The Boys foi uma estreia ousada, adaptando quadrinhos igualmente ousados Garth Ennis e Darick Robertson, que não tiveram medo de expor os absurdos do controle das corporações usando uma temática popular e que sempre trazia mensagens positivas: Super- Heróis. Em sua primeira temporada, a trama agradou e muito, sabendo balancear as críticas sociais com a dose certa de insanidade nos acontecimentos, se tornando praticamente um fenômeno.
Enquanto o primeiro ano parece testar se o público estava pronto para ver tudo isso em tela, deixando alguns momentos chocantes de fora, o segundo ano chega sem nenhum pudor, entregando toda a loucura visual que pode e sabendo que os fãs vão conseguir absorver suas mensagens. É assim que começa essa temporada, já abrindo com episódios frenéticos e violentos que vão ditar o ritmo da série.
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Enquanto o arco inicial apresentou e cativou com seus personagens, a trama da segunda temporada aproveita a ótima formatação de cada um e se aprofunda em boa parte do núcleo. Através de flashbacks e diálogos explicativos, a narrativa apresenta muito do passado de cada um, principalmente de Billy Butcher (Karl Urban), Mother’s Milk (Laz Alonso), Frenchie (Tomer Kapon) e Hughie Campbell (Jack Quaid), em momentos que justificam como se tornaram essas pessoas complicadas e fecham as questões deixadas em aberto até então. Butcher possui um destaque ainda maior, cruzando as informações de seu passado com as consequências dos acontecimentos finais da temporada anterior.

A principal e mais acertada mudança é o protagonismo feminino. O roteiro aproveita que a critíca machista já foi bem estabelecida na trama anterior e eleva as mulheres em suas representações e anseios. Starlight (Erin Moriarty) e Maeve (Dominique McElligott) são as mais afetadas nessa mudança, ganhando novas personalidades, mais fortes e muito mais destacadas, como repercussão dos acontecimentos da temporada anterior. Já Kimiko (Karen Fukuhara) ganha um arco interessante, tendo seu passado e sua personalidade, até então pouco explorada, como mote ao longo dos episódios.
A nova adição ao time reforça o feminismo da série, Stormfront (Aya Cash), que nos quadrinhos originais é um homem, chega revelando aos poucos suas intenções e força, mostrando ser a única com poderes à altura do temido Homelander (Antony Starr). É ela que dá o estopim para o grande acontecimento dessa temporada: o crescente declínio psicológico de Homelader. O personagem, que já vinha tendo algumas crises existenciais nos acontecimentos anteriores, parece sofrer muito mais com a ameaça de uma mulher mais poderosa que ele e dessa vez cruza um caminho sem retorno para uma possível e ameaçadora loucura total que prejudicará a todos. Starr, que já provou seu talento com o herói, destaca ainda mais sua atuação em momentos de insanidade impressionantes.

The Boys é uma série crítica e isso não fica esquecido na nova história. De maneira orgânica e totalmente bem encaixada nas cenas, o roteiro ainda faz críticas sociais e investe muito em desigualdade nesse ano, em pequenas falas ou ações engajadas dos personagens que apresentam essas questões. Entretanto, a crítica mais gritante gira em torno da própria proposta da trama, preconceito contra estrangeiros e o crescimento de movimentos de supremacistas brancos são colocados a todo momento em pauta, sendo até mesmo a motivação de novos heróis. São temais atuais que precisam desse destaque, principalmente nos EUA, que vive um momento complicado em relação a esses assuntos.
The Boys consegue se superar em sua 2ª temporada. Encaixando mais os acontecimentos, explicando as partes deixadas em aberto e crescendo muito seus personagens, principalmente os femininos, enquanto faz críticas atuais e necessárias, o novo ano chega agradando e provando que ainda há muito mais a ser explorado nessa insana série.