O musical “Além do Ar” vai além da história sobre Santos Dumont

A peça de teatro “Além do Ar – Um musical inspirado em Santos Dumont” estreou na última sexta-feira, 13, em São Paulo (SP), em comemoração aos 150 anos do nascimento do pai da aviação. A produção nacional pode ser vista por todos os públicos e ficará em cartaz até o dia 29 de fevereiro.

Fomos convidados para a coletiva de imprensa do espetáculo “Além do Ar – Um Musical inspirado em Santos Dumont“, que aconteceu na quinta-feira, 19, no Teatro Opus Frei Caneca. Logo após a coletiva, tivemos a oportunidade de conferir a peça na íntegra. Podemos dizer que foi maravilhoso. Foi uma sessão especial para convidados e bastante gente compareceu para prestigiar não só o elenco encabeçado por Cássio Scapin, mas a produção técnica, os produtores e criadores da obra baseada nos altos e baixos do pai da aviação.

O musical "Além do Ar" vai além da história sobre Santos Dumont 1
Além do Ar – Um musical inspirado em Santos Dumont — Foto: Caio Galucci

De forma equilibrada e delicada, a peça passeia pelos momentos mais importantes da vida de Dumont. Inicialmente, somos apresentados à versão mais velha dele, interpretado pelo ator Cássio Scapin que, depois de ser diagnosticado com esclerose múltipla, através de suas cartas, revisita a sua infância e sua juventude cercada de criações e invenções inimagináveis. Com 15 canções originais, a peça fala da importância da realização dos sonhos, da perseverança, de superar as próprias limitações e acreditar que sempre é possível.

A estrutura do espetáculo não é linear, porém, o texto está tão amarradinho que conseguimos compreender tudo sem dificuldade. Além disso, a trama abordada flui tão bem que não sentimos a hora passar. Durante a coletiva, o diretor cênico Thiago Gimenes falou sobre a construção e de como foi a integração com as canções para que o efeito de equilíbrio fosse algo orgânico e natural.  Segundo ele, foi feita uma rica pesquisa, pois a peça retrata não só acontecimentos do Brasil de 1910, mas a época da Belle Époque na França. Ele reforça que tudo é conversado cena a cena e entendendo dentro da interpretação dos atores, pois por se tratar de uma peça autoral tem a possibilidade de costurar a música e o  texto no corpo dos atores. “Fica muito mais orgânico e a história é contada de uma maneira que a música avance e não que a gente pare para assistir a música”, comenta Gimenes.

A autora do texto, Fernanda Maia comenta sobre o que poderia ser contado sobre Santos Dumont que foi uma pessoa com diversas camadas. Um dos aspectos ressaltados por ela foi a fragilidade de Dumont, pois gera uma identificação por parte do público que reconhece nele os sentimentos de perda, de angústia, e etc. Para ela, as pessoas não se identificam apenas com os grandes feitos por ele, mas pela fragilidade. Percebemos não só pela fala dela, mas pelo desenrolar da peça que o personagem é bem humanizado. Não vemos só as criações e o sucesso dele, mas vemos também os momentos tristes que ele enfrentou, o descrédito das pessoas. Uma das cenas mais legais é quando o pai dele o incentiva a estudar física, química e mecânica. Outra cena igualmente interessante é quando ele não acerta de primeira e o pai o encoraja a tentar novamente.

“Se esse personagem sendo tão frágil fez tudo o que fez, por que que eu não posso? Eu também posso.” – Fernanda Maia

Como qualquer outra pessoa, a morte faz parte da nossa realidade. É a única certeza que temos, tudo que nasce, um dia morre. E as cenas que retratam a morte de algum personagem, seja do pai ou da irmã que faleceu de febre tifóide, são passagens com um contexto triste, mas as cenas em si, não são pesadas e foram pensadas para não chocar de modo negativo o público. Uma das curiosidades era saber como os idealizadores do espetáculo retratariam a morte de Dumont.

Nota: Em São Paulo, no dia 23 de julho de 1932, Santos Dumont, suicidou-se, aos 59 anos. De acordo com os médicos legistas Roberto Catunda e Ângelo Esmolari, que assinaram seu atestado de óbito, registraram a morte como ataque cardíaco. Entretanto, as camareiras que acharam o corpo relataram que ele havia se enforcado com a gravata. Porém, de acordo com Henrique Lins de Barros, por muito tempo foi proibido falar que ele havia se suicidado e que a ideia de que ele se matou devido ao uso militar do avião seria uma lenda do período getulista, enquanto o governo procurava mitificá-lo; porém, o suicídio poderia derrubar isso. O jornalista Edmar Morel revelou publicamente a causa da morte como suicídio em 1944.
*Disque 188 oferece apoio emocional e prevenção ao suicídio*

O momento foi retratado com muita delicadeza, até por se tratar de um suicidio e por parte do público ser composto por crianças e jovens, foi muito bem construído. A Fernanda ainda comentou que esse foi um ponto que os fez pensar em conduzir o momento no palco com muito cuidado. O texto em si, está bem trabalhado. Vemos coesão e coerência no que foi retratado de forma rica e delicada.

