Dossiê | O Caso Isabella Nardoni

Quinze anos atrás acontecia um dos crimes brutais que chocou o Brasil- O Caso Isabella Nardoni, a menina de apenas cinco anos que foi jogada da sacada do prédio de seu pai.

Saiba tudo sobre o caso Isabella Nardoni abaixo.

Quem era Isabella Nardoni

Isabella de Oliveira Nardoni nasceu em São Paulo em 18 de abril de 2002. Era filha de Ana Carolina Cunha de Oliveira e Alexandre Alves Nardoni. Sua mãe engravidou com 17 anos, notícia que não foi bem recebida pelo pai, que na época tentava ingressar na faculdade de direito.

Alexandre Nardoni separou-se de Ana Carolina quando Isabella tinha apenas onze meses. Em acordo jurídico, foi definida pensão alimentícia mensal de R$ 250 e o direito a duas visitas por mês, quinzenalmente.

O Caso Isabella Nardoni

Isabella Nardoni foi encontrada morta, no dia 29 de março de 2008, após ter sido jogada de uma altura de seis andares, no jardim do Edifício London, prédio residencial na rua Santa Leocádia, 138, Zona Norte de São Paulo. O apartamento pertencia a seu pai, onde morava com a madrasta da menina, Anna Carolina Trotta Peixoto Jatobá e dois filhos do casal, um de onze meses e outro de três anos.

Alexandre Nardoni afirmou em depoimento que o prédio onde mora fora assaltado e a menina jogada por um dos bandidos. De acordo com a imprensa, ele teria dito que deixou sua mulher e os dois filhos do casal no carro e subiu para colocar Isabella, que já dormia, na cama. Ele então teria descido para ajudar a carregar as outras duas crianças, e, ao voltar ao apartamento, viu a tela cortada e a filha caída no gramado em frente ao prédio. Entre o momento de colocar a filha na cama e a volta ao quarto teriam passado de 5 a 10 minutos, de acordo com o depoimento do pai.

A investigação do caso Isabella Nardoni

O depoimento de Alexandre Nardoni apresentava várias incoerências, que ajudaram a iniciar uma investigação mais profunda. Dias depois, a investigação constatou que a tela de proteção da janela do apartamento fora cortada para que a menina fosse jogada e que havia marcas de sangue no quarto da criança.

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Reconstituição do caso pela perícia/ Imagem: R7

Um morador do primeiro andar do prédio ouviu o barulho de Isabella caindo e fez uma ligação para a emergência. Posteriormente durante as investigações, foi constatado com a empresa do GPS do carro de Nardoni, que após a parada do carro e o horário da ligação se passou um período de cerca de 4 minutos, o que torna inviável para um assaltante chegar no apartamento e cometer o crime, como dito no depoimento. O fato de não existir evidências de arrombamento nem itens roubados na casa reforça a desconfiança na investigação.

Segundo o R7, a perícia constatou que Isabella foi agredida já dentro do carro com algum objeto pérfuro-contuso. Ao subir com a criança para o apartamento, houve uma tentativa de estancar o sangue que escorria da testa da menina. Ela foi jogada no chão da sala do apartamento, a ponto de ter o punho fraturado.

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Vários depoimentos foram colhidos, entre entes familiares, um pedreiro que trabalhava no prédio e chegou a mudar sua declaração, sumindo logo depois. Até o tenente Fernando Neves estava envolvido nas declarações, do qual cometeu suícidio logo após depor, quando seu apartamento foi revistado por suspeita de pedofilia.

O diverso número de depoimentos diferentes dificultaram bastante as investigações, porém, após a segunda declaração da mãe de Isabella, o Tribunal do Júri de São Paulo aceitou o pedido de prisão provisória do casal, na ocasião válido por 30 dias, prorrogáveis por mais 30 dias. Em 18 de abril, dia em que Isabella completaria seis anos, Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram indiciados por homicídio.

A prisão de Alexandre Nardoni e Anna Jatobá

Em 29 de maio de 2008, o juiz Maurício Fossen decretou a prisão preventiva de ambos. O casal, que estava hospedado no apartamento da mãe de Anna Jatobá, optou por se entregar à polícia. Em maio, os advogados do casal protocolaram ao todo, dois pedidos de habeas corpus, que foram negados.

