Fabiana Karla é a personagem principal na comédia Uma Pitada de Sorte, onde interpreta uma assistente de cozinha que sonha em ser chefe em seu próprio restaurante. As mensagens que o longa busca transmitir ficam claras e isso é importante devido ao atual contexto que estamos vivendo e pelo fato da honestidade com que são abordados, geram identificação e comoção pelo público. Apesar de ter um elenco e a ideia ser interessante, a construção não ficou legal. Faltou algo. Com direção e roteiro de Pedro Antônio, o longa chega na próxima quinta-feira, 15.
Uma Pitada de Sorte, narra a história de Pérola, mulher de 36 anos que vive com a mãe e um irmão caçula. Seu grande sonho é ser reconhecida como chef e enquanto seu desejo não se torna realidade, a moça trabalha como animadora de festas infantis e sous chef (o segundo no comando de uma cozinha) em um restaurante na Zona Sul do Rio. Tudo começa a mudar na vida de Pérola quando ela é aprovada num teste para ser auxiliar de um renomado chef em um programa de televisão.
A produção é simples e tem o intuito de mostrar que as pessoas que persistem e lutam para conquistar seus sonhos, podem chegar lá. A trama aborda as questões familiares e o desemprego. Em determinado momento, a protagonista vivida por Fabiana Karla, perde seu emprego e isso reflete a situação de milhares de pessoas no atual momento em que estamos vivendo (de acordo com o portal G1, ao final do 2º trimestre de 2022 o número de trabalhadores desempregados há mais de 2 anos era de 2,985 milhões, cerca de 29,6% do total de desempregados no país, estimado em 10,080 milhões.).

Uma característica de Pérola que pode gerar uma identificação com o público é o fato dela colocar a sua família em primeiro lugar e esse receio, medo de desapontar a sua família, principalmente, sua mãe, faz com que ela muitas vezes ela não diga “não” e não se posiciona dizendo o que fazer ou de simplesmente de largar tudo e batalhar pelo seu sonho. A atriz Fabiana Karla consegue tanto com o improviso, como com as tiradas ácidas do texto arrancar risadas e algumas gargalhadas do telespectador.
No que diz respeito ao elenco, temos personagens bacanas e atores muito interessantes e com uma química muito boa, mas é muita gente, com muitas situações acontecendo de forma corrida e todo o encaixe, o desenvolvimento do longa, não foi bem feito. Alguns desfechos simplesmente são esquecidos, por exemplo, o que acontece com a personagem da Regiane Alves? Ela que teve uma participação de tela bem notável, não sabemos o que aconteceu com ela. E o interesse amoroso de Pérola, interpretado pelo ator Mouhamed Harfouch, conseguiu realizar seu sonho de abrir a academia? Não sabemos. Além desses furos, as participações… a do chef convidado até que ok, fazia sentido devido a proposta da cena em si, mas a do Thiaguinho… qual o sentido da participação dele? Se pelo menos, na trilha sonora, tivesse uma canção dele, mas nem isso. Ponto negativo.
Em Uma Pitada de Sorte, outro ponto negativo é o uso da narração em off que é interessante, se faz presente no início da trama, quando somos apresentados aos personagens, mas depois some. A personagem principal passa por situações que são incoerentes e que não deveriam estar no filme e toda a luta diária dela em trabalhar na TV e nas festas de animação, a conta de perrengues não fecha para uma pessoa viver todos os infortúnios em um só dia. O roteiro poderia ter sido revisado antes de ir para as telonas.

A mãe da personagem, vivida por Jandira Martini é a representação do brasileiro patriota – “Meu filho lê Machado de Assis”, foi um dos momentos mais engraçados. Embora, ela seja uma mãe exigente, ela quer o melhor para os seus filhos e acredito que se ela soubesse desde o início sobre a participação de Pérola no reality, o longa teria um desenvolvimento diferente e mais interessante, pois no fim, ela deu o apoio que a protagonista precisava e esperava.
É um filme marcado por mulheres fortes e batalhadoras. A cena em que o renomado chef de cozinha humilha a Pérola pelas costas foi algo doloroso de ser visto e ouvido. É algo que ilustra bem o que muitas mulheres enfrentam para terem reconhecimento e destaque na profissão que escolheram trilhar. A força da protagonista é notável, contudo é o seu irmão, interpretado pelo jovem JP Rufino que é o responsável por ela conseguir a oportunidade na TV. Ele quem deu o empurrão para que ela pudesse despontar. Nesse quesito, é muito importante percebermos que o apoio dele faz toda a diferença, a protagonista sente que não sonha sozinha e é sempre bom ter alguém com quem contar.
Uma Pitada de Sorte é uma comédia nacional que trata da importância de sonhar. E, talvez, esse seja o motivo mais relevante para assistir ao longa. O elenco é carismático e muito competente em tela, mas em tempos obscuros como o contexto atual, é necessário ver produções que despertam e transmitem coragem, força e determinação através do humor. O filme de Pedro Antônio é um sopro de esperança num país que sucateia a cultura.