Para interpretar o protagonista foram escolhidos quatro atores, em diferentes idades, que indicam cada fase vivida pelo inventor como passado, presente e futuro de forma pontual e como mencionado anteriormente de forma não linear.  O ator Cássio Scapin, que deu vida ao personagem pela primeira vez em uma série de televisão, retoma o papel do inventor e assume a fase adulta, que vive os altos e baixos até o fim dos seus dias. O ator Mateus Ribeiro assume a fase jovem do aeronauta. Com um timing perfeito para a comédia, ele comenta que o maior desafio que ele enfrentou ao interpretar Santos Dumont foi deixar a comédia de lado e ser mais sério e centrado. Já na fase infantil vemos duas representações, a mais novinha foi interpretada pelo fofo Felipe Prestes que dá a vida ao lado curioso e sonhador de Dumont. E Henrique Oliveira também na fase infantil, porém, com um pouco mais de idade, dá início à fase inventiva e de constante aprendizado de Dumont.

O musical "Além do Ar" vai além da história sobre Santos Dumont 2
Os atores Mateus Ribeiro, Felipe Prestes e Henrique Oliveira e Cássio Scapin — Foto: Caio Galucci

Em “Além do Ar” um detalhe curioso e muito interessante é que cada fase tem uma identificação de acordo com o ator que representa um momento cronológico do aeronauta. Por exemplo, o ator Cássio Scapin, que assume a fase adulta, é identificada como ‘Ressignificação’, marcada pelos questionamentos sobre sua criação frente à situação política da época. Já o ator Mateus Ribeiro, ganhador do prêmio Bibi Ferreira, representa uma fase antes, a da ‘Realização’ no auge dos seus 20 e poucos anos, enquanto os atores Felipe Prestes e Henrique Oliveira, alunos da Fundação Lia Maria Aguiar, retratam a infância nas fases ‘Experimentação’ e ‘Descoberta’, respectivamente, guiadas pelo espírito sonhador, corajoso e confiante daquele que, de alguma forma, se esqueceu de mantê-lo vivo ao fim da vida.

Texto, música, elenco, iluminação e sonoplastia estavam impecáveis. Porém, algo que elevou a minha experiência – não só como crítica, mas como espectadora -, foram os balões feitos com bambu, os pássaros e os dirigíveis numa versão tridimensional. Estava tudo lindo e a produção foi tão rica, delicada, comprometida que alguns desses balões circulavam pela plateia, a fumaça para simbolizar as nuvens no céu também foi reproduzida na plateia e foi lindo. Uma experiência emocionante. Os idealizadores foram tão criativos que fizeram com que eu me sentisse uma criança novamente. Mas é no final do espetáculo que surge o grandioso 14 Bis. Foi lindo.

O espetáculo tem duração de 90 minutos que retratam as glórias e as tragédias da vida de Santos Dumont. Diagnosticado de forma precoce com esclerose múltipla que limitavam seus movimentos dos braços e mãos, o impediram de voar. A queda de um hidroavião que sobrevoava o Rio de Janeiro em sua homenagem deixou 14 mortos, tragédia que o fez se isolar. Ao saber que sua criação estava sendo usada na Primeira Guerra Mundial para matar pessoas, o deixou muito triste. Sofrendo de depressão, teve um final trágico.

Além do Ar” é produzido pela Fundação Lia Maria Aguiar em comemoração aos seus 15 anos de atuação. Além de produzir espetáculos, a Fundação, com sede em Campos do Jordão, proporciona a crianças e jovens de baixa renda, a oportunidade de despertar para a arte, de descobrirem seus talentos e também serem descobertos e transformados. Outro grande projeto da FLMA está chegando: o Museu do Automóvel Fundação Maria Aguiar , que trará uma nova frente de cultura e educação, através da preservação de um legado histórico.

SERVIÇO

Local: Teatro Opus Frei Caneca, Shopping Frei Caneca

Tel.: (11) 99882-8442

Horários: Sexta às 20h, Sábado às 16h e às 20h e Domingo às 16h

Classificação: Livre

Duração: 90 min

Valor: R$ 40,00 a R$ 150,00

Vendas: https://uhuu.com/evento/sp/sao-paulo/alem-do-ar-musical-inspirado-em-santos-dumont-11063

Artigos Relacionados

Comentários

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por Favor insira seu nome aqui

Instagram

Bombando

Mais vistos da semana

Siga Nossas Redes

Tem conteúdo exclusivo por lá
6,825FãsCurtir
2,986SeguidoresSeguir
4,049SeguidoresSeguir

Receba as novidades

Fique por dentro de todas as novidades do site em primeira mão!

Recentes

Conteúdo fresquinho

Thunder Stage

Tudo sobre roteiro
pt_BRPT_BR
Thunder Wave-Filmes, Séries, Quadrinhos, Livros e Games Thunder Wave