Crítica | Um filho

Longa que estreia no dia 23, divide opiniões

O filme Um Filho (The Son) entrou na minha lista por conta de seu antecessor, Meu Pai. Assim como eu fiquei emocionada com o trabalho apresentado no primeiro longa da trilogia que finaliza com “The mother”, acreditei que seria tão bom quanto e minhas expectativas estavam altíssimas, até. Assisti durante a cabine de imprensa para a qual fui convidada e achei uma produção avassaladora e assim como eu, muitos que estavam presentes choraram. Infelizmente, é um longa que gerou muitas críticas, algumas positivas, outras nem tanto. Muito se especulou das possíveis premiações que o longa participaria, porém, foi deixado de fora. Embora aborde um tema extremamente importante, sua montagem/condução foi mal feita.

Alerta de gatilhos: É um filme que trabalha a depressão e o suicidio. Se você não está bem, por favor, procure ajuda e não veja a produção que será criticada neste texto. É de extrema importância, que você, caro leitor, compreenda. Caso precise conversar com alguém, ligue para 188 e converse com um voluntário do Centro de Valorização da Vida. É um serviço gratuito, preserva o anonimato e o atendimento é feito com muito respeito e empatia.

A sinopse é bem simples e começa com Peter, papel de Hugh Jackman, vivendo feliz com sua esposa Beth, vivida por Vanessa Kirby, e seu filho recém-nascido, Theo. Em um determinado dia, sua ex-mulher, Kate, vivida pela talentosa Laura Dern, bate em sua porta dizendo que seu outro filho, Nicholas, interpretado por Zen McGrath, está precisando de ajuda. Sem imaginar o que está por vir, ele precisará deixar todas as suas ambições futuras um pouco de lado para cuidar de seu filho e não soar parecido com seu próprio pai Anthony (Antonhy Hopkins), do qual possui um certo ressentimento por tê-lo deixado de lado quando mais novo.

Crítica | Um filho 1
Hugh Jackman e Zen McGrath interpretam Peter e Nicholas em The Son / Reprodução

O título de Meu Pai fez jus ao que o longa retrata, é direto e sabemos que se refere a figura paterna interpretada por Anthony Hopkins. No entanto, “The Son” se mostra ambíguo, pois não diz respeito apenas ao filho de Peter, mas fala sobre Peter também na condição de filho de Anthony. E ao não saber muito bem aonde quer chegar, a montagem traz duas perspectivas que não se encontram, por mais que se veja esforço não só da equipe técnica, mas da direção e dos atores.

Assim como mostra no longa, a adolescência não é uma fase muito tranquila para boa parte dos seres humanos que a enfrentam. A transição da idade infantil para a adulta pode ser uma experiência confusa e complexa não só para os jovens, mas para seus pais também. É com essa complexidade que o longa inicia e ao iluminar o jovem Nicholas que se mostra uma pessoa que ainda não achou seu lugar no mundo, que não se sente compreendido, que se sente perdido e se sente dissociado da vida, como se não fizesse sentido algum ele estar vivo, a obra de Florian Zeller dá palco para uma doença muito comum, mas pouco falada a depressão na adolescência.

Não estou conseguindo viver, não sei o que fazer com a vida. Tenho dor o tempo todo.

Nicholas em The Son, 2023

O longa mostra uma verdade universal e que se intensificou com o uso das redes sociais. A sociedade exerce uma pressão medonha para que todos tenham sucesso, sendo proibido falhar, fracassar e errar. A partir do momento que tomamos um pouco de intimidade com o trabalho, a rotina e o jeito de Peter, pai de Nicholas, percebemos o quanto essa cultura ainda ecoa nos nossos ouvidos, pois quem nunca escutou de um pai ou uma tia que devemos fazer uma faculdade, trabalhar num emprego que nos dê conforto financeiro e ter um futuro brilhante, mas ninguém nos fala que é difícil saber o que fazer, como fazer e imagine toda essa pressão sobre alguém que não sabe direito onde está, é aterrador.

