Nascido e criado em Campinas, apesar de sua família ser toda estrangeira, o ator diz que se identifica com a alegria do povo brasileiro. Deixou o tênis para se aventurar nas telinhas e nas telonas. Além de modelo e ator, também é diretor. Ganhou muitos prêmios com sua produção Roses Are Blind. Em entrevista ao Thunder Wave, Gui Agustini conta sobre seu trabalho, sua trajetória e muito mais. 

TW: Antes de se aventurar nas produções audiovisuais, você praticava o tênis. Por que tênis? O que ou quem te influenciou a praticar esse esporte?

GA: Meu pai foi o grande instigador e quem mais me influenciou a praticar tênis. Isso porque quando ele começou a jogar e se apaixonou por esse esporte. Daí tanto minha mãe como meu irmão começaram a jogar também, além de todo o circulo de amigos mais próximos. O tênis rapidamente se converteu no esporte principal na nossa família. Agora, eu me lembro muito claramente quando tinha uns, 10 anos eu acho, eu fazia natação, futebol e tênis e queria parar todos. Eu só queria ficar em casa assistindo novela e comendo bolachas. Eles me obrigaram, inteligentemente, e dou muito crédito a eles, a que eu escolhesse por um esporte. E por algum motivo, eu escolhi o tênis. Logo depois do “boom” do Guga eu comecei a levar o esporte mais a sério e quando fiz 13 anos, decidi que queria treinar e competir profissionalmente.

TW: O que te levou a deixar o tênis e se tornar ator?

GA: O fato de eu me dar conta que não tinha o nível e habilidades necessárias para me tornar profissional. E isso tudo aconteceu durante os dois anos em que vivi  na Venezuela em Caracas. Meu treinador, Harold Castillo, quem se converteu em um segundo pai pra mim, me abriu a mente a essa realidade por mais doloroso que tenha sido colocar de certa forma, um fim em um sonho de quase 10 anos. E como ironia do destino, nos meus últimos meses vivendo em Caracas, já com tudo certo para ir aos EUA com bolsa para jogar pela Universidade e estudar business, foi quando a atuação entrou na minha vida para ficar. Então quando cheguei à Carolina do Sul eu decidi estudar teatro também. Mas foi somente um ano depois, quando fui passar quatro meses do verão em Miami pra estudar em escolas profissionais, que realmente decidi largar o tênis e me dedicar 100% a ser ator.

TW: O fator de ter praticado tênis te ajudou na sua carreira de ator? Características como a competição e disciplina se fazem muito presente na sua rotina? Como é a cobrança? A pressão é maior?

GA: Sim, com certeza. Eu atribuo muito os hábitos de dedicação, perseverança e o estudo da psicologia que criei devido ao tênis como fatores essenciais no meu desenvolvimento e sucessos nesta carreira artística. Olha, assim como com o tênis, a pressão tem sido sempre muito mais interna. De mim mesmo. Meus pais e familiares sempre me apoiaram incondicionalmente e por mais difícil que tenha sido muitas vezes, eles nunca me cobraram resultados. É algo que sou muito grato e admiro muito.

TW: Você sentiu algum tipo de receio por parte das pessoas quando sabiam que você era tenista, mas queria se aventurar na atuação?

GA: Não me lembro de ter sentido muito receio. Como tudo começou na Venezuela, a pessoa mais importante para mim era meu treinador, quem desde o começo me apoiou. Eu fiquei muito surpreendido com isso porque eu jamais esperava que um treinador de alto nível como ele fosse aceitar esse novo desejo e paixão. Eu sou muito mais, muito grato a ele por isso também. Talvez, um pouco de receio da família com quem morei lá, e alguns conhecidos e familiares no Brasil. Mas nunca algo direto que realmente me afetasse.

TW: E a sua família encarou sua decisão numa boa? Te incentivaram?

GA: Pelo que eu me lembre, sim (risadas). Acho que quando eu fui para Miami e decidi que ia deixar o tênis e me dedicar a ser ator totalmente, houve várias conversas pra explicar minha posição e meu novo desejo. Mas uma vez que eles entenderam, o apoio e incentivo foram mais uma vez incondicional.

TW: Como é retornar ao Brasil, atuando no seu primeiro longa após muitos trabalhos no exterior?

GA: Uma emoção incrível. Uma alegria muito grande. Principalmente pelo filme estar passando na minha cidade natal, Campinas. Eu agora tenho o costume de dizer que é um sonho que nunca sonhei. Eu jamais pensei que meu primeiro grande trabalho e personagem seria para meu país de origem e muito menos na magnitude com o que está sendo. Quase 300 salas em todo o país. Sou muito abençoado e grato pela oportunidade.

