Especial | A tecnologia de Star Trek e Star Wars – Final

Nesta segunda e última parte, você conhecerá um pouco mais da tecnologia de Star Trek!

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Colunista convidado: Renato Azevedo

Star Trek

Como trekker de carteirinha desde sempre, decidi fazer como os grandes chefs e deixar o melhor para o final. E para começar com o universo mais prolífico do espaço, a fronteira final, vou iniciar com uma polêmica, fazendo uma comparação.

Leia também: A Tecnologia de Star Wars e Star Trek – Parte 1

Como trekker e fã de ficção científica, uma das cenas mais divertidas e antológicas de todos os tempos é a do hospital em Jornada nas Estrelas 4 – A Volta para Casa. O sempre ranzinza Doutor McCoy, o coração da Trindade onde o Capitão Kirk representa a força e o Sr. Spock a lógica e a razão, se enfurece quando a pobre velhinha deitada na maca lhe diz que está aguardando hemodiálise. Nosso bom Doutor pergunta “O que é isto, a Era das Trevas?”, antes de dar a ela uma pílula e pedir que lhe telefone em caso de outro problema. Em uma cena posterior vemos a velhinha adoravelmente feliz, dizendo “o doutor me curou”.

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“Bones”, no Brasil “Magro”, salvando o dia novamente em Star Trek IV.

Todo mundo sabe que o Capitão Picard tem um coração artificial, e que Geordi usa um visor para compensar sua deficiência. E até no episódio Ethics da quinta temporada de A Nova Geração, Worf fica paralítico após um acidente, com todas as consequências ainda mais devastadoras para um klingon nessa condição, antes de eventualmente voltar a andar.

Sou um firme adepto dessa vertente, a ficção científica com uma visão otimista do futuro, no qual o desenvolvimento científico e tecnológico poderá resolver muitos dos problemas com que hoje nos defrontamos.

Mencionei na matéria anterior o celular que foi criado graças aos comunicadores, somente um exemplo do que o que foi mostrado em Star Trek inspirou cientistas a criar seus equivalentes em nossa realidade.

Por isso, quando há alguns meses um site questionou a presença de um cadeirante em Star Trek Discovery, em parte dei razão a sua reclamação. A pesquisa genética é uma das que avança com maior velocidade em nosso mundo, e realmente já é capaz de resolver muitos problemas que nos afligem. Pessoas que tiveram acidentes têm recuperado os movimentos com uma frequência maior, e tudo leva a crer que em poucas décadas, até quem sabe em poucos anos, as primeiras terapias e tratamentos capazes de recuperar níveis mais sérios de paralisia estejam disponíveis.

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Star Trek Discovery – Imagem: Netflix

Por isso o autor do mencionado site disse que não haveria motivos para a presença de um cadeirante em Discovery. Pode-se argumentar que ele talvez estivesse sob tratamento, talvez fosse nativo de um planeta de pouca gravidade e optou por aquela forma de se locomover, ou até mesmo tivesse um problema mais sério, como a do Capitão Pike, que foi vítima de danos sérios demais para serem reparados.

O ponto que defendo é: sim, vamos fazer de tudo para ter diversidade e inclusão (e Jornada nas Estrelas tem ambos desde 1966, é bom que se diga) mas não teremos a inspiração, a capacidade de sonhar, de fazer melhor, e de ver um futuro muito melhor de nossa amada ficção científica. E falando em sonhar, sonhemos então com algo que, surpreendentemente, nada tem de impossível!

Velocidade de dobra. Sim, o conceito mais fantástico de Jornada nas Estrelas, aquele cuja simples menção torna acessíveis para nós as estrelas e talvez todo o Universo! Pois o princípio dessa tecnologia utilizada pela Federação de forma corriqueira (e não tão diferente do hyperdrive de Star Wars, diga-se) é baseado em ciência sólida. Mais precisamente, na Relatividade de Albert Einstein. O gênio alemão postulou que espaço e tempo existem como uma única entidade, o espaço-tempo contínuo, o tecido de que a realidade é feita. E justamente como um tecido, este é deformado pela presença de massa.

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A famosa imagem sem corte de Einstein.

Peça para dois amigos segurarem uma toalha de mesa, e faça deslizar nela uma bola pesada. É exatamente assim que o Universo funciona.

Pegue uma bola menor e a deixe se aproximar da maior e mais pesada, e você verá como a Terra e os outros planetas orbitam o Sol. A gravidade deforma o espaço tempo, conforme a Relatividade previu. E uma das consequências das equações da teoria de Einstein são as chamadas Pontes de Einstein-Rosen, uma deformação extrema do espaço-tempo, com o que seria possível percorrer imensas distâncias no universo em muito pouco tempo. Damos a essas pontes hoje o nome de buracos de minhoca.

É necessário ainda falar sobre a velocidade da luz, 300.000 km/s. Nada, nada mesmo viaja à velocidade da luz ou mais depressa. Como o grande cientista e divulgador científico Carl Sagan disse em Cosmos, não existem placas de limite de velocidade ou punições para quem infringir essa norma. É uma lei fundamental de nosso Universo, conformem-se.

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Carl Sagan, em Cosmos.

Porém, a deformação do espaço-tempo com a velocidade de dobra foi estudada há alguns anos pelo cientista Michael Alcubierre, que elaborou uma teoria apontando a possibilidade prática da velocidade de dobra. Inicialmente o montante de energia para conseguir tal feito seria colossal, mas novos cálculos de outras instituições científicas demonstraram que os requisitos podem ser cumpridos com uma quantidade de energia menor, que pode levar à velocidade de dobra prática. Apresentei um artigo mais detalhado a respeito, aliás, no site Aumanack.

