É comum na indústria da música, artistas regravarem seus próprios álbuns como vem fazendo Taylor Swift. Mas regravar o álbum inteiro de outro artista… é uma aventura um pouco arriscada. Mas para Manu Gavassi, depois do BBB, parece que ela topa tudo. Devo confessar que fiquei com receio, pois como gosto da voz rebelde de Rita Lee, fiquei na dúvida se iria gostar da versão da dona de “Clichê Adolescente”, mas me surpreendeu. Foi uma surpresa interessante e emocionante.
Fomos convidados para participar da coletiva ”Acústico MTV: Manu Gavassi Canta Fruto Proibido” na última sexta-feira, 27. A nova edição do Acústico MTV é uma grande homenagem à Rita Lee e ao álbum gravado por ela em 1975. Manu contou que cresceu ouvindo Rita, pois seus pais eram fãs, mas que a redescobriu quando a artista lançou sua autobiografia.
Durante a coletiva, Manu revela que um dos fatores que a levou a regravar o álbum de 1975 foram algumas das coincidências que compartilha com Rita, como ambas são paulistanas, capricornianas e também porque a ex-BBB se reconhece em “Fruto Proibido”. Além de ter sido um trabalho feito quando Rita tinha entre 28 e 29 anos, é um projeto que traz um pouco das inquietações, da dor e da doçura de ser uma jovem mulher chegando aos 30. Coincidência ou não, Manu está nessa fase.
Eu acho a Rita muito inquieta como artista e isso me inspira muito”, comentou Manu. “Quando recebi o convite, soube que era o momento certo de homenagear essa mulher que eu amo tanto. Fiquei muito honrada de poder fazer isso, da Rita ter se sentido lisonjeada. É um projeto que eu nem acredito que fiz.”

Um fato interessante é que ela comentou que o show recebeu a bênção da cantora veterana e vai ser apresentado também em espetáculos pelo Brasil em breve. Além disso, não é a primeira vez que as duas trocam figurinhas. Assim que saiu do BBB, Manu recebeu um áudio de Rita Lee que foi a primeira a ver o vídeo de sua música autoral “Gracinha”, também presente no Acústico.
Ouvimos o show disponibilizado para a imprensa e durante o bate-papo, Manu falou dos desafios de cantar o repertório que compõe “Fruto Proibido” e de como decidiu cantar nos mesmos tons do álbum original. Nas músicas, atingiu o que chamou de liberdade vocal, pois cantou em tons que não estava acostumada, o que, segundo ela, a fez crescer muito como artista.
BBB e Covid-19… é preciso recalcular a rota
A conversa com a cantora, atriz, roteirista, influencer digital e mais mil e uma utilidades, rendeu bastante. Além de falar da experiência de participar do Acústico MTV, ela fala sobre o BBB, carreira e um pouco sobre a vida. Ela contou que logo após sair do reality da TV Globo, o sentimento de insegurança que ela tinha a acompanhou após sua saída e foi um desafio superar, pois atingiu sua vida profissional. No entanto, ela contou como conseguiu se sentir autoconfiante durante o período pandêmico. “Foi um caos, um furacão que acho que estou saindo só agora. Ilesa, por um milagre”, descreve a cantora.
Ela conta que em meio às dúvidas que rondavam sua cabeça, além da fase pandêmica parecer não ser algo passageiro, ela decidiu ficar um tempo longe dos holofotes e sumiu das redes sociais por nove meses. Para ela, esse tempo serviu para se organizar, recalcular a rota e criar novos projetos. Daí surgiu “Gracinha”, álbum visual lançado em novembro de 2021. “Foi o que me deu a calma de fazer um grande projeto”.
Fruto Proibido

É engraçado como o tempo passa e algumas coisas conseguem envelhecer bem. E não seria diferente com o álbum “Fruto Proibido” que ganha edição especial pela Universal Music. A reedição tem vinil rosa e toda a arte original, com direito a capa dupla e tudo. O disco, que chegou às lojas em abril de 1975, partiu de um convite de João Araújo para que Rita fizesse sua música sem qualquer intervenção.
Olhando o visual da capa é inimaginável o trabalho que Rita Lee teve para conseguir o seu espaço num cenário altamente masculino e machista. Ver uma mulher cantando Rock n´Roll, buscando a sua própria independência e liberdade é inspirador assim como a história desse projeto que surgiu da parceria entre Rita e o seu grupo de apoio, Tutti Frutti. Ambos já vinham descontentes com a interferência da gravadora em seu trabalho anterior, “Atrás do Porto tem uma cidade”, LP de 1974.

Logo, Rita Lee & Tutti Frutti, embarcaram na missão de fazer um trabalho como quisessem. A ruiva fez a direção musical em uma casa emprestada, à beira da represa de Ibiúna, onde morou por alguns meses com os integrantes da banda – e com suas duas cobras – para os ensaios. E o inglês Andy Mills, ex-técnico de som de Alice Cooper, também morava com eles e pilotou a produção do disco. A gravação foi no estúdio Eldorado, na rua Major Quedinho, centro de São Paulo. Bacana, né?
Foi um resultado surpreendente, pois o álbum “Fruto Proibido” foi um divisor de águas não só para eles que produziram, mas para quem fazia música na época, para as produtoras e para os ouvintes. Naquele tempo, o rock bebiam de uma vibe mais progressiva, porém, Rita trouxe uma pegada mais glam com uma mistura de blues e rock clássico e toda essa mescla flertava com guitarras, violões acústicos e com uma pitada de sintetizador.
O álbum de 1975 é um clássico que fez e faz história. Rita Lee limpou o caminho para que muitas outras que vieram depois dela pudessem fazer Rock da maneira que quisessem. E naquela época, muito machista precisou engolir um álbum com capa cor de rosa porque Rita Lee mostrou que para fazer um bom rock é preciso ter “culhões”. “Quem falou que não pode ser?/ Não, não, não/ Eu não sei por quê/ Eu posso tudo, tudo”. – Pirataria.
Serviço:
“Acústico MTV: Manu Gavassi canta Fruto Proibido” estreia no dia 02 de fevereiro no Paramount+. Na MTV, a partir das 20h20.