Houve um tempo em que falar sobre cinema nacional era sinônimo do Pornochanchada. E se fosse um pouco mais além, apenas Trapalhões. Eram poucos filmes que realmente chamavam a atenção do público brasileiro e que ganhavam repercussão internacional. Lógico que relevar o cinema brasileiro apenas a estes dois tópicos é um desmerecimento.
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Mas era assim que o público via. De qualquer forma, a dramaturgia sempre foi forte no país, com seus folhetins famosos e que levavam um pouco mais do Brasil para fora. E com o passar dos anos, nosso audivisual foi ficando mais forte, onde até mesmo exportamos alguns diretores, roteiristas e atores famosos.
Um dos grandes responsáveis por todo esse sucesso são as Film Comissions, que trabalham nos bastidores para que as produções possam trabalhar da melhor forma, além de ajudar na divulgação de cidades que muitos nem ao menos podiam conhecer. Este é um trabalho árduo, e se você não conhece, é a hora de saber mais.

Confira abaixo a entrevista exclusiva com o diretor executivo da Fundação Cultural de João Pessoa (Funjope), Marcus Alves, que explicou um pouco mais a respeito das Film Commissions no Brasil, suas responsabilidades, características, a ajuda que desempenha para as produções, entre outros assuntos.
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1. Qual o objetivo de uma Film Commission?
Uma film commission tem por objetivo principal organizar a atividade audiovisual em uma localidade, fazendo com que o produtor procure apenas um órgão que resolva para ele todas as pendências com o setor público, como diversas autorizações de filmagem e aluguel de espaços públicos. Outra missão comum, é a atração de produções de outras localidades para o território de atuação de uma film commission.
2. As Film Commission podem ser caracterizadas como instituições públicas ou privadas?
São todas públicas no mundo inteiro, com exceção da Los Angeles Film Commission que é uma concessão para a iniciativa privada.
3. Como é montada uma Film Commission?
Existem muitas formas, mas todas elas começam com uma vontade política, pelo lado do público, e engajamento do setor, pelo lado privado.
4. As pessoas que trabalham em uma Film Commission podem ser remuneradas?
Claro que sim. É um emprego como outro qualquer.
5. Quem trabalha em uma FC, pode também trabalhar em outras produtoras ou estar atrelado a alguma produção de onde ela é responsável? Por exemplo: Um roteirista pertence a uma Film Commission de uma cidade A e nesta cidade é gravado um filme dele, é permitido?
Desde que não haja nenhum conflito de interesses, vedação legal, em tese, poderia. Mas digamos que cada caso é um caso, pois seria diferente, se porventura, envolver recursos financeiros. Mas, em princípio, uma film commission está apenas prestando um serviço público.
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6. A quem as Film Commission respondem?
Depende de como elas foram criadas. No Brasil normalmente respondem às secretarias ou fundações de cultura, sejam elas municipais ou estaduais.
7. Qual a diferença entre as Film Commission brasileiras e as internacionais?
As diferenças entre elas não se dão de acordo com a nacionalidade, mas os serviços oferecidos podem ser diferentes, mesmo dentro do mesmo país. Mas é possível ressaltar que nos EUA por exemplo, são as film commissions que fazem os editais de incentivo ao audiovisual. Tanto o estado da Califórnia, quanto o de Nova Iorque, despejam, anualmente, cada uma, 500 milhões de dólares (2,5 bilhões de Reais) no mercado audiovisual, exclusivamente para as produções feitas nos estados.
8. As Film Commission brasileiras podem trabalhar com outras nacionais e internacionais? Como isso funciona?
Não só podem como devem. O trabalho é feito analisando as oportunidades de cada localidade e estabelecendo um termo de parceria, o que já foi feito por exemplo entre a João Pessoa e a São Paulo Film Commission.
9. Qual o papel das Film Commission no audiovisual brasileiro atualmente?
Cada film commission tem um papel dentro do seu próprio território de atuação. Essa pergunta requer uma análise ampla feita em diálogo com todas as film commissions em atuação no Brasil. O que se pode afirmar, de maneira geral, é que onde existe film commission, o setor está mais organizado e maduro.
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10. Como as Film Commission negociam que as produções do audiovisual possam chegar aos seus estados ou cidades?
Para esta finalidade cada film commission pode desenvolver uma forma de atração que vai desde de catálogos de empresas, profissionais do setor e locações, até incentivos financeiros, conhecidos como cash rebate.
11. Quais problemas que as Film Commission enfrentam atualmente?
A resposta aqui precisa envolver muitos atores para ser dada com mais precisão, no entanto é possível observar que muitas no Brasil não foram para frente pela falta de continuidade dentro da esfera pública, estando muito dependentes de gestores de diferentes espectros ideológicos.
12. Qual trabalho que eventos como a ExpoCine desenvolvem para futuros acordos entre as Film Commission e produtoras?
A Expocine abre uma janela generosa para que film commissions possam oferecer seus serviços para produtores de todo Brasil. É em espaços como este que as relações e futuros acordos se desenvolvem.
13. Qual tipo de conteúdo vocês irão levar para a Expocine 2022?
A João Pessoa Film Commission faz sua estreia no mercado nacional na Expocine 2022 e vai divulgar os nossos serviços para produtores de todo o Brasil que lá estarão. Somos uma film commission do Brasil que oferece apoio de segurança pública para todas as locações em equipamentos municipais. Além disso, João Pessoa ainda é uma pérola pouco explorada no audiovisual nacional e estaremos expondo as locações maravilhosas que a cidade oferece. Como gostamos de dizer: João Pessoa, cidade de cinema.