Na última semana, após a liberação dos dois primeiros episódios da série O Senhor dos Anéis – Os Anéis de Poder, choveram críticas pesadas, negativas e até mesmo injustas com a obra produzida pela Amazon Studios. Parte do público não reclamou sobre a qualidade da produção, em vários portais noticiosos vemos que o que não agradou alguns fãs é o protagonismo feminino e a diversidade racial dos personagens da adaptação, visando prejudicar a média de aprovação da série em agregadores de crítica como o Metacritic e o Rotten Tomatoes. Porém, a série é maior do que as críticas negativas e segue dando um show não só pelos efeitos visuais belíssimos, mas pela atuação do elenco que até o momento não deixou a desejar em nenhum momento.
Bem-vindo à Númenor!

Depois de apresentar os mistérios a serem descobertos e grande parte dos personagens que acompanharemos no decorrer da série, a trama do terceiro episódio ganha continuidade a partir de três personagens importantes: Galadriel (Morfydd Clark), Arondir (Ismael Cruz Córdova) e Nori (Markella Kavenagh). A partir dessas três perspectivas diferentes, que lideram partes do enredo para que o público conheça um pouco mais de seus pressentimentos, tristezas e motivações.
O terceiro episódio é esplêndido e muito assustador. A produção realmente fez um belo trabalho com a representação dos Orcs e toda a vibe maléfica é sentida do começo ao fim e isso é resultado de um final bem preparado do segundo episódio que nos entrega uma sequência caprichada na casa da Browyn com o ataque do Orc vindo dos túneis, até o núcleo de Arondir neste episódio. Se a caracterização foi um dos quesitos elogiados na crítica anterior, aqui, se faz novamente presente. A série consegue segurar tanto os momentos de grandiosidade, de luz, quanto os momento sombrios e isso pode ser notado entre as passagens de cena, pois a ameaça maligna não se faz presente só com a atuação dos Orcs em tela, mas pela simbologia como nas cenas em que a luz do sol queima as criaturas malignas.
Ponto positivo para a atuação dos atores intérpretes dos Orcs, pois a repulsa que eles conseguem transmitir ao telespectador é de arrepiar. Lembrando que a violência – as sequências são bem interessantes pelo modo como foram coreografadas e bem executadas -, com exceção da luta de Halbrand – que não deixa de ser uma boa sequência, mas a questão é que a história dele é outra e vemos que a produção apela para imagens de sangue direcionado para a câmera e o foco especificamente é em quebra de ossos. Mesmo assim, gerou impacto.

Em Os Anéis de Poder, o acerto da trama neste exato momento é agir com “profundidade” e não apenas com a “superficialidade”. Como assim? Simples, os Orcs não são meras representações numéricas de um exército e sim, a personificação maligna e ameaçadora existente do mal, eles tem rosto, atitudes, agem por interesse por algo/causa e a sequência em que os Elfos tentam escapar do túnel é um belo exemplo de como a representação tridimensional das criaturas é algo assertivo. Vemos que a falta de esperança no semblante de Arondir que perde seus companheiros tentando fugir é realmente um trabalho deslumbrante que evidencia a destruição deixada pelos Orcs por onde passam. A sensação de adrenalina, de perigo iminente é um traço forte neste episódio. Desde o primeiro episódio, já temos essa sensação de que algo sombrio está para se revelar e se intensifica mais ainda com as suspeitas de Galadriel.
Como já era de se esperar, o terceiro episódio, Adar, consegue caminhar melhor em termos narrativos. Os episódios 01 e 02 são introdutórios e servem mais como base para os acontecimentos mais intensos da trama. Mesmo assim, salienta-se que por se tratar de uma adaptação que bebe dos escritos de Tolkien, por abordar mitologia e tal, a obra da Amazon se assemelha – estruturalmente – com a obra Game of Thrones, devido as tramas paralelas que são narradas em vários locais dentro do universo de GoT. Isso chama atenção e nos faz prestar atenção em algo que passa despercebido, o coração do episódio 03 são os mapas.
Isso mesmo, no episódio Adar de O Senhor dos Anéis: Os Anéis de Poder, os mapas são a chave que revelam os planos, dão as pistas e indicam os destinos que nos fazem conhecer um pouco mais da Terra-Média, e até mesmo além dela, para o reino da ilha de Númenor. Para quem curte a obra de Tolkien, já era esperado que a protagonista Galadriel e Halbrand (Charlie Vickers) chegassem lá e isso acontece, pois após serem resgatados em alto mar pelo capitão Elendill (Lloyd Owen), pai de Eärien (Ema Horvath) e de um jovem marinheiro chamado Isildur (Maxim Baldry), um rapaz com sonhos maiores. Outro detalhe importantíssimo, um outro mapa também faz parte da narrativa que envolve o círculo de Nori, que está determinada a ajudar o Estranho (Daniel Weyman) antes da migração dos Pés-Peludos, que se torna um desafio para a sua família, já que seu pai machucou o pé no episódio anterior.

A estrutura adotada na montagem nos mostra que são esses três núcleos, Galadriel, Arondir e Nori, abordados neste episódio. Ainda temos outros núcleos importantes como o grupo de refugiados liderados por Bronwyn e seu filho Theo e Elrond e os anões. O fato da produção ter abordado os três primeiros citados é importante para fazer com que o público possa respirar, pois seria muita informação acontecendo. Além disso, há mais espaço para o desenvolvimento de outros personagens como Halbrand ou capitão Elendill que parece ser uma peça importante na jornada de Galadriel.
Outro destaque desse núcleo que merece uma menção é Míriel (Cynthia Addai-Robinson), a Rainha-Regente de Númenor. Mesmo com pouco tempo de tela, podemos esperar mais acontecimentos envolvendo a rainha que serão significativos para o desenrolar dos principais eventos da Segunda Era. Não poderíamos esquecer dos pés-peludos, a pergunta que não é respondida por nada nesse mundo é: Quem é o homem que caiu do céu? Infelizmente, o núcleo de Nori não acontece nada de novo e por mais uma semana seremos cozidos em banho-maria na expectativa de sabermos quem é o estranho. Aliás, um outro acontecimento é deixado pela conclusão do episódio e podemos esperar mais revelações futuras.
Ao assistir Os Anéis de Poder, o telespectador pode pensar que está assistindo a um programa de turismo, pois enquanto as tramas são desenvolvidas, a direção busca ressaltar os cenários e a estética da obra – um trabalho primoroso -, principalmente em Númenor. Apesar disso, a série peca por ainda dar explicações além do que realmente é necessário com textos expositivos demais e isso gera um atraso para a obra. O maior questionamento é saber quando a aventura vai de fato acontecer, pois não é necessário o roteiro ser tão expositivo, as descobertas precisam acontecer, pois um design belíssimo e um elenco competente não dão conta do trabalho sozinhos.
Concluindo, o terceiro episódio de Os Anéis de Poder continua explorando as belíssimas paisagens da Terra-média para contar uma história rica em detalhes. Sem partir para a ação de fato, sabemos que serão tempos sombrios e as suspeitas de Galadriel estão começando a fazer sentido. A tensão maligna é inevitável quando os Orcs estão presentes e o que gera curiosidade é se Adar é Sauron… porém, prefiro que o vilão ainda tenha sua identidade não revelada. Afinal, é muito cedo para a série revelar o personagem que causa tanto temor só de escutar o nome. O terceiro episódio assim como seus antecessores, possui erros, mas também acertou em alguns detalhes, principalmente, no que diz respeito à ansiedade pelos próximos acontecimentos da Segunda Era durante essa intrigante jornada.