Dossiê | Quem é o Dr. Christopher Duntsch, médico que inspirou a série Dr. Death

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Christopher Duntsch não é um caso muito antigo, seu caso é datado por volta de 2015 e agora está novamente no auge com o lançamento da série Dr. Death, produção que se baseia no podcast da Wondery sobre a história e crimes do cirurgião. Conheça a vida de Duntsch e as motivações para seus atos.

Antes de começar, leia a crítica da 1ª temporada de Dr. Death.



Quem era Christopher Duntsch?

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Dr. Christopher Duntsch/ Reprodução


Filho de um fisioterapeuta e uma professora, Duntsch nasceu em Montana e passou a maior parte da vida no Tennesse. Christopher parecia nunca se sentir satisfeito, mesmo com todas as oportunidades oferecidas.

Sua ambição inicial era se tornar jogador de futebol americano. Duntsch compreendia magnificamente a teoria, mas não possuía habilidades práticas para o jogo. Quando foi negado pela terceira vez na futura carreira, decidiu seguir para a àrea médica. Em 2010 ele completou os programas de residência em neurocirurgia e MD-PhD no Centro de Ciências da Saúde da Universidade do Tennessee e, posteriormente, concluiu um programa de bolsa de coluna no local.

Em julho de 2015, Duntsch foi preso em Dallas e acusado de seis crimes de agressão com arma letal, cinco de agressão com agravante causando lesões corporais graves e uma de ferimentos para uma pessoa idosa.

Família de Duntsch

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/Reprodução

Foi durante o seu período de residência que Duntsch conheceu àquela que seria a mãe de seus dois filhos, Wendy Renee Young. Na época, o médico estava com uma dívida de mais de 500 mil dólares, em virtude dos projetos em biotecnologia, decidindo então se voltar para a neurocirurgia, que era uma área incrivelmente lucrativa. É quando ele e Young se mudam para Dallas, em 2010.

Obviamente que ninguém desconfiara do médico, mesmo acrescentando em seu currículo um programa que nem existia na época, no hospital que mencionara, já que seu Currículo possuía mais de 12 páginas e mencionava cerca de 15 anos de treinamento.

Duntsch acabou sendo contratado pelo Baylor Regional Medical Center, como cirurgião de coluna com o salário de 600 mil dólares por ano, mais bonificação.

Como era Christopher Duntsch profissionalmente?


Christopher Duntsch nunca foi muito popular em sua área. Sua recepção no hospital foi a pior. O recém chegado emanava um ar de autoritarismo e soberba que de cara incomodou os colegas de profissão.

Randall Kirby, um dos médicos que lutou para que Duntsch pagasse pelos seus crimes, lembrou que Duntsch frequentemente se gabava de suas habilidades, apesar de ser tão novo na área. Kirby também comentou que as habilidades de Duntsch na sala de cirurgia deixavam muito a desejar: “ele não conseguia segurar um bisturi”.

Durante seu período em Dallas, ele operou 37 pacientes em dois anos de serviço, dos quais 33 ficaram feridos, alguns mortalmente. Algumas pessoas acordaram paralisadas, enquanto outros acordaram pós anestesia com dores permanentes de danos nos nervos. Inclusive um desses pacientes era amigo de infância de Duntsch, Jerry Summers, que foi fazer uma operação na coluna vertebral com alguém em quem confiava e acordou tetraplégico por sua artéria vertebral ter sido danificada.

Como começou e porque durou tanto a Investigação contra Christopher Duntsch?

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Condenação de Christopher Duntsch / Reprodução


Em 2012, Christopher Duntsch realizou uma cirurgia na coluna vertebral em Mary Efurd. A mulher de 74 anos foi informada de que a operação aliviaria sua dor nas costas. Mas quando a paciente acordou gritando com “uma dor insuportável”, ela não aguentou mais.

Dois dias depois, ela foi submetida a uma segunda cirurgia sob a supervisão do neurocirurgião Dr. Robert Henderson.Durante a operação, descobriu-se que Duntsch havia perfurado o músculo de Efurd em vez de seu osso e cortado um nervo na raiz. Também havia orifícios para parafusos em lugares que nunca deveriam ter existido.

Desde então, Efurd está confinada a uma cadeira de rodas e ainda luta para ficar em pé por mais de 10 minutos por vez.

Tais lesões nunca deveriam ter acontecido, principalmente para um médico que se dizia incrívelmente qualificado. Esse era o exato argumento de todos os médicos envolvidos como testemunhas no processo movido contra Duntsch.

