No dia 13 de julho, estreia o longa Perdida, baseado no livro de mesmo título da autora Carina Rissi, que deve estar pulando de alegria ao ver três de seus livros adaptados quase ao mesmo tempo. Diferente de No Mundo da Luna (2022) e Procura-se (2022) que foram lançados na HBO Max e não agradaram tanto o público devido às mudanças catastróficas que tiraram boa parte da alma da obra original, o filme estrelado por Giovanna Grigio consegue emocionar por manter boa parte dos acontecimentos da obra original e prova que não há nada melhor do que um romance para aquecer o coração.
Na trama, Sofia (Giovanna Grigio) trabalha em uma editora onde tenta emplacar uma edição crítica e atualizada de Orgulho e Preconceito, de Jane Austen. No entanto, alguns colegas pensam que as mulheres de hoje não querem romance. Além de se sentir frustrada por não ser ouvida, ela está decepcionada com o amor… deixou de acreditar que pode existir um final feliz na vida real. Ao tentar desabafar com sua melhor amiga, Nina, que para surpresa de Sofia, anuncia que irá se casar e se mudar para a Austrália.
Foi um choque e a protagonista se sentiu ainda mais sozinha. Mas no meio dessa confusão toda, sua vida sofre uma reviravolta daquelas com direito a uma fada madrinha bem hippie interpretada por Luciana Paes – que está incrível -, que a manda para o ano de 1830, época em que a própria Sofia acredita existir o verdadeiro amor. Agora, 200 anos antes de sua época, Sofia precisa encontrar uma forma de voltar para casa, mas não sem antes dizer às mocinhas da época que elas devem ser independentes, e, voltar a acreditar no amor verdadeiro e como todo conto de fadas, seu príncipe encantado é o cobiçado Ian Clarke (Bruno Montaleone).

Antes de qualquer coisa, preciso parabenizar a produção. Me senti como se estivesse assistindo a uma novela da TV Globo. Sabe, aquelas de época? Como aquela Orgulho & Paixão com a Nathalia Dill ou aquela Além do Tempo com a Alinne Moraes? Ou aos filmes hollywoodianos com Keira Knightley que resgatam cenários e figurinos exuberantes e retratam com destreza a época que se quer representar? Ao longo da obra, é muito bonito ver o trabalho de caracterização não só dos personagens, mas os lugares, a caligrafia, o modo de falar e etc. Achei bem feito. Ponto positivo!
Além disso, o elenco é carismático e possui uma química incrível. Gosto muito dessa pegada moderna que mistura a questão do amor, mas com um viés não tão romantizado. É bom ver mocinhas que não se prendem à estética estereotipada de que elas precisam ser salvas por alguém quando na verdade, elas são as agentes responsáveis pelas mudanças em suas próprias vidas.
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Quando Sofia é levada para 200 anos antes de seu tempo, ela sofre um choque, pois as diferentes realidades fazem com que a mocinha enfrente situações que já deveriam ter sido superadas, mas não foram. Vemos que ela é julgada por ser diferente das outras mulheres, pois tem atitudes que para o século XIX não eram vistas como femininas, além disso o filme aborda a necessidade de a mulher ter a obrigação de ter um relacionamento para que seja validada a sua existência – isso acontece até os dias de hoje, infelizmente -, e a cereja do bolo: a idade, “afinal você já está ficando velha para casar”, o relógio biológico não para para as mulheres.
O longa soube como transportar para as telonas as dificuldades de ser uma mulher independente do século, da época em que se vive. Infelizmente, ainda somos vistas como um objeto de prazer, um troféu para ser exibido e apreciado como se não tivéssemos nada mais para oferecer como nossa inteligência, por exemplo. E o pior, o longa mostra como o machismo era enraizado nas mulheres, pois era comum a mãe ou a responsável da garota, oferecê-la para um bom partido como se fosse um pedaço de carne. Outro detalhe: a rivalidade feminina, muitas delas acabavam degladiando entre si para ver quem fica com o maior partido, fazendo o que for preciso para eliminar a concorrência.

Mas a reflexão fica por conta do amor. Como já se sabe, a sociedade relatada no mundo de Austen revela que nem todas se casavam por amor. Na época, regras absurdas impediam mulheres de herdar bens, obrigando-as a se casarem para não perderem a fortuna da família. Época em que casar por amor não era regra, mas, a exceção. E com a chegada de Sofia, foi possível ver as estruturas dessa sociedade regida, balançarem porque não estava pronta para reconhecer o amor verdadeiro que para existir precisa aceitar o outro com suas qualidades e defeitos. Apesar disso, insistimos em moldar o outro a nossa existência, tentando encaixar numa fantasia romântica que, geralmente, só existe na nossa cabeça e não dá muito certo.
Em Perdida, vemos um mocinho totalmente diferente, pois Ian Clarke é mais humano, doce, gentil, romântico… um príncipe, enquanto Mrs. Darcy permanece longe do príncipe ideal de príncipe devido a sua arrogância e egoísmo. O longa é uma adaptação rica em detalhes não só de sua história, mas também na sua trilha sonora, figurino, cenários e um elenco de peso.
Com roteiro escrito por Luiza Shelling Tubaldini, Karoline Bueno, Katherine Chediak Putnam e Dean W. Law com a colaboração da própria autora consegue fazer uma excelente adaptação da obra literária sem prejudicar o desenvolvimento da trama e nem deixar de fora os principais pontos que os fãs esperavam ver na telona. Distribuída pela Star Distribution, o filme estreia dia 13 de julho nos cinemas.