Ainda nas viagens espaciais, não se pode jamais deixar de lado a extraordinária Missão Voyager. Essas duas naves foram lançadas em 1977 se aproveitando de uma posição favorável dos planetas exteriores de nosso Sistema Solar, e a de número 2 passou por todos os quatro gigantes gasosos, completando o plano do Grand Tour imaginado ainda nos anos 1960. Também no Aumanack publiquei um detalhado artigo sobre elas.

Foram somente duas as Voyager construídas, que inspiraram a de número 6, ou V´Ger, em Jornada nas Estrelas – O Filme. A Astronomy Magazine de janeiro de 2013 publicou um extenso artigo sobre elas e suas descobertas, que terminava assim:

“O Grand Tour pelo Sistema Solar (e além dele), continua. Os exploradores são duas naves que atingiram todas as metas planejadas para elas, superaram de muito longe suas expectativas de vida, e se adaptaram a novas expectativas evoluindo tecnologicamente. E realmente, 36 anos após seus lançamentos, e 31 após completarem suas missões primárias, Voyager 1 e Voyager 2 continuam a audaciosamente ir onde ninguém jamais esteve”.

Recentemente a Voyager 2 repetiu o feito de sua irmã e também entrou no espaço interestelar. Então são nossas duas primeiras naves estelares!

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 Credit line: Profimedia, Sciencephoto RF – Voyager spacecraft, artwork. As duas Voyager  (Voyager 1 and Voyager 2) foram lançadas em 1977. 

Uma coisa que no futuro pode tornar possíveis as viagens interestelares é outro conceito de Star Trek, o gerador de antimatéria. Basicamente funciona com a aniquilação mútua entre matéria e antimatéria, a reação mais eficiente que conhecemos. Os leitores devem saber que a matéria que conhecemos, ou seja, nós, os objetos que usamos no dia a dia, o planeta, etc, é composto por átomos, e estes por partículas elementares. Os prótons, com carga positiva, são reunidos no núcleo atômico e “colados” pelos nêutrons, partículas sem carga elétrica. Os elétrons, por sua vez, com carga negativa, orbitam ao redor do núcleo.

Essa noção do átomo como um sistema solar em miniatura, por sinal, já foi superada, pois é tudo muito mais estranho do que isso, e mesmo tais partículas são formadas por outras ainda mais elementares, os quarks.

Podem pesquisar a respeito, a Internet está aí para isso, combinado?

A antimatéria, por sua vez, é basicamente a mesma coisa com sinais trocados. Os nêutrons seguram no núcleo os antiprótons com carga negativa, e os pósitrons com carga positiva orbitam ao redor. Os astrofísicos ainda não sabem por que nosso Universo é formado principalmente de matéria, e os estudos sobre isso prosseguem. Aqui na Terra a produção de antimatéria é feita em aceleradores de partículas, mas a natureza produz antimatéria. O exemplo dado pelo blog da Unicamp é o de uma banana, em que isótopos radioativos de potássio emitem um antipróton, em média, a cada 75 minutos.

Mas não, não podemos ficar esperando para apanhar essa partícula. Em pouquíssimo tempo ela encontra um próton e ambos se aniquilam, sobrando somente radiação. Nos aceleradores de partículas, em média, a cada 10.000 colisões de prótons é produzido um antipróton. Por isso a antimatéria é extremamente cara, com um preço estimado de 24 trilhões de reais por grama! Vai demorar um pouco até encher o tanque da Enterprise… O blog da Unicamp conta mais , clique aqui e confira.

Por cima, armazenar a antimatéria também é difícil, pois não dá para encher uma garrafa com ela sem que aconteça uma reação e tudo seja aniquilado (e provavelmente a energia resultante iria vaporizar toda a vizinhança). Usa-se para as minúsculas quantidades atuais fortes campos magnéticos. O processo, claro, tem sido desenvolvido, e diante das inegáveis vantagens em termos de produção de energia, certamente será uma tecnologia que será muito desenvolvida nas próximas décadas.

Jornada nas Estrelas, assim, é o futuro possível caso decidamos utilizar um pouco de lógica. Em 1966 seguramente nossos celulares e tablets atuais pareceriam coisa de ficção, assim como computadores que cabem em uma mochila. Já temos dispositivos vestíveis de comunicação e informação, a medicina e sua avançada pesquisa genética está no caminho de resolver graves problemas de saúde, e a base de dados da Federação é evidentemente uma antecipação da Internet.

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Quando Star Trek The Next Generation era transmitida na década de 1980, tablets, mesas sensíveis ao toque, eram coisas de ficção e gente louca.

Os avanços científicos e tecnológicos inspirados por nossas queridas franquias de ficção científica têm sido assombrosos, e ocorrido de forma cada vez mais acelerada nos últimos anos. O gênero, assim, continua a apontar o caminho do futuro possível, e nos resta torcer e cobrar para que o avanço na ética e na defesa das liberdades individuais siga paralelamente ao desenvolvimento da ciência e da tecnologia. Também nisso nossos queridos filmes e séries nos alertam, e se você é fã de verdade, sem dúvida também entende que deve defender esses valores.

Até a próxima!

Renato Azevedo é engenheiro e escritor. Saiba mais sobre ele nos links abaixo:

Especial | A tecnologia de Star Trek e Star Wars – Final 7Escritor com R – Blog oficial

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