Depois de ver o que aconteceu com Efurd, Henderson se juntou ao cirurgião vascular Dr. Randall Kirby em um esforço para relatar a negligência de Duntsch.

A maneira como Duntsch trabalhava consistia em causar tais danos irreversíveis até que fosse “descoberto” e então se demitia. Tal ato era benéfico para evitar que ele fosse denunciado, e para o hospital, que não ficaria prejudicado por denunciar um médico, e consequentemente, abdicava da culpa sobre a vitima.

Isso também permitia que Duntsch trabalhasse em outras instituições, que foi exatamente o que ele fez. Depois do Baylor, ele trabalhou no Dallas Medical Center, onde recebeu privilégios temporários até que os funcionários do hospital pudessem obter seus registros de Baylor. No entanto, o alerta surgiu já na primeira e única semana no local, enquanto as enfermeiras se perguntavam se Duntsch estava sob influência de drogas durante o serviço. A morte da paciente Floella Brown e a mutilação de Mary Efurd foi o bastante para o cirurgião atrair totalmente as atenções.

Depois de deixar o Dallas Medical Center, Duntsch conseguiu um emprego em uma clínica ambulatorial chamada Legacy Surgery Center onde fez mais vitimas. Quando Duntsch se candidatou a um emprego no Hospital Metodista em Dallas, o hospital o denunciou ao NPDB. Mesmo após este relatório, Duntsch foi contratado pelo University General Hospital em Dallas na primavera de 2013. Neste último foi o ápice para que o mesmo tivesse sua licença revogada.

Após o aumento da pressão de Henderson e Kirby, o Conselho Médico do Texas suspendeu a licença médica de Duntsch em 26 de junho de 2013. O acontecido no University General Hospital foi descrito como uma tentativa de homicídio por Kirby, que escreveu uma queixa crime no conselho médico do Texas.

Em meio a temores de que ele pudesse se mudar e obter uma licença médica em outro lugar, Duntsch foi posteriormente preso em Dallas em julho de 2015.

Ele foi acusado de seis acusações de agressão agravada com arma mortal, cinco acusações de agressão agravada com lesões corporais graves e uma acusação de ferimentos a uma pessoa idosa, relacionadas com o caso Mary Efurd.

Dois anos depois, Duntsch foi condenado por mutilar deliberadamente Efurd. Embora ele tenha sido preso por várias outras acusações, o julgamento apenas se concentrou nos ferimentos de Efurd, já que o caso dela proporcionou a maior faixa de condenação.

Por que Christopher Duntsch estragou tantas cirurgias?

Durante o caso de Duntsch, os promotores argumentaram que depois de 17 anos de pesquisa e treinamento, Duntsch havia feito várias cirurgias intencionalmente. Eles não foram acidentes. No entanto, o motivo exato de Duntsch para sua má prática maliciosa permanece obscuro.

Talvez a ambição tenha atrapalhado Duntsch, que parece não ter terminado corretamente sua residencia, já que na época percorria por caminhos de uma pesquisa e o inicio de uma startup, da qual ocupava boa parte de seu tempo. Acabou completando a residência após ter participado de menos de 100 cirurgias.

Normalmente, os residentes de neurocirurgia participam de mais de 1.000 cirurgias durante a residência. Ele também era suspeito de estar sob a influência de cocaína enquanto operava durante seu quarto ano de residência, após o qual foi enviado para um programa de médicos deficientes antes de ser autorizado a retornar ao seu programa de residência.

Rumores apontam que ele foi beneficiado pelo professor responsável pela residência, o liberando das cirurgias, já que ambos eram sócios na startup de Biotecnologia da qual Duntsch se dedicava na época.

Quantas pessoas Christopher Duntsch matou?

Entre 2011 e 2013, Christopher Duntsch operou 37 pacientes na área de Dallas-Fort Worth. Fora dessas cirurgias, dois pacientes foram mortos.

Uma mulher, Floella Brown, morreu de um derrame depois que Duntsch cortou sua artéria vertebral. Outra mulher, Kelli Martin, morreu de perda de sangue depois que Duntsch cortou uma artéria importante em sua coluna durante uma pequena operação nas costas.

O que aconteceu com Christopher Duntsch após os crimes?

Henderson e Kirby, juntamente com a promotora Michelle Shughart, trabalharam duro para conseguir provas e depoimentos dos pacientes das vítimas de Duntsch. O inquérito não foi a lugar nenhum até 2015, pois precisavam compreender qual caminho deveriam seguir para que fossem certeiros. Eram muitas brechas.

