Vozes do Passado (Reunion) do diretor Jake Mahaffy tem uma boa história, mas acaba se perdendo na quantidade de elementos que tenta abordar ao mesmo tempo. As excelentes atuações de Julia Ormond (Ivy) e Emma Draper (Ellie) conseguem sustentar o filme, mas não é o suficiente.
Ellie retorna a casa que morou durante a sua infância, tendo que lidar com a presença indesejada da mãe e lidando com sua própria gravidez. Enquanto tenta se adaptar a situação e finalizar o livro que está escrevendo, as memórias do passado voltam para assombrá-la e cobrar uma dívida que foi esquecida. Em um terror psicológico slow burn, misturado com fantasmas e magia negra, a história se desenrola dentro da casa da família em meio a recordações que vão sendo reveladas e segredos macabros descobertos.
A relação entre mãe e filha não é das melhores, mesmo tentando se impor Ellie fica presa as vontades e desmandos da genitora, sem respeitar as vontades de mais ninguém, sendo autoritária e intransigente com os outros. Durante esse momento de convívio, as memórias da infância de Elie são reveladas em flashbacks confusos e cenas que mostram sucessões de imagens de alquimia ou cenas de embriões que são indicações sobre os mistérios do passado da família, mas que no geral se tornam repetitivas e não acrescentam para o enredo.

O tema psicológico seria o suficiente para tornar Vozes do Passado em um filme excepcional, podendo traçar paralelos entre a culpa que Ellie sente com a morte da irmã adotiva, causada por um acidente enquanto as duas brigavam, mas o excesso de elementos causa apenas confusão e deixa pontas soltas em excesso. Enquanto tentam abordar o tema de magia negra com a criação homúnculos, a perseguição fantasmagórica fica com uma explicação rasa, esquecendo de cenas que poderiam ser interessantes de serem exploradas.
Um dos conflitos principais se encontra ao redor de uma peça valiosa de cristal quebrada e do pedaço que falta para completá-la. Nessa linha temos a falta da peça e o que aconteceu com ela, porque o vaso é importante para a história de Ellie e Cara e cenas em que o objeto serve de receptáculo para órgãos internos durantes as sessões de magia negra do casal. Mesmo com todos esses links, essas linhas ficam sem resolução, a peça do vaso é usada contra Ivy e ajuda na libertação de Ellie, porém por que esse objeto importante ficava em exposição na lareira da família? Ele era usado apenas para segurar os órgãos ou tinha uma função durante a magia negra? Esse vaso está ligado com a existência de Ivy? São muitas perguntas que apenas confundem e não ajudam a dar suporte para a linha lógica do roteiro.

Com um elenco reduzido, as atuações de Julia Ormond e Emma Draper são espetaculares, porém, não são o suficiente para que os furos no roteiro passem despercebidos. Julia consegue transmitir ao mesmo tempo a doçura e rigidez que Ivy tem com a filha, conseguindo transitar entre tonalidades diferentes com uma facilidade que torna a personagem mais repulsiva pelo que fez com a infância de Ellie, toda a manipulação de suas lembranças e a culpa que faz com que a filha passe a carregar. Emma não fica atrás, mantendo uma atuação precisa e sem exageros, um erro comum em filmes desse gênero.
Em um bom exemplo de que menos é mais, Vozes do Passado tinha tudo para ser um filme marcante, com uma boa narrativa, mas se perde querendo agregar muitas referências sem saber como abranger todas de modo satisfatório.
Vozes do Passado chega às plataformas digitais Claro Now, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes, para compra e aluguel a partir de 21 de janeiro pela Synapse Distribution.