O dia de decidir quem serão nossos novos governantes se aproxima e o que mais precisamos agora é fazer escolhas assertivas se quisermos um futuro diferente do presente que enfrentamos. Politica nem sempre foi um assunto fácil, visto que, envolve uma série de prerrogativas e opiniões distintas. O atual cenário político está polarizado e o que temos visto nos últimos anos com o atual governo são discurso de ódio, violência contra profissionais da imprensa, descaso com a população, descrença na ciência e desvalorização da cultura, além de outras situações que envergonham o povo brasileiro.
Talvez, sejam por esses motivos citados e outros mais que a série “Eleita”, nova produção nacional do Prime Video é uma oportunidade de se repensar a política brasileira. Durante a coletiva de imprensa que aconteceu no último dia 28, quarta-feira, com a participação da diretora-geral, Carolina Jabor; do roteirista chefe, Célio Porto; dos atores Clarice Falcão, Diogo Vilela, Polly Marinho e Bella Camero; além da Chefe de Conteúdo Original Brasileiro da Amazon Studios, Malu Miranda, foi falo muitas coisas, principalmente sobre a importância de votar consciente.
Criada por Clarice Falcão e Célio Porto, Eleita se passa em um futuro distópico não muito distante, no qual o estado do Rio de Janeiro está literalmente caindo aos pedaços. O governo fluminense não tem um tostão furado, e o resto do país não está muito melhor: não existem mais livros, professores, editoras ou imprensa profissional. Para piorar, a política virou um circo tão esquisito que dá saudade da época em que o Macaco Tião quase foi eleito como prefeito do Rio.

Neste cenário caótico, Fefê, interpretada por Clarice Falcão, uma jovem influenciadora digital com aversão a qualquer tipo de responsabilidade, decide se candidatar a governadora do estado “na zoeira”. O problema é que essa piada fez sucesso. Eleita, ela — que não sabe a diferença entre governador e prefeito — tentará conciliar sua vida agitada de festas com a administração do Estado do Rio de Janeiro — o que não só é difícil, mas impossível.
Durante a coletiva, tantos os produtores quantos os atores falaram sobre os bastidores, as locações, os momentos na sala de roteiro, a preparação do elenco e o investimento da Amazon na obra que tem na sua veia a irônica, o deboche e a comédia ácida. Um detalhe interessante é que já no inicio, a diretora Carolina Jabor conta que a Clarice e o Diogo são os mais perdidos do elenco.
A série além de ter como fio condutor a política, aborda outros temas que estão intrinsecamente ligados ao tema principal como o protagonismo feminino, a desconstrução de personagens que já são estereótipos que não fazem mais sentido nas tramas de hoje, a religião como pauta cada vez mais forte no governo, corrupção, presença e influência na era das redes sociais e a presença de pessoas negras e dos jovens no cenário político, além claro, da responsabilidade.

Uma das falas que mais causou impacto foi a de Célio Porto que contou que a sala de roteiro falava muito sobre política. Logo quando a produção começou, o cenário político da época, estava acontecendo o impeachment da presidenta Dilma, em seguida, Michel Temer assumiu desembocando nas eleições de 2018 que elegeram o atual presidente. A preocupação dos roteiristas era como a série iria costurar todos esses acontecimentos. “Aos poucos fomos perdendo a corrida para a vida e as coisas começaram a ficar bizarras. A ideia era de uma série surreal, mas acabou refletindo a realidade”, revela Célio.
Por ser uma série de comédia que brinca com o surreal, com o humor mais ácido, as referências da produção não poderiam ser diferentes. O Célio contou que The Office foi uma das inspirações para construção da obra e ele ainda enfatiza que a realidade foi a principal base, como as eleições de um humorista para prefeito na Islândia, em 2010, e o caso do atual presidente da Ucrânia, Volodimir Zelensky, em 2019, que era um humorista e se tornou chefe de estado. “A série é baseada no surrealismo do que hoje é visto como política no Brasil e no mundo“, acrescenta Carolina Jabor.
Quem pensa que só a série procurou referências para se desenvolver, está enganado. A atriz e roteirista Clarice Falcão comentou a importância do protagonismo feminino, porém num papel mais desconstruído. Ela não queria fazer uma personagem certinha, dentro dos moldes tradicionais e que já estamos acostumados a ver. “A protagonista feminina que te deixa constrangido, que é falha, que é podre não é comum na comédia. Os protagonistas masculinos falhos e imaturos como Michael Scott e dos filmes de Jason Segel foram comuns até Fleabag. A mulher é representada nas produções como a burra ou a inteligentíssima, não como uma pessoa que te deixa constrangido”, analisa Falcão.
Outro destaque de Eleita é o deputado Netinho, interpretado por Diogo Vilela. Para construir o seu personagem, o político tradicional, o ator conta que focou sua atenção nas sessões da CPI e desde então, observava os trejeitos dos políticos, como eles falavam, a formalidade que faz parte desse núcleo, como suas atitudes e posturas deveriam ser de acordo com o seu papel interpretado e podemos atestar que todo esse estudo de campo e preparo resultou numa ótima presença de tela. A diretora Carolina Jabor revela que foi um dos primeiros atores a serem convidados para participar da produção, alguém que eles queriam muito e quando o ator Diogo leu o roteiro da série, ele ficou encantado com o texto e de cara ingressou no projeto. Ele aceitou o desafio de fazer Eleita com um tom de comédia diferente de outras experiências profissionais que já teve.

