revisão que pode ser percebida em vários momentos. Mas de qualquer modo, foi muito bom rever o casal interpretado por Jennifer Garner e Mark Ruffalo, os pais de Adam, que, infelizmente, não tiveram suas participações tão aproveitadas.

A atriz Jennifer Garner, interpreta Ellie, a mãe de Adam, que parece ter sido esquecida ali, porém brilhou com maestria na cena em que divide com o garotão Reynolds. Ambos sentados no mesmo balcão de bar, compartilham a dor do luto pela morte prematura de Louis — ela, sem saber que o homem que a conforta com palavras bonitas é seu filho já adulto. Permitindo que o espectador testemunhe o reencontro físico de uma pessoa com o seu passado, atravessado pelo prisma universal da dor da perda e do amor familiar, esse momento consegue legitimar a viagem no tempo de forma envolvente e real.
O espaço reservado para Ruffalo também poderia ter sido melhor aproveitado, mas mesmo assim com a sua entrada, temos um gás para o longa na medida que vemos o personagem interagir com seus filhos em diferentes momentos da vida dele. Afinal, na cena de 2018, vemos Louis e a esposa Ellie serem outras pessoas em outro momento da vida deles. Aqui vemos que o ator se mostra extremamente confortável no papel do físico e consegue somar para a boa dinâmica que Scobell e Reynolds já tinham estabelecido na história nos minutos anteriores a sua entrada na trama.
O ponto positivo da trama é justamente a interação entre Scobell e Reynolds que revelam uma química muito interessante que se arrasta desde o começo ao fim da obra. A produção acertou ao interpor esses personagens, que na verdade são a mesma pessoa em tempos diferentes. A conexão entre as versões foi feita de forma correta, pois ambos se entendem e se complementam a cada cena com posicionamentos astutos, tudo realizado de maneira exemplar. E a sensação que é transmitida é de vermos um espelho, o velho reflete o novo com os maneirismos, piadinhas, trejeitos… essência. Aqui, Walker Scobell aceita o desafio de ser a versão mais nova de Reynolds e acerta em cheio. Ryan como sempre, timing perfeito, atuação impecável… impossível se cansar dele.

Outra personagem que teve um tempo curto de tela, mas que brilhou com sua cena de ação bem coreografada e entrada triunfal ao som da memorável “Good Times Bad Times”, do Led Zeppelin foi Zoe Saldana, Laura, a mulher de Adam. Ela é fundamental ao enredo na qual serve de gatilho e motivação para a grande missão de Adam em retornar ao passado. Infelizmente, a moça foi brutalmente arrancada do longa, só retornando numa pontinha bem no fim da trama.
Já a vilã interpretada com a elegância de sempre de Catherine Keener, apesar do talento da atriz, o longa transmite mais seu carisma e sua delicadeza do que uma sensação de perigo. Pode ser que essa tenha sido a proposta da direção que queria caminhar na leveza e não mostrar um vilão horrível. E a sua versão rejuvenescida é TERRÍVEL. O que aconteceu com o CGI aqui??? Foi de propósito ou passou despercebido? Ponto negativo.
A conclusão do longa traz a resolução do conflito de forma clichê, mas aconteceu conforme o esperado. Porém, rendeu uma das cenas mais tocantes do longa, o encontro de Louis e Adam em suas versões em uma passagem simples e muito emocionante. O Projeto Adam traz uma premissa interessante sobre viagem no tempo na qual desenvolve a aventura dos protagonistas que mergulham em um drama na medida certa ao tentarem lidar com questões pessoais e sentimentais a partir de reencontros e novas escolhas. É um filme que apesar das derrapadas cumpre sua proposta com ousadia equilibrada e sem prepotência, além de contar com um elenco maravilhoso. É uma boa pedida para o final de semana em família.