O britânico Christopher Nolan é um cineasta que cada vez mais consegue conquistar o público e a crítica. Com uma carreira bem estabelecida e bons resultados, Nolan conseguiu deixar as suas marcas características em cada um de seus filmes, o deixando como um autor reconhecido. Porém, o diretor sempre teve um estilo verossímil e lógico que o deixava frio em alguns filmes – como A Origem -, mas desde sua última obra, o controverso Interestelar, Nolan começou a mostrar o seu lado mais humano. Agora ele faz o seu longa mais humano e simples, esse épico excepcional Dunkirk, que é uma de suas melhores produções.
A história se passa durante a Segunda Guerra Mundial, quando as tropas britânicas e francesas estavam cercadas pelos alemães em Dunkirk. Sem escolha, o exército inglês tem que evacuar mais de 300.00 soldados. A estrutura de Nolan mostra três operações que ocorreram: o molhe em que ficavam os barcos, focando no coronel (Kenneth Branagh) que controlava a situação e de um rapaz (Fion Whitehead) que faz o possível para escapar da batalha; os barcos civis que iam resgatar os soldados, o qual acompanhamos um senhor (Mark Rylance) junto com o seu filho (Tom Glynn-Carney) para a perigosa missão de resgate; e por fim a operação da força área, o qual dois pilotos (Tom Hardy e Jack Lowden) devem proteger os barcos e a praia dos ataques inimigos.

Pra quem está acostumado com a estrutura narrativa dos filmes do diretor, que são bem elaboradas, vai se surpreender pela simplicidade de Dunkirk. Com certeza é o filme mais simples do diretor, o qual os conflitos feitos são confronto entre lógica e emoção. A lógica em que a operação tem que ser rápida e da dificuldade em retirar todos os soldados do local contra o senso de dever dos outros personagens. Mesmo sabendo que as chances de morrer são grandes, os personagens de Mark Rylance e Tom Hardy vão até o final para conseguir cumprirem as suas missões. É um roteiro que está mais preocupado em criar situações de tensão do que fazer uma releitura histórica do acontecimento e nisso ele faz com êxito. Até em pequenas coisas como não mostrar os soldados alemães – só ouvimos os tiros e as explosões – e chamá-los apenas de inimigo, deixam o filme mais humano. Evita que ele caia no maniqueísmo.
Se o roteiro de Nolan ganha pela sua simplicidade, a sua direção se mostra uma das suas mais seguras. Para quem reclama da exposição do diretor, vai se impressionar com o fato de Dunkirk ter poucos diálogos e esses serem dispensáveis. É um filme que poderia perfeitamente ser mudo que o resultado seria o mesmo. Além de ser mudo e curto, é um filme de guerra que não tem nenhuma cena de sangue ou de violência explicita, mas mesmo assim é devastador. O diretor foca em deixar esse terror no som – aliás um trabalho impecável de desenho de som, pois as cadeiras tremem com os aviões e as explosões – e em deixar a câmera nos rostos dos atores. O resultado final é incrível, pois junto com A Origem é uma produção de execução impecável, que mostra que o diretor gosta de material com conteúdo, mas que ainda tem um grande senso do espetáculo.
Para chegar a esse resultado, Nolan precisou da ajuda de seus velhos companheiros: Nathan Crowley (Design de Produção), Lee Smith (Montagem), Hoyte Van Hoytema (Direção de Fotografia) e Hans Zimmer (Música). Crowley faz um trabalho muito bem feito de recriação de época, ao ponto dos detalhes dos uniformes serem muito bem feitos, assim como os barcos e principalmente os aviões. Já a fotografia de Van Hoytema cria toda a atmosfera, evitando paletas de cores clichês de filmes de guerra com cores dessaturadas. A fotografia do filme é naturalista e é filmado como se fosse um documentário com a câmera seguindo os personagens. O excepcional montador Lee Smith faz um de seus trabalhos mais desafiadores nesse filme: além de montar de maneira coesa e coerente os acontecimentos que ocorrem em espaços de tempos diferentes, Smith deixa todos eles como se acontecessem simultaneamente. Isso sem que o espectador fique confuso.
E, por último, se deve destacar mais um trabalho incrível de Hans Zimmer. Particularmente, tenho um pequeno problema com o compositor quando trabalha com Nolan. Não que os resultados sejam ruins, pelo contrário, mas há um uso em excesso da música. Não que não ocorra isso em Dunkirk, pois a trilha de Zimmer permeia toda a projeção, mas ela tem uma função primordial para o filme: aumentar a tensão. Com um som de um relógio de fundo, todas as músicas seguem um crescendo que acontece em todas as cenas em que um avião ou algo referente ao inimigo se aproxima. Além de se uma trilha que dá o tom certo em momentos pontuais. Mais um ótimo exemplar para a carreira de Zimmer, em que se têm mais acertos do que erros.

Como é um longa que não para em momento algum, o elenco se mostra bem econômico. A maioria atua muito bem com os olhos e todos estão muito bem. Não a toa tem nomes ótimos que sempre são sinônimos de bom trabalho como: Tom Hardy, Cillian Murphy, Kenneth Branagh e Mark Rylance. Do elenco mais novo, vale destacar Fionn Whitehead e Anuerin Barnard que falam muito pouco durante o filme e mostram uma ótima química e presença de tela, apenas com trocas de olhares. Em meio a um elenco experiente e talentoso, esses dois rapazes chamam muito a atenção.
Enfim, não há muito mais a que dizer sobre Dunkirk. É um filme que mostra o quanto Christopher Nolan quer crescer como cineasta e tem talento para isso. É tecnicamente impecável e uma ótima experiência cinematográfica. Facilmente, um dos grandes filmes do ano.