Junto a essa questão é somada a dificuldade de se expressar emocionalmente. O que torna uma tarefa quase impossível para quem observa de fora, pois há quem diga que o garoto seja apenas mimado, pois tem tudo do bom e do melhor, e ainda está reclamando da vida. Mas não é bem assim. A depressão é uma doença que deixa essa sensação no ar, tanto para quem sofre da doença quanto para quem convive com a pessoa depressiva. E sim, muita gente não leva a sério e o mais triste, porém, retratado no longa – por ser verdade -, Nicholas diz que se corta para aliviar a dor e não por gostar de sentir isso, é um ponto de alerta gigante para o estado dele. Não é porque não se está chorando que não se sente nada. 

Vemos que o garoto tenta ser uma pessoa comum, mas não consegue. É um tema pesado e complexo e percebemos que Um Filho tenta retratar da forma mais orgânica possível. Mesmo com o personagem sendo o destaque, nós que assistimos aos acontecimentos através da visão do pai, que tenta lidar com o filho da maneira que sabe, mas nem ele mesmo sabe o que fazer e nesses casos, a questão emotiva grita mais alto. Aqui, só amor, não é suficiente.

Crítica | Um filho 2
Senti falta de mais cenas envolvendo a atriz e até um desfecho, mas considerando que o título diz respeito aos filhos, dá para compreender a falta de um final para ela / Reprodução

Além disso, Peter também tem algumas questões do passado que não conseguiu superar e que envolvem seu pai. Diferente do longa de 2020, que vemos um Anthony frágil por conta da demência que toma conta do personagem, na produção de 2023, vemos um oposto. Aqui o veterano demonstra pragmatismo e uma força quase perversa sobre o próprio filho que tenta entender o que foi que deu errado entre ele e Nicholas.

As atuações são boas e em alguns momentos conseguem transmitir a tensão necessária que as cenas exigem. Vemos que Hugh Jackman consegue mostrar o desespero do pai conservador e bruto que proíbe o filho de se automutilar como se fosse algo tão fácil, vemos em Laura Dern uma mãe que tenta não se abalar tanto, mas acumula várias cenas em que sua feição demonstra compaixão e lágrimas.

Mas em Um Filho, o ponto de destaque é o ator Zen McGrath que teve críticas duras a respeito de seu personagem. É um papel difícil e mesmo assim, sem muita notoriedade em Hollywood, ele deu o seu melhor. Ele não tem tanta experiência, mas conseguimos enxergar nele uma pessoa doente. A maneira como muda de humor, como se desespera, o cerrar de dentes, como se esconde no quarto ou simplesmente quando bate a cabeça repetidas vezes na parede, na vida reala muitos depressivos agem assim, não? Podemos observar que em um dado momento, a câmera busca os rostos em close-up para favorecer a emoção e o trabalho dos atores. Sim, eles se emocionam bem, diante de uma situação que é tão comum no mundo todo. É impossível não se sentir perdido quando precisa enfrentar algo tão delicado.

Crítica | Um filho 3
Vanessa Kirby um pouco mais subjetiva, mas potente quando entra em cena / Reprodução

À deriva vemos quem enxerga tudo isso de fora, Beth de Vanessa Kirby, a ex-amante e atual esposa de Peter. Ela consegue contornar a situação de uma forma melhor e pela condição de coadjuvante, a câmera lhe coloca ao fundo dos enquadramentos, vemos menos de suas revoluções internas, e permite à atriz transmitir dúvida, ambiguidade, reflexão. Enquanto todos se convertem em desespero, choro e preocupação. Ela até arrisca compartilhar uma opinião ou outra, mas esbarra na cegueira dos pais que se mostram ignorantes sobre a atual condição do filho.

Um filho busca discutir sobre tratamentos psicológicos na vida de adolescentes e como a falta de um auxílio médico pode causar danos irreversíveis, além disso, a história fala sobre divórcio, negligência parental, problemas familiares e escolares. O longa é quase um alerta do que pode acontecer caso uma pessoa não receba o apoio que precisa. Esse filme é complexo e delicado, mas muito importante. Embora não seja digno de Oscar, vai lhe fazer refletir por muitos dias.

Nota do Thunder Wave
The Son é um bom filme e com um drama pertinente que dá pistas de como terminará. Apesar de ter um elenco de peso que entregou boas atuações, nenhum deles brilhou, de fato. Faltou aquele tempero que fizesse com que o longa pudesse figurar na lista de indicados ao Oscar. Poderia ter rendido mais, se não fosse o comodismo de seu diretor em seguir uma fórmula mais tradicional.

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