TW: Como foi a construção do seu personagem para o longa “Solteira Quase Surtando”?

GA: Divertido, mas também um grande desafio para mim. Apesar de eu dominar e falar fluentemente o espanhol por causa dos meus pais, de ter morado na Venezuela e trabalhado em espanhol em Miami, meu sotaque é mais centro americano. Eu nunca tinha feito um sotaque da Espanha. Então fiz meu trabalho de pesquisa e prática o que é um dos processos mais bacanas como ator. Mas a questão é que ele só tinha uma parte pequena onde ele falava espanhol realmente, o resto era tudo portunhol. Isso cria uma ansiedade e nervosismo e achar o equilíbrio não foi fácil, porém estive muito confiante nas minhas escolhas e preparação. Meu objetivo era encontrar a autenticidade dele de uma forma que o público pudesse entender claramente suas falas. Espero que tenha sucedido nisso. E a outra inquietação minha era o fato de Miguel ter 40 anos ou mais. O departamento de figurino e cabelo e maquiagem fizeram um grande trabalho que ajudou muito. Eu não tinha que me preocupar com a parte externa, o que muitas vezes ajuda muito o ator encontrar a parte interna do personagem. Porém, tive que trabalhar nos aspectos físicos e de ritmo do personagem. Porque um Miguel de 26 anos não caminha, se expressa ou atua como um Miguel de 45. E sou muito grato a ajuda que recebi do preparador de elenco, Thiago Grecco.

TW: Quais gêneros chamam mais a sua atenção?

GA: Como história em geral, eu me interesso em participar delas em um gênero mais dramático. Mas eu também adoro as comedias situacionais e que possuem uma base mais real.

TW: Como foi a sua inserção na atuação? Quais foram os desafios que você teve que enfrentar para se tornar o profissional que é hoje?

GA: Como tudo na vida, é uma luta que demora seu tempo. Meus primeiros três anos foram imersos em estudos e práticas constantes. Até quando oportunidades pequenas profissionais começaram a aparecer. Mas a dedicação ao aprendizado e estudo sempre permaneceram e ela continua até hoje e vai continuar para sempre. Os maiores desafios foram: aprender uma arte que nunca tive interesse ou influencia alguma nos meus primeiros 19 anos de vida, trabalhar no sotaque dos idiomas espanhol e inglês para poder trabalhar no mercado e lidar positivamente com os constantes número “um” nesta indústria – o não e a incerteza.

TW: Como você costuma se preparar para cada projeto?

GA: Não tenho uma formula exata e igual para todos os projetos. Esta é a beleza desta arte também. Não existe uma fórmula. Cada projeto e personagem são radicalmente diferentes. Lógico que ler o roteiro e analisar o roteiro e o personagem são os primeiros passos. Mas o processo varia muito dependendo da quantidade de tempo que eu tenho, do tipo de história, se é teatro ou televisão ou cinema, do tamanho do personagem, do tipo de personagem e suas qualidades, entre outras. E também, do momento da minha vida. Eu estou em constante evolução como ser humano e como ator. Sempre aprendendo novas técnicas, experimentando novas ideias.

TW: Em algum momento você se questionou se era o que você queria?

GA: Sim, inúmeras vezes. Principalmente no comecinho. Antes de ir aos EUA, eu não sabia o que fazer. Mas sabia que eu tinha que ir aproveitar minha bolsa. Logo fui tomando decisões aos poucos. Uma vez que entrei de cabeça, eu decidi não questionar mais. A vida pode me levar a outros rumos, o que já tem acontecido com o fato de eu agora gostar muito de direção também.

TW: Qual personagem você gostou mais de fazer?

GA: Acho que o personagem que mais gostei pela transformação que tive se chamava David Campos em um curta chamado One Life gravado em Miami. Ele falava português, espanhol e inglês e sua aparência era muito diferente. Mas bem parecido foi a transformação e diversão em interpretar Miguel no longa “Solteira Quase Surtando”. E logo Carmelo, na série 11-11 da Nickelodeon, onde basicamente interpretei 2 personagens porque Carmelo era um vagabundo das ruas que se transformava em um jovem rico através da cama mágica. Acho que fica claro que os que mais gostei foram aqueles em que me transformei mais. É o mais divertido desta vocação, eu acho.

TW: Qual o projeto em que você participou que te marcou mais?