No início de 2009 Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá foram levados a júri popular. O primeiro dia de julgamento ocorreu em 22 de março de 2010, cerca de dois anos após a morte de Isabella. Após cinco dias de julgamento,o júri considerou o casal culpado por homicídio triplamente qualificado (pela menina ter sido asfixiada, considerado meio cruel, não ter tido chance de defesa, por estar inconsciente ao cair da janela, e pelo fato de o homicídio ter sido cometido com a finalidade de ocultar a prévia agressão) e fraude processual.

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Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá/ Imagem: Reprodução

Alexandre Nardoni foi condenado a 31 anos, 1 mês e 10 dias – pelo agravante de ser pai de Isabella – e Anna Carolina Jatobá, a 26 anos e 8 meses, em regime fechado. Pela fraude processual, foram condenados a cumprir 8 meses e 24 dias, em regime semiaberto.

O possível envolvimento dos avós

O envolvimento dos pais de Alexandre e Anna, na tentativa de encobertar o crime, é uma suspeita que continua até hoje. Seis anos após a prisão, uma funcionária do sistema prisional de São Paulo, que diz ter conversado com Anna Carolina Jatobá, prestou depoimento ao Ministério Público. Segundo reportagem do Fantástico, ela contou detalhes da conversa, onde teria afirmado que o sogro, Antônio Nardoni, também teve envolvimento no crime. E que não o denunciou porque ele sustenta a família e manda presentes para ela na cadeia. “Ela falou que o sogro mandou, orientou os dois a simular um acidente. Eu ouvi da boca dela, olho no olho.” Ele e a mãe de Nardoni estavam envolvidos na defesa do caso.

O descontrole da Madrasta

Algumas testemunhas afirmam que Jatobá odiava Isabella. Após a prisão do casal, informações levam a crer que a menina apanhou da madastra, ainda no carro. Alexandre e Jatobá tinham retornado de um mercado, segundo as câmeras do local mostraram, após uma visita à casa do sogro de Alexandre.

A mesma funcionária que prestou depoimento ao ministério público também alegou sobre o assunto na sua conversa com a madrasta da menina. Segundo ela, Anna assumiu ter batido na menina com violência dentro do carro, pouco antes do crime, e que, em seguida, o marido jogou a filha pela janela. Anna disse ter batido em Isabella porque “ela não parava de encher o saco”. “Eles foram no supermercado, fizeram uma compra com as crianças. O cartão não passou, deu algum problema. Aí, estavam nervosos” – contou a funcionária. “Ela falou que bateu na menina porque ela não parava de encher o saco. Que não era para ser tão grave. Pensou que matou, pensou que a menina estivesse morta”.

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Na época do crime, o Instituto de Criminalística fez um vídeo mostrando as conclusões da polícia e do MP. A acusação concluiu que Isabella realmente foi agredida dentro do carro por um anel ou chave, que feriram a menina na testa. Segundo as investigações, ao chegarem no apartamento do casal, Alexandre jogou a filha no chão, e Anna asfixiou a menina. Jatobá nega o estrangulamento. “Ela fala que não estrangulou a menina, que ele colocou a menina no chão, acreditando que estivesse morta, enquanto ela ligava para o sogro. Falou para o sogro que matou a menina e ele falou: ‘Simula um acidente, senão vocês vão ser presos’. Aí, tiveram a ideia de jogar a menina pela janela. Que o Alexandre só jogou a filha porque acreditava que ela estivesse morta e que entrou em choque depois que jogou. Desceu, e a menina estava viva.”

Qual o motivo do assassinato de Isabella Nardoni?

O caso Isabella Nardoni é um dos assassinatos que não possuem uma declaração completa sobre as motivações, já que o casal se diz inocente e não há testemunhas. Por isso, apenas eles sabem o que aconteceu.