Como parte de sua investigação, os promotores obtiveram um e-mail em dezembro de 2011 no qual Duntsch se gabava de estar “… pronto para deixar o amor, a bondade e a paciência que misturo com tudo o mais que sou e me tornar um assassino de sangue frio.”

Em julho de 2015, Duntsch foi preso em Dallas e acusado de seis crimes de agressão com arma letal, cinco de agressão com agravante causando lesões corporais graves e uma de ferimentos para uma pessoa idosa.

Foram 13 dias de julgamento e 4 horas de deliberação para chegar ao veredito: Culpado à prisão perpétua. Ele não terá direito à liberdade condicional até 2045, quando terá 74 anos.

Todos os quatro hospitais onde Duntsch trabalhou possuem processos contra eles.

Onde está Christopher Duntsch agora?

Após ser condenado à prisão perpétua, o homem de 50 anos está atualmente encarcerado no Departamento de Justiça Criminal do Texas em Huntsville.

Onde estão o Dr. Randall Kirby e o Dr. Robert Henderson agora?

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Christian Slater e Alec Baldwin como Christian Slater Dr. Randall Kirby e o Dr. Robert Henderson /Peacock


Kirby e o Dr. Robert Henderson foram fundamentais na derrubada de Christopher Duntsch.

Kirby se envolveu com o caso pela primeira vez depois de ser chamado para ajudar Duntsch no que deveria ser um procedimento de rotina. Na época, Kirby percebeu que a técnica de Duntsch durante a cirurgia estava completamente errada. Embora Kirby tenha sido chamado para ajudar em uma cirurgia diferente, o paciente de Duntsch naquele dia foi deixado temporariamente confinado a uma cadeira de rodas.

Por outro lado, Henderson envolveu-se no caso depois de ser forçado a fazer uma cirurgia de resgate em Mary Efurd, que Duntsch havia operado anteriormente. “Era como se ele soubesse tudo o que fazer e tivesse feito praticamente tudo errado”, disse Henderson à ProPublica, refletindo sobre a cirurgia de Efurd.

Depois de se unirem, Kirby e Henderson lutaram muito para impedir a operação de Duntsch, o que acabou atraindo a atenção do Conselho Médico do Texas.

Até hoje, Henderson e Kirby praticam medicina no Texas.

Kirby está listado como o atual presidente da Society of Spinal Access Surgeons e presidente do Dallas Surgical Specialists, enquanto Henderson ainda trabalha como cirurgião com foco em dores crônicas nas costas e nas pernas.

Onde está Jerry Summers agora?

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Jerry Summers / Reprodução

Depois de jogar futebol juntos no colégio, Christopher Duntsch e Jerry Summers foram amigos de longa data. Na verdade, quando Duntsch se mudou para Dallas para começar sua carreira como neurocirurgião, Summers se juntou a ele.

Quando Summers mais tarde decidiu se submeter a uma cirurgia para tratar sua dor crônica no pescoço, ele escolheu Duntsch como seu cirurgião. E como muitos dos pacientes de Duntsch, a cirurgia de Summers foi malsucedida.

Os relatos afirmam que “De acordo com médicos que posteriormente revisaram o caso, Duntsch havia danificado a artéria vertebral de Summers, causando um sangramento quase incontrolável. Para estancar o sangramento, Duntsch encheu o espaço com tanto anticoagulante que espremeu a coluna de Summers.”

Após a cirurgia de fusão cervical em 2011, Summers ficou tetraplégico. Mais tarde, ele faleceu em fevereiro de 2021. Ele tinha 50 anos.

6 COMENTÁRIOS

  1. essa série é muito impactante, retrata como a ambição e o dinheiro falam mais altos em todos os níveis da sociedade, a ação desse médico poderia ter sido travada há muito tempo, se não fosse esse sistema falho que foi usado para encobrir suas práticas

    • Com certeza, é uma crítica muito bem feita ao sistema e apresenta detalhadamente o quanto o poder e ganância em alguns casos superam a empatia e boas causas. Obrigada pelo comentário!

  2. Infelizmente é um psicópata q entrou numa profissão tão nobre quanto a medicina.
    Maculando o bom nome dos que salvam vidas, como esses colegas ai que o levam ao julgamento.

    #DrDeath é foda, as atuações de todos excelentes, o próprio ator que faz dele nossa, maravilhoso!!

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