Diferente dos personagens de Clarice Falcão, Fefê, e de Diogo Vilela, Netinho, a personagem Teresa, de Polly Marinho, é uma das poucas que sabe o que precisa ser feito. Assistindo a série e conversando com ela durante a coletiva, a atriz conta que o seu papel é muito representativo. Diferente da governadora e do deputado, a sua personagem precisou trabalhar muito para ocupar a posição que ocupa, nada veio com privilégios e não é diferente da realidade que vivemos. “Teresa vê que algumas pessoas têm privilégios e ocupam espaços de poder que não necessariamente merecem. Ela sabe o espaço que está galgando e sabe que deve fazer três vezes mais para conquistá-lo”, conclui Polly.
Outra atriz que brilhou na série, porém, não está tão ligada nesse contexto político que a protagonista se enfiou por engano, é a Bella Camero, que interpreta Nanda. A personagem é a amiga, a conselheira e o amor de Fefê. Literalmente, elas parecem ser o par romântico uma da outra. A atriz contou que trabalharam juntas em Confissões de Adolescente, com a atual produção, gravando no set de Eleita, elas puderam construir uma relação íntima com mais naturalidade.

Sempre que falamos de séries que abordam a política como tema central, é algo receoso, pois, algumas pessoas podem ficar incomodadas devido aos próprios ideias e escolhas políticas, e uma das curiosidades de nós, da imprensa, é se esse assunto numa série de comédia que satiriza a forma como vemos a política se desenrolar no Brasil e no mundo gerou algum tipo de incômoda para o Amazon Prime.
A Chefe de Conteúdo Original Brasileiro, Malu Miranda relata que “temos visto muitas notícias internacionais que podem nos lembrar o que está em Eleita e a sátira é um método maravilhoso para falar sobre as dores, os processos caóticos ou injustos que existem na política mundial.” Ela ainda destaca que a comédia nacional é um dos gêneros mais procurados, mais sofisticados e complexos de ser trabalhado, mas que gera mais identificação com o público, pois nem sempre o que é contado é tão relevante se for contado da maneira correta.

Eleita foi filmada no Rio de Janeiro e para trazer todo o realismo que a série pede, as locações usadas foram os prédios históricos do Palácio das Laranjeiras, a residência oficial do Governador; o Palácio Tiradentes, a sede da Assembleia Legislativa do Estado; e a tradicional Confeitaria Colombo, no centro do Rio. A atriz Bella Camero comentou das suas poucas cenas nos cenários citados anteriormente e ela disse que quando gravou “Realmente não podia tocar em nada, não podia ligar um ventilador… risos. Então, as poucas cenas já deram conta”.
Por fim, e não menos importante, um dos questionamentos para todos, elenco e produtores, sobre qual a reflexão que o público pode fazer após assistir a série e a atriz Polly Marinho disparou: “Será que eu votei bem na última eleição? Será que eu fiz uma pesquisa de campo boa? Se a escolha na eleição anterior não foi assertiva, temos a possibilidade de fazermos escolhas melhores no próximo dia 02 de outubro. A série do Amazon Prime vem justamente para nos fazer pensar quanto cidadãos o nosso jeito de fazer politica e o que queremos para o nosso país, será que não estamos dando muita audiência para quem não merece? Fica a observação e a reflexão.
Eleita estará disponível a partir de 7 de outubro, com exclusividade, na Prime Video.