Segundo Ilana Casoy, criminóloga e escritora de True Crime que assistiu o juri do caso, há motivações ocasionais. Em entrevista para a Istoé, ela alega que foi consequência de uma briga e um crime não premeditado. “Eles não premeditaram o crime. Houve um descontrole dos dois. Segundo dados americanos, a grande maioria dos menores de 12 anos assassinados perdeu a vida em uma briga de casal. São comuns situações que saem do controle e sobra para a criança. Os Nardoni têm histórico de perda de controle. Há uma briga dos dois que é crucial para entendê-los. O Alexandre fazia uma lista de compras enquanto a Jatobá gritava e xingava. E ele seguia fazendo calmamente a lista. Ela ficou tão nervosa com a indiferença dele que rasgou a lista. Alexandre se levantou, pegou outro papel e recomeçou. Diante dessa forte manifestação de rejeição, ela foi para a lavanderia, deu um soco no vidro e se cortou. Comentário dele: “Você não para enquanto não fizer uma besteira.”

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Ainda completa sua análise: “A Jatobá é a descontrolada, o gatilho de tudo. Na minha análise, o alvo de proteção de Alexandre é a Jatobá e os dois filhos que teve com ela. Ele matou Isabella para proteger o que, para ele, era mais importante: a família. Não pensava: “Quando der, vou matar essa filha que me incomoda.” Viu-se diante de uma situação (Isabella asfixiada pela madrasta) e tinha de tomar uma decisão rápido”.

Onde estão Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá agora?

Desde 2019, Alexandre cumpre pena em regime semiaberto e tem direito a trabalhar fora da prisão e cinco saídas temporárias por ano. Na prisão, Nardoni também tem se dedicado a trabalhos e estudos na própria unidade, com objetivo de remir dias da pena.

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Anna Carolina Jatobá cumpre pena na Penitenciária Santa Maria Eufrásia Pelletier, a P1 feminina de Tremembé (SP). Em julho de 2017 conseguiu a progressão para o regime semiaberto, que foi suspenso em 2020, após ser flagrada numa videoconferência com os filhos dentro da penitenciária. Em junho de 2023, Anna foi solta após a Justiça conceder progressão para o regime aberto.

Como vive Ana Carolina de Oliveira, mãe de Isabella Nardoni, agora?

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Ana Carolina e Isabella/ Imagem: Reprodução

Atualmente, Ana Carolina leva uma vida discreta com sua família. Ela se casou com o administrador Vinícius Francomano e juntos eles tiveram dois filhos: um menino chamado Miguel, de seis anos, e uma menina chamada Maria Fernanda, de três anos.

Obras sobre o Caso Nardoni

Ainda em época de investigação, foram lançados dois livros sobre o caso, o Caso Isabella: verdade nova, de Paulo Papandreu e A morte de Isabella Nardoni – Erros e Contradições Periciais, de George Sanguinetti. Ambos foram proibidos de circulação pela justiça paulista, sendo o autor do primeiro processado pela mãe de Isabella com o requerimento de uma indenização de R$ 100 mil.

Em 2018 foi lançado O pior dos crimes: A história do assassinato de Isabella Nardoni, de Rogério Pagnan. Construído em ritmo de thriller, esmiúça o caso da trágica morte de Isabella Nardoni, Um dos mais importantes repórteres policiais de sua geração, Rogério Pagnan não se contentou em detalhar o caso. O autor foi além, enfrentando questões urgentes e ainda pouco debatidas no Brasil a respeito da natureza e dos limites de um processo judicial, o que torna esta obra, desde já, imprescindível no campo do Direito. Aqui estão expostos os vícios que alimentam uma engrenagem burocrática investigatória abaixo das necessidades de um país com seus 60 mil homicídios ao ano.

Em 2010 Ilana Casoy lançou A Prova E A Testemunha, onde relata o que se passou dentro do Tribunal durante o julgamento do Caso Isabella Nardoni. Na obra, é apresentado o embate entre Defesa e Acusação. Da mesma autora, o Casos de Família. Arquivos Richthofen e Arquivos Nardoni, de 2016, resume os dois crimes que impactaram o Brasil.

Em 2023, dia 17 de agosto, será lançado na Netflix o documentário Isabella: o Caso Nardoni. Em formato longa-metragem, a produção analisa o caso que comoveu o Brasil, revela detalhes pouco conhecidos e traz depoimentos inéditos da mãe e dos avós de Isabella, que lutam para manter a memória dela viva, além de jornalistas, peritos e advogados de defesa.

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