GA: Minha participação na 11-11 da Nickelodeon, eu acho. Por ter sido meu primeiro grande personagem que tinha um peso importante na história, e também pela experiência que ganhei trabalhando com atores de alto calibre.

TW: Qual a sensação de estar por trás das câmeras? O que te motivou a querer dirigir?

GA: A sensação no começo é de total desespero, ansiedade e terror (risadas), mas uma vez que eu entro no foco e o objetivo se torna gravar este momento, esta cena, eu me relaxo e a criatividade flui. A primeira principal motivação foi minha frustração com os projetos estudantis e amadores em Miami. Eu estava cansado de participar de curtas onde a qualidade era muito ruim, ou eu nunca recebia o produto final. Então antes de me mudar para Nova York, eu decidi com minha esposa Christina Breza, criar um curta onde eu iria dirigir. Porque eu sabia que ele seria terminado e a qualidade seria muito melhor do que todos os outros projetos que já havia participado. E se fosse ruim no final, seria culpa minha e não de outra pessoa. Ai nasceu esse novo interesse, porque como diretor você tem um controle e uma abertura pra criatividade que como ator não existe, na maioria dos casos.

TW: Qual a idéia inspiradora por trás de “Roses Are Blind”? Você se surpreendeu quando recebeu os prêmios? Qual a sensação, a emoção ao saber que além de indicado foi premiado?

GA: O curta ‘Roses are Blind’ é baseado na história real da artista Wendy J White. Uma história triste e dramática, mas fascinante. Eu tinha grandes expectativas com este projeto pela qualidade de atores que estiveram envolvidos, nomes reconhecidos, pela qualidade cinematográfica e pela história. Mas me surpreendi sim quando recebemos nosso primeiro prêmio e como cada um dos seguinte sete prêmios. Tem sido uma emoção e satisfação muito grande. Isso está nos ajudando a abrir portas para o longa que está em desenvolvimento.

TW: Em relação à arte e cultura no Brasil, você espera contribuir com produções próprias ou prefere seguir atuando?

GA: Minha prioridade agora com o Brasil é poder atuar em outros projetos. Mas eu estou começando a desenvolver um novo longa junto com meu pai baseado, em parte, na história do meu irmão que faleceu de câncer faz 10 anos. Mas o objetivo principal é de adaptá-lo ao inglês e rodá-lo em Nova York, porém primeiro estamos escrevendo em português. Então quem sabe. Exista essa possibilidade. E se não, quem sabe no futuro, um outro projeto próprio.

TW: De fora, qual a sua percepção acerca do momento em que o Brasil se encontra?

GA: Por mais complicado e turbulento que seja, e o tanto que tem afetado a Cultura e o Cinema no Brasil, eu tenho muito confiança e fé que vamos sair por cima, e vamos melhorar.

TW: Tem algum diretor ou diretora em que se espelha?

GA: O diretor que tem me fascinado muito desde o ano passado é o Todd Phillips, diretor do Coringa. Pela sua incrível sensibilidade e versatilidade. Mas existem vários como Spielberg, Greta Gerwing e, claro, o mestre brasileiro, Jose Padilha.

TW: O que você espera para o futuro? Quais projetos você quer produzir ou participar?

GA: Eu vivo em otimismo e positividade, então sempre vou esperar o melhor. Agora o que o melhor significa, não sei, ninguém sabe. Eu tenho desejos, anseios e sonhos de seguir criando filmes baseado em historias verídicas e atuando em series e filmes de alta qualidade.

TW: Qual o conselho você daria para pessoas que assim como você se descobriram em outra área e querem seguir carreira?

GA: Meu conselho é simples, se você sente ou sabe que quer seguir outra carreira, cai de cabeça e dê mais que o seu 100%. Não somente pelo fato de que certa forma, você está começando com uma certa desvantagem, mas mais que tudo pelo fato de que se é o que você realmente ama, não tem nada melhor.

Gui Agustini está no longa Solteira quase surtando que estreia no dia 12 de março, que aborda uma solteira assumida e que tem sua vida em torno do trabalho e isso lhe faz feliz. Sonhos do tipo ‘casar’, comuns à maioria das mulheres, passam longe do seu repertório de vida. Mas, de repente, uma reviravolta: suas convicções desabam quando ela descobre estar entrando numa menopausa precoce, e ter apenas seis meses para encontrar um pai para seu futuro filho. A partir daí ela parte para uma missão quase impossível e urgente: encontrar um marido que a engravide antes que seu útero dê o ponto final no seu sonho de ser mãe.

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